“Dixieland” é um termo que remete para um determinado estilo de jazz, o jazz mais tradicional, ou old jazz, nascido nos anos 20 em Nova Orleães, EUA. Em Minde, concelho de Alcanena, os Xaral’s Dixie procuram desde 2009 fazer carreira neste estilo musical com pouca tradição em Portugal, tendo já participado em vários festivais de renome, como em Durhan (Inglaterra). Entro os dias 19 e 21 de maio terão por fim a sua grande oportunidade: a banda vai integrar o 47º Festival Internacional de Dixieland em Dresden, na Alemanha, o maior evento do género na Europa, que reúne anualmente cerca de 500 mil pessoas. São a única banda portuguesa no programa e a segundo a ter a oportunidade de participar em quase meio século de existência do evento.
De Minde para o mundo, são nove estes músicos do concelho de Alcanena e de Santarém que se conheciam há vários anos e resolveram em 2009 criar uma banda com um estilo menos óbvio, no impulso criado pela realização do Festival Jazz Minde. O “dixieland” uniu assim António Crachat (trombone), Duarte Fonseca (bateria), Gilberto Rosa (sousafone), Gonçalo Frade (saxofone barítono), Jaime Gomes (saxofone soprano), João Faria (voz), Nuno Simões (voz e saxofone tenor), Pedro Félix (trompete) e Samuel Louro (banjo) e tem-nos levado a percorrer alguns festivais de Portugal e na Europa, num misto entre o jazz e a música de rua.
Assim nos relata Pedro Félix, representante dos Xaral’s Dixie e presidente da recente associação Improviso Divergente, que os integra. O nome da banda é em tudo minderico: “xaral” significa “pessoas” neste dialeto de Minde, pelo que o grupo se intitula como “pessoas do dixieland”. Um estilo de jazz tradicional, das origens da sua formação enquanto estilo musical em Nova Orleães, com um ritmo vibrante e alegre, unindo vários instrumentos de sopro e percussão.

“Foi basicamente um grupo de amigos que gostava de música” e que estava ligado à música através de outras associações, que se juntou num projeto conjunto, explica Pedro Félix. Em 2009 “o dixieland em Portugal não estava muito desenvolvido”, constata, existindo na época quatro a cinco bandas do género. Nos últimos anos, explica, a situação tem mudado, com o aparecimento de mais bandas dixie. “Deve-se ao estilo alegre”, argumenta, sem constrangimentos, que impele ao movimento do corpo. “É uma música de rua, também fazemos palco, mas a essência é a música de rua”, explica.
O estilo menos usual permitiu-lhe fazer rapidamente um percurso nacional e internacional, com festivais de renome no currículo: Rock in Rio 2012, Festival do Crato em 2011 e 2013, Bons Sons em 2015, Festival Maré de Agosto em 2013 e 2016 e uma participação, em três anos consecutivos, no Brass Festival, em Durham, na zona de Newcastle, o maior festival de música de rua na Europa. “Em Portugal não há muito a tradição de música de rua, mas existe na Europa”, constata Pedro Félix.
Para chegarem a Inglaterra passaram por um penoso percurso para conseguir organizar a logística e os recursos necessários à participação. Os Festivais fazem currículo, mas nem sempre vêm acompanhados de compensações financeiras. Mas “este é o maior festival de música de rua da Europa, onde temos as melhores bandas de rua, escolhidas com um critério apertado”, salienta. Por tal, não tem dúvidas em constatar que foi a presença em Durham em 2015, 2016 e novamente no programa para julho de 2017 que lhes abriu as portas para Dresden.
“Já andamos a tentar ir há oito anos e agora chegou a altura de darmos cartas”, frisa. Na Alemanha o estilo é efetivamente o dixieland e a banda de Minde terá finalmente a hipótese, de 19 a 21 de maio, de mostrar todo o seu potencial a nível internacional. “Em 47 anos deste festival, somos a segunda banda portuguesa a ser convidada a participar”, salienta com orgulho. A “expetativa é muito alta, até porque a organização pode não ter a noção da nossa qualidade enquanto performance mas temos a certeza que vamos deixar uma boa imagem do que se faz em Portugal e do nosso concelho”, refere.
Apostar num Festival Internacional de Música de Rua na região
“Somos um grupo amador que fazemos isto pelo gosto”, começa Pedro Félix quando questionamos sobre o financiamento. A banda tem uma média de 25/30 espetáculos por ano, desde festivais a eventos particulares, e é assim que se vai financiando. Todos os elementos têm inclusive uma carreira profissional paralela, que vai desde o ensino à área da saúde. No entanto, a possibilidade de participar no maior festival dixieland do mundo, em Nova Orleães, ficou de fora este ano, apesar do convite, precisamente pela falta de meios.
“Estes festivais apenas nos dão o privilégio de participar neles”, admite Pedro Félix. “Daí nós precisarmos tanto do apoio camarário, assim como de algumas empresas que queiram juntar-se a este projeto”, admite.
Até porque a banda tem outros projetos, ambiciosos, que gostaria de poder implementar na região. Um deles foi fundado em 2016, a associação Improviso Divergente, que tem por objetivo divulgar novos projetos culturais de Alcanena e da região. Até ao momento integra apenas os Xaral’s Dixie, mas pretende agrupar mais bandas, interessadas em promover-se. “Estamos abertos a outros grupos que procuram apoio logístico ou de produção”, referiu.

Outro objetivo desta associação é vir a dinamizar o seu próprio Festival Internacional de Música de Rua, que percorreria a região envolvente ao concelho de Alcanena. O modelo seria semelhante ao que encontraram a nível europeu: reunir bandas e realizar diferentes iniciativas pelas ruas e instituições de vários concelhos, terminando com um grande desfile. “Portugal não tem nenhum festival deste tipo. Queríamos abrir os horizontes e fazer uma maior aposta nestas bandas de rua”, explica.
A ideia já está em movimento e os olhares voltam-se para 2018. São necessárias parcerias com os municípios, relata, nomeadamente os que envolvem Alcanena, como Ourém, Torres Novas ou o Entroncamento. “Havendo uma aposta na parte pedagógica, onde os grupos iriam às escolas mostrar os seus projetos, tocar com os alunos e também animar as ruas das localidades”, adianta.
“A região tem a ganhar a nível de visitantes. Se a divulgação for bem feita certamente que teremos muita gente que se irá deslocar a estes municípios para assistir à atuação destes grupos”, defende. Para os municípios, esta proposta deve ser encarada como uma aposta na cultura fora do que habitualmente se encontra nas suas agendas e de animação das próprias localidades, continua. São “estas dinâmicas que vamos aprendendo lá fora e que queremos trazer cá para dentro”.
Os Xaral’s Dixie não têm agente e fazem a sua própria divulgação. Tudo nasceu da própria “persistência, muito investimento em material discográfico, em instrumentos musicais” e todos os mecanismos de promoção. “É tudo da nossa autoria e das nossas despesas”, salienta.
Têm dois álbuns e pretendem lançar o próximo até ao fim do ano.