Foi junto à Estrada Nacional 358, no Vale de Cerejeira, freguesia de Carvalhal (Abrantes), que o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) colocou esta terça-feira uma bandeira negra em alerta para os problemas ambientais e a ameaça à biodiversidade causados pela monocultura de eucaliptos.
A escolha do local para a colocação da bandeira, no município de Abrantes, dá destaque a um dos concelhos que mais sofre com a elevada pressão da eucaliptização, desde meados da década de 80 do século passado. A iniciativa integra a campanha nacional que os Os Verdes lançaram no dia 21 de março, em defesa da biodiversidade e que se enquadra nas comemorações dos 40 anos do PEV.
“Esta bandeira negra está inserida numa campanha nacional que Os Verdes estão a levar a cabo por todo o país e que é celebrada no ano em que o Partido Ecologista Os Verdes faz 40 anos de existência. Selecionámos 40 pontos negros, 40 bandeiras negras para a biodiversidade em Portugal”, explicou Francisco Madeira Lopes, membro do Conselho Nacional do PEV.
VIDEO/ENTREVISTA A FRANCISCO MADEIRA LOPES:
“Nestes 40 anos nós quisemos vir aqui recuperar esta memória (…) que, apesar de décadas se terem passado, continua a crescer, apesar da tentativa que Os Verdes fizeram na negociação, em 2018, com o Partido Socialista para travar a expansão do eucaliptal em Portugal”. O representante do PEV acrescentou que “infelizmente, o Partido Socialista acabou por rasgar esse compromisso. Já no início deste ano o PS, através dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal vai permitir o aumento exponencial da área de eucaliptal em mais de 37 000 hectares no país”.
“Através dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal [o PS] vai permitir o aumento exponencial da área de eucaliptal em mais de 37 000 hectares no país”.
“Isto significa que, em relação às metas que já estavam fixadas na Estratégia Nacional Florestal, de até 2030 não termos mais do que 812 mil hectares de eucaliptal, já à posteriori verificámos que já tínhamos ultrapassado esse valor, em 2015 já tínhamos 847 mil hectares de eucaliptal e agora, com esta aprovação do Governo, em janeiro deste ano, através dos PROF isso vai poder aumentar ainda mais”, afirmou. A região centro do país, “que já sofre tanto com os eucaliptos e com os incêndios” apresenta, de acordo com o membro do Conselho Nacional do PEV, uma “mancha que é extremamente preocupante para as pessoas e para o território que acaba por se ir despovoando com menor variedade de atividades económicas”.
No momento em que decorre a Conferência da Biodiversidade – COP15 em Montreal, Canadá, a comitiva d’Os Verdes que se deslocou a Abrantes alertou para os problemas associados. “Neste momento está a decorrer a COP 15 em Montreal, no Canadá, que é precisamente dedicada à biodiversidade, onde está a ser feito um balanço da grande perda de biodiversidade que está a ter lugar à escala planetária. Em Portugal nós temos vários problemas e Os Verdes têm estado a assinalar vários problemas”, referiu.
“Estamos a assinalar aqui o grande problema do eucaliptal e da falta de uma floresta folhosa, autóctone, multiusos, que permita outros tipos de atividade económica, que não apenas a celulose associada ao eucalipto e que para além disso, permitirá a existência de habitats que possam suportar a fauna e a flora autóctones, a biodiversidade e outras atividades económicas, que o eucaliptal infelizmente não deixa”, acrescentou Francisco Madeira Lopes.

De acordo com o PEV, aquele que é “um dos maiores flagelos que ameaça a biodiversidade no distrito de Santarém e em Portugal: a monocultura de eucaliptos”, tem implicações em diversos domínios. “Para além da pobreza que induz nos solos, da captação dos recursos hídricos, impedindo a recarga dos aquíferos, acaba por transformar zonas que deveriam ser de habitat e estamos aqui perto de uma zona (…) onde tínhamos uma floresta tradicional, uma floresta de outras potencialidades e que permitiria compatibilizar com a biodiversidade”. Para Francisco Madeira Lopes, atualmente “temos apenas um deserto, uma indústria de produção de celulose, onde as outras espécies não proliferam, onde a água também não recarga os aquíferos”.
Ao mediotejo.net, aquele que foi deputado do PEV à Assembleia da República explicou que “neste momento passámos um verão de seca, estamos com chuvas neste momento, mas muito pouco desta chuva vai usufruir, de facto, para a recarga dos aquíferos, nas zonas onde temos eucaliptais. Não só não temos solo para a infiltração, temos um solo mais pobre, como também temos uma espécie que capta muita água. É uma espécie de crescimento rápido e que depois devolve pouco ao solo, especialmente quando a exploração de eucaliptos dura muito tempo”.
A grande mancha de eucaliptos induz a que a zona sofra “frequentemente com incêndios de larga escala, incêndios que se propagam muito rapidamente e que são muito difíceis de travar. A existência de uma floresta multiusos com folhosas, também serviria para travar a progressão dos incêndios”, afirmou.
Com esta campanha os Verdes lançam “um SOS”, identificando 40 pontos negros que ameaçam a biodiversidade, a conservação e o usufruto sustentável da natureza. Os “pontos negros” são assinalados com a fixação de uma bandeira negra e com a distribuição à população de documentos de informação e sensibilização sobre os problemas em causa. Devido às condições atmosféricas que se fazem sentir à data, a ação de sensibilização não se realizou, sendo agendada para outra data.
“Esta é a bandeira negra, o ponto negro que Os Verdes querem assinalar neste sítio, (…) porque está ligado às lutas que Os Verdes tiveram no início da constituição [do partido] no distrito de Santarém, muito ligado a Abrantes e ao problema da eucaliptização, que nos anos 80 começava então a surgir”.
O membro do PEV concluiu deixando uma mensagem à população “de que uma outra floresta é preciso para um Portugal mais sustentável, quer do ponto de vista climático, quer do ponto de vista da biodiversidade”.
A comitiva do PEV regressa assim ao distrito de Santarém, depois de, a 31 de agosto, ter colocado uma bandeira negra na margem direita do Tejo, junto à Ribeira de Santarém, sinalizando a degradação ecológica do rio, agravada pela seca, e denunciando a ausência de medidas, e de, em novembro, ter realizado uma ação de contacto com a população do Cartaxo para “alertar e sensibilizar para a defesa da recuperação da Vala da Azambuja”.
O Partido Ecologista Os Verdes já havia hasteado, também em novembro, uma bandeira preta na foz do Rio Alcabrichel, para denunciar os problemas ambientais e de saúde pública no rio que atravessa o concelho de Torres Vedras, no distrito de Lisboa.
A campanha SOS Natureza, promovida pelo partido Os Verdes (PEV), esteve também em Setúbal, tendo colocado em destaque a serra da Arrábida, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a poluição das águas.