Tagusvalley durante a ação de sensibilização 'A Sociedade das Competências Digitais'. (da esquerda para a direita) Paulo Ferreira, Agrupamento de Escola Conde de Ourém; Nelson Fernandes, Escola Secundária do Entroncamento; Augusto Ramos, Escola Secundária do Entroncamento; e Manuel Fernandes da Escola Secundária do Entroncamento

No âmbito da iniciativa ‘Open Doors’, a sessão ‘A Sociedade das Competências Digitais’ decorreu esta quarta-feira, 21 de novembro, no Tagusvalley, em Abrantes. O objetivo passou por sensibilizar para a importância de promover a literacia digital na Educação como uma das competências essenciais para a vida ativa do futuro. Estiveram presentes responsáveis municipais e professores dos Agrupamentos de Escolas do Médio Tejo.

A ideia passou por inspirar o Médio Tejo a desenvolver uma política Educativa que apoie a preparação de uma sociedade orientada para o futuro. “Há uma realidade que passa por nós e se não fizermos alguma coisa vamos ficar para trás”, sendo que, neste plural, insere-se a região, os alunos e a atividade económica, explicou ao mediotejo.net o diretor executivo do Tagusvalley – Parque Tecnológico do Vale do Tejo, Pedro Saraiva.

“Esta crescente digitalização, da Indústria 4.0 e tudo o que está ligado à globalização, tem impactos significativos nas nossas vidas já hoje e se os alunos não forem preparados obtendo qualificações e competências para lidar com isso, vão ter muitas dificuldades”, referiu, manifestando dúvidas se num futuro próximo terão até “acesso ao emprego”.

A iniciativa do Tagusvalley teve por isso o objetivo de sensibilizar decisores políticos e professores do Médio Tejo para a necessidade da literacia digital na Educação.

Focando a perspetiva do desenvolvimento económico da região, Pedro Saraiva sublinhou que “as empresas instaladas e as queremos atrair terão essa exigência. Vão precisar de gente que saiba dominar e interagir com estas novas tecnologias e com as questões da robótica, da automação e do digital”.

Caso contrário, defende, “irão à procura de outros locais onde essas competências existam” acentuando ainda mais a desertificações dos territórios.

Assim, a sessão ‘A Sociedade das Competências Digitais’ teve como objetivo sensibilizar para “a importância de criar uma ferramenta em cada um dos concelhos do Médio Tejo que lide com este tema com um projeto universal”, referiu, considerando “imperioso que cada escola do Médio Tejo pense e desenhe nos seus projetos educativos municipais, e trace um plano curricular que defina uma disciplina que trabalhe os temas da literacia digital, e que o faça de forma consolidada e estruturada”.

Pedro Saraiva considera que a literacia digital terá um grau de importância semelhante, por exemplo, à aprendizagem do Inglês, desenvolvendo competências nas gerações mais novas às quais as gerações anteriores não tiveram acesso.

Tagusvalley durante a ação de sensibilização ‘A Sociedade das Competências Digitais’

E são várias as áreas de programação e trabalho para incentivar ou estimular, esclarece o coordenador do Tagusvalley. “Podem trabalhar para dispositivos móveis, para programação de autómatos e robôs, podem programar páginas na web e uma imensidão de dispositivos. A ideia é que os alunos, de forma estruturada, possam fazer pequenas experiências”.

Ou seja, os alunos vão trabalhar num futuro onde a Inteligência Artificial é uma realidade, sendo urgente que as instituições de ensino se adaptem a uma nova forma de passar o conhecimento. Está na hora de avançar com medidas que minimizem as implicações da nova era, avanços que acontecem a uma velocidade exponencial.

Questionado sobre se essa velocidade não colocará o ensinado hoje em contexto escolar em risco de desatualização, daqui a 10 anos, Pedro Saraiva crê que não.

“A base do conjunto de comandos, quer seja gráfico quer de código, os princípios basilares, a forma de estruturar o pensamento computacional, a lógica que está por trás é a mesma. A complexidade é que será outra atendendo à dimensão dos desafios”, observou, defendendo a preparação dos alunos para a ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

“É ajudá-los a estruturar o pensamento. É como uma linguagem”, enfatizou.

No final do encontro o primeiro objetivo “de chamar a atenção para a importância da região olhar para este assunto” foi alcançado, considerou Pedro Saraiva. Na passagem do processo contam as conversas que o Tagusvalley mantém com as câmara municipais uma vez que será necessário ter uma estrutura para assegurar o funcionamento dos clubes de programação e robótica e das aulas.

O responsável deu conta que a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo encontra-se em fase de aquisição de ferramentas e equipamentos. “Tenho esperança que tenhamos deixado algumas sementes”, afirmou o responsável, abrindo as portas do Tagusvalley “a quem tiver interesse e vontade de criar um clube” na sua aldeia, associação, cidade ou escola.

Clube de Programação e Robótica na Escola Secundária do Entroncamento

Manuel Fernandes, um dos professores de informática presentes na sessão, leciona na Escola Secundária do Entroncamento e deu conta ao nosso jornal do Clube de Programação e Robótica que dinamiza. “O Clube existe para alunos do Agrupamento mas só aparecem alunos do secundário com linguagens de programação. Em média são 10”, explica, alguns do Curso Profissional de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos.

O Clube propõe-se passar conhecimento das tecnologias atuais a nível de hardware e software e ensinar linguagem de programação. Manuel Fernandes conta que o Clube participa em eventos de âmbito nacional e regional e trabalha essencialmente com “arduino, sensores, motores, desenvolvemos toda a cablagem e todas as placas necessárias para desenvolver os robôs e outro tipo de aplicações”, nomeadamente nas Provas de Aptidão Profissional (PAP) a nível do Curso Profissional de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos.

O intuito do Clube “é passar para os alunos o conhecimento e o gosto pelo recurso à tecnologia”, assegura o professor sem mostrar dúvidas que “os países são desenvolvidos com base na tecnologia e na ciência”.

O tempo é o maior problema destas projetos uma vez que o Clube funciona fora dos horários letivos. “Estamos nisto por carolice. Trabalhamos com os miúdos às quartas-feiras e, como ensino programação, trabalho com alguns em contexto de aula no seguimento do desenvolvimento de projetos e das PAP”, indica.

Na Escola “felizmente”, diz Manuel Fernandes, “já temos horas da componente não letiva” para o Clube funcionar. Anualmente o Clube de Programação e Robótica do Entroncamento arrecada prémios a nível nacional. “Este ano ficámos em primeiro lugar num curso nacional na área da robótica e domótica com um prémio de mil euros que vai ser gasto na aquisição de materiais”, revelou.

Tagusvalley durante a ação de sensibilização ‘A Sociedade das Competências Digitais’

O concurso nacional foi patrocinado pela Direção-Geral de Educação a que se candidataram com um vídeo sobre as atividades do Clube de Programação e Robótica da Escola Secundária do Entroncamento.

A equipa desenvolveu de raiz dois robôs, um deles, por exemplo, é capaz de “seguir uma linha preta em fundo branco, desviando-se de obstáculos, apanhar a linha quando a perde, subir uma inclinação de 45 graus e entrar numa área sem qualquer orientação, apanhar objetos e colocar num determinado espaço”, descreveu o professor. “Naturalmente, estes robôs depois são utilizados para outros fins”, complementa.

Manuel gostaria que o Ministério da Educação “disponibilizasse horas na componente letiva para trabalhar e preparar melhor os alunos. Esse seria o percurso normal da evolução das ciências”, diz, considerando o trabalho dos clubes “evidências” do seu bom funcionamento.

“O caminho é este! Se a robótica e a programação funcionasse na componente letiva poderíamos fazer com os alunos projetos mais abrangentes e mais complexos”, reforçou, dizendo que, tal como nos ensino superior, no ensino secundário, “se nos derem tempo”, é possível desenvolver “grandes projetos”.

A Direção-Geral da Educação regista cada novo ano letivo os vários clubes de programação e robótica existentes nas escolas públicas nacionais tendo sido identificados no ano letivo passado 173 clubes.

Outros professores, incluindo Nelson Fernandes e Augusto Ramos, ambos do Clube de Programação e Robótica da Escola do Entroncamento, e professores de outras escolas do Médio Tejo, como Paulo Ferreira, do Clube de Robótica do Agrupamento de Escolas Conde de Ourém bem como decisores políticos, assistiram à sessão ‘A Sociedade das Competências Digitais’.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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