O jovem abrantino Duarte Assunção. Créditos. DR

Duarte Assunção tem apenas 18 anos mas foi aos 14 que agarrou o seu primeiro trabalho profissional como maquilhador. Estudou teatro musical, é apaixonado também por cinema mas não precisa de representar para por em prática a sua mensagem: “menos é mais e sem regras”. O mediotejo.net conversou com este jovem abrantino que aos 15 anos escolheu aventurar-se sozinho na capital. Com vários projetos de sucesso prepara-se para o seu terceiro ano na Modalisboa.

Lembra-se de ficar maravilhado com a transformação da mãe. Renovada, brilhava quando saía todas as manhãs após o ritual da maquilhagem. Duarte Assunção teria uns 8 anos quando se rendeu a fascínio do mundo da makeup. As cores que atraiam olhares, e não havia melhor forma de abordar as nuances dos vários tons vibrantes senão através da exploração e mais tarde da criação artística.

“A transformação. Foi isso que me abriu os olhos e tentar perceber as texturas. O que eram aqueles pós mágicos que aplicava na cara com tanta cor, que a faz sentir alguém com tanta superação. E quando a mãe não estava em casa esgravatava nos produtos e esmagava tudo”, conta ao mediotejo.net.

Duarte Assunção em trabalho. Créditos: DR

Duarte Assunção é makeup artist, atualmente considerado uma promessa do mundo da Beleza no que confere à cosmética, pela sua inovação e originalidade. Nasceu em Abrantes há 18 anos, cidade “incrível” e “onde tudo começou”, afirma. Há dois anos que integra a equipa da maquilhadora Antónia Rosa na ModaLisboa, uma das responsáveis pela imagem das modelos.

Duarte (ou Du para os amigos) defende que a maquilhagem não tem regras e no seu currículo contam-se atrizes, cantores, celebridades e figuras do jet set nacional, como José Castelo-Branco, Barbara Bandeira, Alba Baptista, Yolanda Tati ou Lili Caneças.

Em 2020 segue para um terceiro ano de ModaLisboa onde não pára. “Chegamos ao meio-dia e saímos à meia noite e não paramos de maquilhar. É a correr! Temos cerca de 10 minutos para cada pessoa”, conta, confessando sentir-se em casa.

“Consigo contar e ouvir uma história e apaixonar-me por aquilo que estou a fazer. Saio da ModaLisboa de coração cheio e isso é mais forte do que o meu cansaço”, sublinha.

Em Lisboa, tirou um curso de maquilhagem com Antónia Rosa mas diz que “um bom curso começa em casa, com pesquisa. Foi assim que comecei o meu. Percebi que haviam pessoas que ganhavam dinheiro a maquilhar, que faziam disso vida. Vi vídeos na Internet, recolhi inspiração noutros maquilhadores e que os produtos iam além de sombras, batom e base”.

O makeup artist Duarte Assunção, natural de Abrantes. Créditos: DR

O seu gosto pessoal foi determinante para colocar em prática o que tinha aprendido sozinho agarrando aos 14 anos o seu primeiro trabalho profissional, certo de que ser maquilhador era aquilo que queria fazer o resto da vida. Começou por trabalhar em vários cabeleireiros de Abrantes.

Para tornar visíveis as suas criações, o sonho, que já comandava a vida, levou-o sozinho até Lisboa aos 15. “Tive de provar aos meus pais que era capaz de lidar com esta responsabilidade. Não é muito normal que um jovem no 10º ano [de escolaridade] arrisque mudar para uma cidade gigante, onde não tem família nem amigos”, observou.

A dimensão da sua vontade necessitava agora que as portas do mundo do trabalho se abrissem. “Não foi muito fácil!” confessa. Chegado de uma cidade como Abrantes “onde as pessoas se conhecem todas” sentiu “o choque de realidade um bocadinho anestesiante até me adaptar”.

Motivado, no entanto, pelo bulício da cidade grande “onde as pessoas lutavam diariamente por objetivos” e onde descobriu a existência de “pessoas que eram referências comuns a todos os maquilhadores em Portugal como dois grandes nomes: Cristina Gomes e Antónia Rosa”.

Um ano depois de estar em Lisboa, Duarte Assunção tornou-se assistente de Cristina Gomes. “Uma escola para mim. Conheci pessoas incríveis como Catarina Furtado que é uma mulher que me inspira todos os dias, no programa The Voice, e com Cristina Ferreira, na publicidade da L’Oréal”, destaca.

Duarte Assunção maquilha a cantora Blaya. Créditos: DR

Outra mulher da sua vida é então Antónia Rosa, nome maior da maquilhagem em Portugal. Em 2019 Duarte teve formação com a maquilhadora especializando-se em Moda.

“A primeira que ouvi dizer que conseguimos criar um marco na maquilhagem a partir do momento em que temos a nossa própria estética e conseguimos construir o nosso estilo. Aí marcamos a diferença e as pessoas vêm ter connosco para ter essa experiência, não apenas pela maquilhagem”, nota.

Mas Duarte vê mais além no ato de maquilhar dizendo que o seu foco está no “ajudar as pessoas” querendo passar a mensagem de que menos é mais. “Não são três quilos de maquilhagem que fazem as pessoas sentirem-se mais confiantes, pode ser um simples batom, uma simples aplicação de máscara. A maquilhagem é a maneira mais fácil que encontrei de chegar até elas e o meu meio de ajudar”.

O jovem assume-se como alguém que quer “desconstruir” as normas, “acabar com os rótulos, com o género” criando um trabalho original. Por isso, há duas semanas lançou o movimento ‘Maquilhagem, um Espaço de Liberdade’ que pretende mostrar às pessoas que para ser bonito, não há regras nem imposições, seja homem ou mulher.

“Cada vez somos mais consumidores desta área da cosmética e temos de começar a pensar simples e a valorizar-nos mais. Se pensamos que a maquilhagem nos torna completamente diferentes qualquer dia somos personagens. A maquilhagem existe para evidenciar os nossos traços”, considera.

Duarte Assunção maquilha José Castelo-Branco. Créditos: DR

Recentemente, durante o confinamento por causa da pandemia da covid-19, Duarte Assunção lançou também uma web-série sobre maquilhagem designada ‘SOS Du’ com publicação na rede social Instagram que defende precisamente esta ideia de mínimo de produtos possível, no fundo a “mensagem” que quer passar.

Curiosamente aponta o dedo ao mundo da moda como causador de problemas de autoestima: “a pele perfeita, o corpo perfeito, estrutura óssea perfeita e a perfeição não existe! Somos pessoas reais e essa verdade sem photoshop” mostra-se em vídeo no ‘SOS Du’.

O programa pretende mostrar que “não é preciso um kit com 2500 produtos para poderem estar bem e ter um look adaptável a qualquer tipo de ocasião” explica. Uma iniciativa de sucesso, com o lançamento do primeiro episódio há cerca de três semanas “e em menos de 24 horas já tinha 20 mil visualizações” no That’s Du (assim se encontra no Instagram).

Nesta fase inicial dos programas Duarte convida pessoas que marcaram a sua carreira. “Para o primeiro episódio foi convidada a atriz Angie Costa, para o segundo episódio a cantora Blaya e temos muitos mais episódios planeados”, afirma.

Os tempos de pandemia, designadamente de confinamento, classifica-os de “muito difíceis”. Quando a covid-19 chega a Portugal, Duarte terminava o ensino secundário, “no momento em que a maquilhagem passa a ser um trabalho a tempo inteiro e não um part time. Foi um grande susto, mas não fiquei à espera! Quis continuar a investir no meu conhecimento e como não podia estar com pessoas, sem eventos, sem revistas, sem cultura a ser lançada, percebi que tinha um público nas redes sociais”.

Por isso, dedicou-se a criar conteúdos online. Durante o Estado de Emergência “tive uma explosão! Passei de 7 mil seguidores para 10 mil e 600 num estalar de dedos”, conta.

O cinema e o teatro são outras paixões. Duarte Assunção estudou e subiu aos palcos do teatro musical durante três anos mas decidiu dedicar-se à maquilhagem a tempo inteiro, investindo no seu próprio estilo e na sua própria estética.

E no “novo normal” Duarte observa a publicação de revistas, de editoriais de moda, de álbuns de música “apesar da Cultura estar muito em baixo, as pessoas estão a lutar para trazer projetos novos. Sei que nos próximos três meses estarei bastante ocupado”. Inclusivamente em projetos inovadores em que atualmente trabalha, com o objetivo de ser protagonista nessa tal mudança que quer ver no mundo.

O maquilhador Duarte Assunção em trabalho. Créditos: DR

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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