Adultos, jovens e até alguns bebés acorreram ao auditório do Centro Ciência Viva do Alviela na noite de sexta-feira, 22, onde a cientista, com raízes em Alcanena, Elvira Fortunato foi apresentar o seu trabalho na área dos ecrãs transparentes. Pioneira neste tipo de investigação, criadora dos transístores de papel, a investigadora tem concretizado uma revolução “à portuguesa” em setores que vão dos ecrãs transparentes à eletrónica de papel, passando por uma conjugação das duas: o papel transparente.

Elvira Fortunato, 51 anos, dirige o Centro de Investigação de Materiais (CENIMAT) da Faculdade de ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, tendo-se destacado em 2008 ao receber uma bolsa europeia de 2,5 milhões de euros, o valor mais alto atribuído a um cientista português. Em Alcanena apresentou várias das suas investigações e as suas potencialidades, que investem em materiais de baixo custo e amigos do ambiente, capazes de mudar áreas elementares do quotidiano, como testes médicos em papel ou embalagens alimentares que indicam quando o seu conteúdo se encontra estragado.

Mas comecemos pelos ecrãs, título da conferência. Enrolar um ecrã de TV e levá-lo para qualquer lado pode ser em breve uma realidade. Elvira Fortunato dá o exemplo do filme de 2002 “Minority Report”, salientando que são necessários Júlios Verne e Stevens Spielberg para que certas tecnologias possam ser pensadas e desenvolvidas. “Os ecrãs transparentes são hoje uma realidade” e vão ser “o grande futuro”, “porque os materiais são mais baratos e melhores para o ambiente”.

No laboratório de Elvira Fortunato criam-se transístores que podem ser colocados em qualquer tipo de superfícies, como as janelas de um carro, que permitem assim desenvolver este tipo de tecnologia. A par desta investigação, a cientista trabalha também a eletrónica de papel, que, de uma forma simples, exemplifica: e se os jornais do Harry Potter se tornassem reais?

“É preciso imaginação!” é o lema chave desta investigadora, que unindo os dois conceitos que tem vindo a trabalhar está a desenvolver experiências na área do papel transparente.  A ideia tem potencial, mas reconhece que é difícil convencer as indústrias de papel a aceitar esta nova perspetiva, inclusive quando se apresentam alternativas à celulose das árvores.

“Penso que dentro de cinco anos estas tecnologias estarão comercializáveis”, ponderou Elvira Fortunato quando questionada sobre o tempo que levarão estas investigações a chegarem ao grande público, a preços acessíveis. Interesse existe: no final da conferência, alguns estudiosos aproximaram-se e começaram a questioná-la sobre a aplicação da tecnologia em indústrias da região.

Ao mediotejo.net Elvira Fortunato revelou que os pais são da Louriceira e que era no concelho de Alcanena, nos Olhos de água, que passava as férias de criança e adquiriu o gosto pela liberdade de pensar.

Cláudia Gameiro

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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