Escola Dr. Manuel Fernandes, em Abrantes, durante a audição do Curso Básico de Música, final do 1º período 2018. O secretário de Estado da Educação, João Costa, durante o seu discurso no final da audição.

Os alunos do Curso Básico de Música do Agrupamento de Escolas n.º 2 de Abrantes apresentaram à comunidade a audição final do 1º período do ano letivo 2018/2019 no auditório da Escola Dr. Manuel Fernandes, na noite de terça-feira. A iniciativa contou com a presença do secretário de Estado da Educação, João Costa, que bem disposto, disse estar prestes a pedir “cidadania honorária” à cidade, tendo feito notar que “Abrantes respira Educação”.

Foram 146 os alunos no Curso Básico de Música do Ensino Artístico Especializado da Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes (ESMF), em Abrantes, que subiram ao palco para mostrar o trabalho desenvolvido na escola. Desta vez também as classes de coro passaram pelo auditório. Tal como os alunos que tocam instrumentos de orquestra, aliás a audição final do 1º período do ano letivo 2018/2019 terminou precisamente com a Orquestra Sinfónica do Liceu interpretando peças de James Swearingen, Jeremy Bell e Georges Bizet.

O final deste período, que encerra para as festividades natalícias, foi assinalado na terça-feira, 11 de dezembro, com o resultado do trabalho desenvolvido por alunos e docentes da ESMF “em dois meses e meio”, notou o diretor do Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes, Alcino Hermínio. Numa noite de bons sons, a comunidade abrantina, que lotou completamente o auditório com 300 lugares, pôde assistir a mais um momento marcante e singular proporcionado pelos seus filhos, educandos, netos, sobrinhos ou amigos que frequentam o Curso Básico de Música, já no seu quinto aniversário.

A suavidade própria da quadra natalícia reinou no repertório escolhido para apresentar ao auditório onde se encontra, desta vez, o secretário de Estado da Educação, João Costa, para escutar o talento dos miúdos que arriscaram estudar um instrumento no curso de música dirigido pelo professor José Horta e desenvolvido pelos docentes da ESMF.

Seja pela limpidez do espírito dos alunos que interpretaram as obras, seja pela escolha das peças tranquilas e até melancólicas, exceção feita a ‘Habanera’ de Georges Bizet, mas sempre harmoniosas, de compositores como Eythor Thorlaksson, João Pernambuco, B. M. Colomer, A. Dargominsky, C. Debussy ou A. Diabelli.

O programa apresentado juntou alunos desde o 5º ano de escolaridade até ao 9º ano. O desafio futuro prende-se com os alunos a transitar para o 10º ano. “Não sabemos quantos querem prosseguir e acumular por exemplo Ciências com Música, o que exigirá muito esforço da parte dos alunos, ou os que pensam ir para o Conservatório. Veremos como desenvolver o Curso no ensino secundário!”, explicou ao mediotejo.net Alcino Hermínio, que no final da audição voltou a pedir apoio, nomeadamente dos parceiros.

“Há cinco anos começamos esta aventura com muitas dificuldades mas também com muita força de vontade. Essa aventura trouxe-nos ao dia de hoje e a novos desafios que queremos enfrentar mas precisamos do apoio de todos, na área do ensino artístico. O desafio de como vamos dar continuidade no secundário a este tipo de cursos e como vamos desenvolver a mais recente aposta o Curso Básico de Dança”, referiu ainda, relativamente a um curso que este ano constituiu a sua primeira turma.

Presentemente os miúdos impressionam o secretário de Estado, João Costa, que, reconhecendo outros exemplos “felizes” de estudo das artes nas escolas portugueses, afirma que “Abrantes respira Educação” e isso deve-se “aos professores que sonham”, acrescentou, lamentando o facto da sociedade negar “o valor merecido dos professores”.

Escola Dr. Manuel Fernandes, em Abrantes, durante a audição do Curso Básico de Música, final do 1º período 2018

Lembrando um episódio recente aquando de um encontro em Lisboa sobre o futuro dos Fundos Comunitários, contou que o secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão, lhe telefonou e disse “se não arranjava um projeto para mostrar à Europa que usamos bem o dinheiro. E eu respondi, claro que arranjo: o Médio Tejo”, referindo-se a Abrantes.

Isto porque, segundo o governante, o concelho “marca pontos na Educação. É uma terra de gente sem medo, professores que não têm medo de ousar, uma Câmara que não fica à espera de perceber o que é da sua competência e avança no interesse dos alunos, e pais que não têm medo de deixar os filhos experimentar novas formas de aprender”.

Compreendendo a “preocupação de alguns pais em que os filhos sejam os melhores da turma”, desvalorizou para defender que “as sociedades avançam mais quando cooperamos do que quando competimos”, tomando o resultado da audição do Curso Básico de Música como exemplo da sua afirmação.

O secretário de Estado referiu a história atual nomeadamente a ascensão de regimes totalitários no mundo, dos refugiados a afundarem no mar Mediterrâneo e a questão de muitos sobre a utilidade da arte.

Para o secretário de Estado, “a arte não precisa de se justificar. Só somos completos se tivermos educação artística na nossa vida. Para que serve a arte? Serve para nos sentirmos bem e não é um pormenor. Quando educamos para a arte estamos a educar para a cidadania. E serve para sermos livres. Os ditadores têm medo da arte”, vincou, recordando a celebração no dia anterior da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “um documento importantíssimo que em muitos lugares do mundo está por cumprir”.

Presente na audição, a presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque, destacou as “áreas criativas” como fator distintivo na sociedade, designadamente para os desafios futuros.

“O talento é um dos ‘Ts’ que apelidamos de essenciais para uma sociedade desenvolvida. O outro é a tolerância. E aquilo que os educadores de infância, os professores, os pais e toda a comunidade educativa nos mostrou é que somos uma comunidade tolerante, que respeita os talentos e, portanto, só pode ter um futuro muito promissor”, frisou.

O discurso da autarca não passou ao lado dos problemas da escola, esclarecendo que apesar da Câmara não ter “competências neste nível de ensino” aguarda com “grande expectativa” a descentralização de competências.

“Teremos competência própria para ser parte da solução, para ajudar a criar soluções novas para os nossos problemas. Iremos ao encontro daquilo que é necessário a cada comunidade educativa”, defendeu Maria do Céu Albuquerque.

Escola Dr. Manuel Fernandes, em Abrantes, durante a audição do Curso Básico de Música, final do 1º período 2018

À margem da audição, questionado pelo mediotejo.net se, mais uma vez, havia abordado a questão da antiga residência de estudantes com o governante, Alcino Hermínio confirmou e disse que João Costa se mostrou “disponível para ajudar naquilo que depender” da secretaria de Estado da Educação.

Avançou ainda que a Parque Escolar anunciou para breve a substituição da cobertura da antiga residência de estudantes, ao lado da ESMF. O edifício é propriedade da Parque Escolar desde o início da requalificação da secundária e, segundo destacado pelo diretor e pela Associação de Pais, cuja presidente é Susana Martins, um “local de excelência para potenciar o desenvolvimento do ensino artístico” no concelho.

Alcino Hermínio garantiu que para o funcionamento da antiga residência basta “uma recuperação parcial” de modo a reverter aquele equipamento para a escola. Segundo o diretor, o edifício tem as condições ideais para as aulas de instrumento. “Os quartos da antiga residência têm as dimensões adequadas”, reforçou.

“O edifício existe, não é preciso construção, está dentro do espaço escolar e podia ser utilizado para as nossas aulas de música e de dança decorrerem ainda melhor, e com pouco dinheiro”, salientou.

O professor de música, José Horta, por sua vez, considerou que é a “cultura que marca a diferença nas cidades” tanto é assim que em Abrantes as iniciativas culturais têm cada vez mais público. “É a música, é o teatro, tudo o que se passa no âmbito cultural que marca a diferença e temos muitos exemplos no País”, destacou.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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