A situação dura há vários meses e estará ligada a camiões carregados de uma matéria fertilizante que começou a ser descarregada no terreno de um particular no Balancho, aldeia vizinha de Vale de Horta, ao ritmo de quatro camiões por dia, segundo os habitantes. O problema mais visível não será o do fertilizante mas do seu cheiro incomodativo. É que quando o vento sopra no sentido da aldeia de Vale de Horta esta é invadida por um cheiro insuportável e que os cerca de 150 habitantes dizem parecer a “animais mortos” ou um “cheiro a fossa”.
Fernanda Piedade, que encontrámos na sua horta, fala-nos de uma aldeia verdejante e com muita água, atravessada por uma nascente, para se mostrar preocupada com as questões ambientais que os ditos fertilizantes podem causar na água e nas hortofrutícolas, para além de um cheiro que, apesar da covid lhe ter diminuído as capacidades sensoriais, afirma que “não se pode”.

ÁUDIO | FERNANDA PIEDADE, HABITANTE EM VALE DE HORTA:
“Isto tem dias que é um cheiro que não se pode. Parece a bichos mortos. E isto vem dos camiões que aí passam carregados de um estrume malcheiroso que vai para o Balancho”, afirma, dando conta de um odor “muito desagradável” e que se “entranha” nas casas e nas roupas. Fernanda, que veio de Almada para o mundo rural e para as suas raízes familiares, reclama por intervenção das entidades responsáveis e diz que os habitantes da aldeia estão “desprezados” e “esquecidos”, lembrando também o problema de acesso à internet. “Só se lembram de nós quando é para pagar”, lamenta.

Na estrada que atravessa a aldeia encontramos Domingas Nobre e Maria Duarte a conduzir a sua viatura, depois de um dia de trabalho. Solicitadas para uma palavra, de pronto encostam o carro e já sabiam ao que o jornalista ia: “olhe, isto é um cheiro horrível, estamos sempre de portas e janelas fechadas. É um cheiro incomodativo e insuportável, parece um cheiro a fossas e que não sai da roupa”.

ÁUDIO | DOMINGAS NOBRE E MARIA DUARTE, RESIDENTES NA ALDEIA:
Domingas, que vive na aldeia há 52 anos, diz que o problema já aconteceu noutros anos, mas que desta vez tem sido o pior de todos, pela intensidade e pelo tempo. “Há dias que não se pode, depende do vento”.
Maria Duarte, que reside na aldeia de Vale de Horta há 40 anos, apela a “que alguém responsável pelo ambiente que faça alguma coisa. Esta aldeia é quase biológica e estar a respirar este cheiro a fossas”…
Contactado pelo mediotejo.net, o presidente da Junta de Freguesia de Bemposta, Manuel João Alves, afirmou partilhar da preocupação da população, tendo assegurado que alertou as entidades competentes e que as mesmas estão a acompanhar a situação de perto.

ÁUDIO | MANUEL JOÃO ALVES, PRESIDENTE JF BEMPOSTA:
“Isto decorre há vários meses, com quatro camiões por dia a transportar e descarregar toneladas de um fertilizante que dizem ser lamas de ETAR e outros produtos com tratamento. Temos de confirmar e perceber se os materiais ali depositados estão em conformidade e se não há efetivamente perigo para as populações além do mau cheiro, sendo que há aqui também questões ambientais e outras a acautelar, como seja a proteção dos lençóis freáticos e as próprias estradas que estão a ceder, pela passagem dos camiões”, disse o autarca.
“Garantiram-nos que é tudo legal mas penso que as autoridades competentes é que devem acompanhar e pronunciar-se”, notou Manuel João Alves, tendo referido que “já houve uma inspeção” ao local e o presidente da Câmara {de Abrantes] já alertou a Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Manuel Jorge Valamatos confirmou ao nosso jornal que a APA está a acompanhar o processo e que aguarda pelos desenvolvimentos.