Num encontro marcado para a Biblioteca Municipal, a Tertúlia de mulheres empreendedoras atriu curiosas e curiosos. Foto: mediotejo.net

A Câmara Municipal de Alcanena, juntamente com o CLDS 3G, tornou a promover neste 8 de março, quarta-feira, uma tertúlia dedicada às empreendedoras do concelho, no âmbito do Dia da Mulher. Desde a morte de operárias nos EUA num incêndio de uma fábrica em 1857 às declarações recentes do eurodeputado polaco Janusz Korwin-Mikke sobre a inferioridade da mulher, lembrou-se no conjunto da discussão que ainda há muito que lutar pela igualdade de género e que os homens têm que integrar esse processo.

Mães, avós, júris de Festas, autarcas, voluntárias, membros de comissões constituídas só por mulheres, empreendedoras. A Tertúlia deste ano em Alcanena trouxe testemunhos de todas as freguesias do concelho de mulheres ativas no seio das suas comunidades.

Carla Baptista (dirt.) lembrou um caso pessoal em que quase não conseguiu um posto de trabalho por ser mulher. Foto: mediotejo.net

Uma das intervenções mais marcantes foi a de Alzira Bento, da Academia Sénior, que lembrou o seu tempo de jovem e do papel subalterno e discriminatório em que era colocada a mulher antes de 25 de abril de 1974. A mãe, lembrou, foi ela própria uma lutadora, tendo sido perseguida pela PIDE.

Ao mediotejo.net, Alzira Bento explicou um pouco mais esta sua história. A mãe chamava-se Esmeralda Bento e foi uma forte ativista política na sua época, havendo um grande arquivo sobre si na Torre do Tombo escrito pela PIDE. “Fizeram tudo para a prender”, lembrou, mas acabaria por não viver essa experiência. Esse espírito de luta e intervenção passou-o à filha, que nos encontros de poesia que se realizam uma vez por mês na Biblioteca de Alcanena procura sempre trazer temas a discussão.

Desde esses tempos de ditadura, a Mulher mudou imenso, reconheceu. “É muita diferença, é abismal. A vida da mulher, a participação, que é algo essencial. Não podíamos ter participação em nada”, recordou a idosa.”Foi a liberdade que adquirimos no 25 de abril” que mudou completamente a vida da mulher, constatou.

Durante a Tertúlia foram ouvidos testemunhos diversificados, de mulheres em cargos de chefia até a voluntárias em instituições sociais, ou com um papel ativo na sua comunidade. Lina Louro foi júri na Comissão de Festas do Espinheiro e, durante um ano, focou a sua energia na organização de um leque extenso de atividades, desde noites de Fado a passeios de canoa no Tejo, que envolvessem o mais possível a comunidade. A sua participação foi de tal forma intensa que, admitiu, já lhe pediram para tornar a chefiar a Comissão de Festas.

Ao mediotejo.net garantiria que ainda vale a pena celebrar o Dia da Mulher. “É uma forma de chamar a atenção de que ainda não está tudo feito”, referiu, destacando as diferenças significativas que ainda persistem nos salários em relação aos homens.

Outra intervenção que marcou a sessão foi a da autarca Carla Baptista, que integra o executivo da junta de freguesia da Serra de Santo António, e a primeira mulher, lembrou, a assumir estas funções naquela autarquia. A responsável, que é também gestora, recordou as declarações recentes do eurodeputado polaco Janusz Korwin-Mikke (defendeu que as “mulheres devem ganhar menos do que os homens porque são mais fracas e menos inteligentes”) para frisar que “homens e mulheres são igualmente fortes, igualmente grandes, igualmente inteligentes”.

Poucos homens assistiram à Tertúlia. Necessidade de não os esquecer no processo de afirmação da mulher foi mencionada de forma alegre pela vice-presidente, Maria João Gomez. Foto: mediotejo.net

A encerrar a Tertúlia, a vice-presidente da Câmara de Alcanena, Maria João Gomez, salientou a “sensibilidade” da mulher e a sua capacidade de chegar a várias áreas. Lembrando a faceta da maternidade, referiria que “temos a particularidade de formar não só mulheres como homens”. “Perfeito é o equilíbrio, é a partilha, é o companheirismo”, defenderia.

 

Cláudia Gameiro

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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