Fernando Nobre e Luís Dias na exposição 'Toda a Esperança do Mundo'

Nove reportagens do fotojornalista Alfredo Cunha e do jornalista Luís Pedro Nunes chegaram na sexta-feira, dia 11 de maio, à Biblioteca António Botto, em Abrantes, reunidas em livro, três anos depois do seu lançamento, data em que a Assistência Médica Internacional comemorou o trigésimo aniversário. Fernando Nobre veio apresentar um livro com a capacidade de tipificar a intervenção humanitária da AMI no mundo. Parte das verbas revertem para a AMI.

A história não começou esta sexta-feira, 11 de maio, quando Fernando Nobre esteve em Abrantes, mais propriamente na Biblioteca Municipal António Botto, a apresentar o livro “Toda a Esperança do Mundo”. Um trabalho a quatro mãos da autoria do fotojornalista Alfredo Cunha e do jornalista Luís Pedro Nunes para celebrar, em 2015, os 30 anos do trabalho humanitário da Assistência Médica Internacional (AMI).

O encontro dos três ocorreu há mais de 25 anos quando Luís Pedro Nunes, então jornalista do Público, acompanhou Alfredo Cunha à Roménia, um país acabado de sair do regime de Ceausescu. Foram na senda de uma equipa de voluntários da AMI. A história dessa reportagem abriu o caminho de uma outra viagem pela “geografia humana do sofrimento, da dor e da esperança” que está fotografada e contada no livro, com prefácios de Adelino Gomes, de José Manuel Barata-Feyo e de Fernando Nobre.

Luís Dias, Fernanado Nobre e Francisco Lopes durante a apresentação do livro ‘Toda a Esperança do Mundo’ na Biblioteca António Botto

A ideia foi comemorar os 30 anos da AMI com trabalhos que relatam a ação da mesma em nove zonas do mundo, “tipifica certas situações que conhecemos” e “fica um marco da instituição que fundei”, referiu o presidente da Fundação de Assistência Médica Internacional, Fernando Nobre. Por cada exemplar vendido, 2 euros revertem para a AMI. “Estive em todas elas [as reportagens] exceto na da pobreza em Portugal, onde não precisavam que os guiasse”, indicou.

Fernando Nobre contou que, em cada reportagem, Alfredo Cunha “tirava entre 12 mil a 15 mil fotografias”. Já Luís Pedro Nunes “precisava de interiorizar o lugar” antes de escrever os textos “sensíveis”. E esclarece que a AMI “não é toda a esperança do mundo” mas representa “uma esperança na solidariedade e da cidadania”. O livro assume também o papel de “um grito de rato, inaudível”, mas ainda assim “de raiva contra a indiferença”.

Exposição ‘Toda a Esperança do Mundo’ com fotografias de Alfredo Cunha

Luís Pedro Nunes e Alfredo Cunha “embarcaram numa viagem com a AMI que os levou a conhecer escravos que lutam por recuperar a dignidade nas terras áridas do Níger, habitantes dos bairros de lata do Bangladesh que tentam assegurar um futuro aos seus filhos, pescadores no Sri Lanka a quem o mesmo mar que alimenta tudo levou num tsunami apocalíptico, crianças que sobrevivem no limbo surreal do Haiti, meninas que lutam contra a tradição na Guiné-Bissau e curdos encurralados no Iraque pelo Estado Islâmico, resistindo à barbárie e à extinção. Pessoas que na AMI encontraram um porto de abrigo que lhes providencia o que mais precisam – atenção, dedicação e esperança”, pode ler-se no livro, que procura “mostrar rostos de seres humanos”.

Para o presidente da AMI “a solidariedade é o rosto de um futuro ainda possível”, apesar de Fernando Nobre considerar que “o processo em curso” referindo-se às alterações climáticas que irão “levar à transumância de milhões de pessoas” num futuro não muito longínquo. Na AMI “sentimo-nos como bombeiros sem força nas mangueiras” fez o analogismo, referindo o anúncio da agência espacial norte-americana NASA que vai terminar o programa que monitoriza o dióxido de carbono e o metano na atmosfera, atribuindo o corte à administração de Donald Trump.

“Há um senhor que para dispersar as atenções faz um twitte e vai tudo atrás. Vivemos um ambiente doentio”, opinou.

Exposição ‘Toda a Esperança do Mundo’ com fotografias de Alfredo Cunha

Apesar de delinear um cenário negro, Fernando Nobre diz que “todos nós podemos contribuir para que haja uma esperança. Haverão sempre espíritos livres, lutadores por ideais”, observou.

Durante a apresentação o fundador da AMI lembrou a sua passagem pela política, quando se candidatou à presidência da República para dizer que “ser líder é ter deveres não é ter direitos”, acrescentando que o poder coloca as pessoas em “levitação estratosférica. Deslumbram-se! O aparente poder é uma droga mortal” afirmou, sublinhando “a ignorância” dos mesmos pelos mais fracos e desprotegidos.

A conversa realizou-se com o vereador da Câmara Municipal de Abrantes com o pelouro da Cultura, Luís Dias, e o responsável pelo espaço, Francisco Lopes.

Fernando Nobre autografa um livro

As fotografias de Alfredo Cunha são ainda as imagens que servem de base para a exposição com o mesmo nome do livro, inaugurada por Fernando Nobre e patente ao público na Biblioteca até 29 de junho. O livro, da Porto Editora, com 320 páginas e capa dura, encontra-se à venda também na Biblioteca Municipal pelo preço de 39,90 euros.

Capa do livro.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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