Ser Artista é um desafio..um grande desafio. Mas em Portugal é quase tudo um desafio: ser professor, empresário, agricultor e, talvez também, político.
Falo na primeira pessoa e posso dizer que diariamente devo pôr-me em discussão para reinventar a minha vida. Como artistas não temos ordenados, férias pagas ou subsídios de natal e tanto menos podemos adoecer porque ninguém entende que também os artistas são pessoas como as outras e, se não vamos trabalhar por doença, não recebemos.
Mas eu, como milhares de outros artistas, DEVEMOS viver assim, livres de imposições e horários livres de obrigações com o chefe ou o cliente. Se não for assim como poderemos criar? Como podemos oferecer ao público a beleza e as sonoridades tanto aclamadas? Como poderíamos ser parte desta humanidade que sofre e duvida sem poder dar algo para sonhar e respirar liberdades?
Mas o ponto que queria tocar hoje é mais pratico e por isto tomo como exemplo uma jovem que gostava de ser artista e que se sente bloqueada pela sociedade em que vive. Ela faz parte daquelas pessoas que gostavam de por na tela as suas duvidas e suas angústias e mostrar aos outros o que ela vê ao seu redor através do seu olhar.
Ela investiu anos a aprender e a realizar: antes cópias e depois obras suas e devo dizer que está a ir na direção correta com uma entrega especial e isto me lembra uma ilustração:
“Havia um salmão que estava no mar, lindo e feliz de nadar nas aguas transparentes junto com outros salmões mas começou a sentir algo dentro dele que o empurrava para uma direção difícil e tortuosa. Ali começa o seu caminho para a borda do mar e depois sobe um rio. Aguas rasas, cascatas, ursos, pescadores e aguias todos a espera dele ..mas o peixe continua a nadar até chegar ao destino exausto, mas feliz. Agora imaginem que não houvesse agua… seria impossível ele subir o rio apesar das grandes dificuldades”.
O mesmo se passa com os artistas, sobretudo jovens, que querem viver da própria criatividade. As galerias? Não ajudam e às vezes atrapalham mesmo. As associações? Nem pensar. O poder local? Poucas vezes e sem continuidade. Então como fazer?
A única possibilidade é sensibilizar as pessoas a apoiar a criatividade local, os nossos artistas emergentes, pedir ao poder local para investir neles , às galerias para apostarem em algum criativo e que nas associações haja menos contradições mas sim unidades de objetivos.
Alexandra Pires, de Abrantes, está a expor na agência do INATEL em Santarém obras suas, do seu sangue e do seu suor, até dia 11 de dezembro, com óleos e desenhos.
Vamos apoiá-la e tentemos mudar o nosso pensamento por algo de mais pratico e que seja um sinal de proximidade.
Um bem-haja a todos os jovens artistas!