A banda de Minde Xaral's Dixie. Foto: Xaral's Dixie

A Banda Xaral’s Dixie comemora este sábado, dia 23 de março, o seu 10º aniversário no Jardim Carrascal, em Minde, Alcanena, a partir às 16:00. Para assinalar a festa de 10 anos da banda de Minde, haverá um concerto com “Xaral’s Dixie & Friends” e um outro com os “Desbundixie”. A festa do ‘old jazz’ é garantida. As entradas são livres. A iniciativa é da associação Improviso Divergente, com os apoios da Câmara Municipal de Alcanena e da Junta de Freguesia de Minde.

“Dixieland” é um termo que remete para um determinado estilo de jazz, o jazz mais tradicional, ou old jazz, nascido nos anos 20 em Nova Orleães, EUA. Em Minde, concelho de Alcanena, os Xaral’s Dixie procuram desde 2009 fazer carreira neste estilo musical com pouca tradição em Portugal, tendo já participado em vários festivais de renome, como em Durhan (Inglaterra), ou, em maio de 2017, na Alemanha, onde a banda integrou o 47º Festival Internacional de Dixieland em Dresden, o maior evento do género na Europa, e que reúne anualmente cerca de 500 mil pessoas.

Foto: mediotejo.net

De Minde para o mundo, são nove estes músicos do concelho de Alcanena e de Santarém que se conheciam há vários anos e resolveram em 2009 criar uma banda com um estilo menos óbvio, no impulso criado pela realização do Festival Jazz Minde. O “dixieland” uniu assim António Crachat (trombone), Duarte Fonseca (bateria), Gilberto Rosa (sousafone), Gonçalo Frade (saxofone barítono), Jaime Gomes (saxofone soprano), João Faria (voz), Nuno Simões (voz e saxofone tenor), Pedro Félix (trompete) e Samuel Louro (banjo) e tem-nos levado a percorrer alguns festivais de Portugal e na Europa, num misto entre o jazz e a música de rua.

Assim nos relata Pedro Félix, representante dos Xaral’s Dixie e presidente da associação Improviso Divergente, que os integra. O nome da banda é em tudo minderico: “xaral” significa “pessoas” neste dialeto de Minde, pelo que o grupo se intitula como “pessoas do dixieland”. Um estilo de jazz tradicional, das origens da sua formação enquanto estilo musical em Nova Orleães, com um ritmo vibrante e alegre, unindo vários instrumentos de sopro e percussão.

A banda realiza os seus ensaios num espaço privado em Minde, Alcanena. Foto: Xaral’s Dixie

“Foi basicamente um grupo de amigos que gostava de música” e que estava ligado à música através de outras associações, que se juntou num projeto conjunto, explica Pedro Félix. Em 2009 “o dixieland em Portugal não estava muito desenvolvido”, constata, existindo na época quatro a cinco bandas do género. Nos últimos anos, explica, a situação tem mudado, com o aparecimento de mais bandas dixie. “Deve-se ao estilo alegre”, argumenta, sem constrangimentos, que impele ao movimento do corpo. “É uma música de rua, também fazemos palco, mas a essência é a música de rua”, explica.

O estilo menos usual permitiu-lhe fazer rapidamente um percurso nacional e internacional, com festivais de renome no currículo: Rock in Rio 2012, Festival do Crato em 2011 e 2013, Bons Sons em 2015, Festival Maré de Agosto em 2013 e 2016 e uma participação, em três anos consecutivos, no Brass Festival, em Durham, na zona de Newcastle, o maior festival de música de rua na Europa, ou em Dresden, Alemanha, entre outros. “Em Portugal não há muito a tradição de música de rua, mas existe na Europa”, constata Pedro Félix.

Para chegarem a Inglaterra passaram por um penoso percurso para conseguir organizar a logística e os recursos necessários à participação. Os Festivais fazem currículo, mas nem sempre vêm acompanhados de compensações financeiras. Mas “este é o maior festival de música de rua da Europa, onde temos as melhores bandas de rua, escolhidas com um critério apertado”, salienta. Por tal, não tem dúvidas em constatar que foi a presença em Durham em 2015, 2016 e novamente no programa para julho de 2017 que lhes abriu as portas para Dresden, uma das suas maiores ambições, entretanto já realizada.

Apostar num Festival Internacional de Música de Rua na região

“Somos um grupo amador que fazemos isto pelo gosto”, começa Pedro Félix quando questionamos sobre o financiamento. A banda tem uma média de 25/30 espetáculos por ano, desde festivais a eventos particulares, e é assim que se vai financiando. Todos os elementos têm inclusive uma carreira profissional paralela, que vai desde o ensino à área da saúde. No entanto, a possibilidade de participar no maior festival dixieland do mundo, em Nova Orleães, ficou de fora no ano 2017, apesar do convite, precisamente pela falta de meios.

“Estes festivais apenas nos dão o privilégio de participar neles”, admite Pedro Félix. “Daí nós precisarmos tanto do apoio camarário, assim como de algumas empresas que queiram juntar-se a este projeto”, admite.

Até porque a banda tem outros projetos, ambiciosos, que gostaria de poder implementar na região. Um deles foi fundado em 2016, a associação Improviso Divergente, que tem por objetivo divulgar novos projetos culturais de Alcanena e da região. Até ao momento integra apenas os Xaral’s Dixie, mas pretende agrupar mais bandas, interessadas em promover-se. “Estamos abertos a outros grupos que procuram apoio logístico ou de produção”, referiu.

Pedro Félix é o representante da banda e presidente da associação que a integra, a Improviso Divergente. O objetivo desta associação é lançar um Festival Internacional de Música de Rua a partir de Minde. Foto: Xaral’s Dixie

Outro objetivo desta associação é vir a dinamizar o seu próprio Festival Internacional de Música de Rua, que percorreria a região envolvente ao concelho de Alcanena. O modelo seria semelhante ao que encontraram a nível europeu: reunir bandas e realizar diferentes iniciativas pelas ruas e instituições de vários concelhos, terminando com um grande desfile. “Portugal não tem nenhum festival deste tipo. Queríamos abrir os horizontes e fazer uma maior aposta nestas bandas de rua”, explica.

Os Xaral’s Dixie não têm agente e fazem a sua própria divulgação. Tudo nasceu da própria “persistência, muito investimento em material discográfico, em instrumentos musicais” e todos os mecanismos de promoção. “É tudo da nossa autoria e das nossas despesas”, salienta.

*Publicada em maio de 2017, editada e republicada em março de 2019

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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