Joaquim Pereira Henriques, 96 anos, primeiro presidente de Alcanena eleito depois do 25 de abril, apresentou no domingo, 27 de maio, o primeiro volume do seu livro de crónicas “Alcanena!… Assim és… – Retratos da Vida de Alcanena (1987-1996)”.
A obra reúne textos publicados no jornal O Alviela, que focam pessoas da época e temas da época, alguns dos quais mantêm-se atuais no concelho. Joaquim Pereira Henriques ocupou a cadeira da presidência no salão nobre durante o lançamento, lembrando-se que “uma vez presidente, sempre presidente”.
Joaquim Pereira Henriques foi presidente da Câmara de Alcanena em dois mandatos, 1976-1980 e 1983-1986, tendo também exercido um mandato como vereador, representando o Partido Socialista. Após deixar as lides autárquicas começou a escrever uma coluna no jornal O Alviela, que manteve durante vários anos. Os textos estão agora disponíveis em livro, um primeiro volume, com edição da Câmara Municipal de Alcanena.
A apresentação encheu o salão nobre dos Paços do Concelho, com a atual presidente da Câmara, Fernanda Asseiceira, a ceder a sua habitual cadeira ao ex-autarca.
“Este momento é seu, é a si dedicado”, frisou. “Como é do conhecimento geral tenho pelo Joaquim Pereira Henriques uma grande admiração (…) e respeito. Isto na política não é fácil existir”, comentou, descrevendo o ex-presidente como “um sobrevivente e um resistente”.
Fernanda Asseiceira escreveu o texto introdutório do livro, o qual leu para o público, frisando que “uma vez presidente, sempre presidente”.
“Ao fim de 20 anos alguns textos mantêm a atualidade”, constatou, referindo que Joaquim Pereira Henriques recorda pessoas, intervenções, obras que se concretizaram na época no município e a temática da poluição, que continua a ser um problema presente. “É interessante ver o tempo em que foi escrito e o tempo em que nos encontramos. Estamos num tempo de reabilitação do património degradado”, salientou.
“Tenho uma grande estima pelos presidentes e autarcas”, referiu Fernanda Asseiceira, salientando que os presidentes em particular “representam instituições” e o “desrespeito pelas instituições tem levado a sociedade” por caminhos não muito positivos.
“Quando estamos nestes lugares procuramos fazer o melhor”, afirmou, não negando que a corrupção se encontra presente em todo o lado. “Mas quem está nos lugares de forma séria” não se deixará afetar, afirmando o seu compromisso de seriedade para com a instituição que representa.
Joaquim Pereira Henriques pegaria nesta abordagem sobre as dificuldades da presidência para reconhecer que esta é um desafio.
Fernanda Asseiceira “frisou que ser-se presidente da Câmara é difícil, e é! E ela já apanhou as estradas alcatroadas”, referiu Joaquim Henriques, lembrando que coube à sua geração criar todas as infraestruturas de água e saneamento que então eram inexistentes.
“Encontrei o concelho desorganizado, porque durante dois anos o concelho dormiu”, recordou, referindo que quando havia reuniões as pessoas se perdiam a apontar o dedo às convicções ideológicas de cada um. “Agarrei e fiz o que pude”.

“Depois da minha família e dos meus amigos, o que me toca no coração é Alcanena”, afirmou, lembrando ainda a luta, em 1986, pela despoluição do Alviela. Terminaria com uma nota de humildade: “Estou velho, às vezes os velhos não sabem o que dizem”.
A mesma humildade foi frisada por Silvestre Pereira, presidente da Assembleia Municipal de Alcanena. “O poder não lhe subiu à cabeça”, salientou, comentando que “os cargos vão, as pessoas ficam” e estas “devem ser homenageadas em vida”.