A solução de biomassa para a Central Termoelétrica do Pego está em cima da mesa, e conta já com interesse de um investidor privado. O anúncio partiu do presidente da Câmara Municipal de Abrantes após receber um ofício no qual o Ministério do Ambiente manifesta “ver com bons olhos” a novidade. Esta surgiu após o deputado socialista eleito por Santarém, Hugo Costa, ter questionado João Matos Fernandes.
O deputado Hugo Costa, eleito pelo Partido Socialista pelo circulo de Santarém, interpelou o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Matos Fernandes, sobre problemáticas existentes no distrito, pelas quais aquele Ministério responde e decide, designadamente sobre o processo de descarbonização da Central Termoelétrica do Pego, em Abrantes.
E tudo aponta que a solução passe pela reconversão para biomassa, segundo deu conta o presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos (PS) na terça-feira, 10 de novembro, em reunião de executivo.
O socialista Hugo Costa questionou o ministro sobre o projeto para a Central cuja produção de energia elétrica a partir de carvão mineral terminará em 2021, perguntando se a solução passa por biomassa ou hidrogénio. A interpelação decorreu durante a audição do ministro do Ambiente e da Ação Climática no âmbito da apreciação na especialidade do Orçamento do Estado para 2021, a 2 de novembro.
Em reunião de Câmara Municipal, Manuel Jorge Valamatos manifestou-se “motivado” uma vez que o ministro João Matos Fernandes considera “no âmbito do Fundo da Transição Justa, nesta zona de Abrantes, a transformação desta Central Termoelétrica com biomassa sob a forma de torrefação de sobrantes. Um projeto privado que não cabe ao sr. ministro divulgar no momento, mas é uma hipótese que está em cima da mesa e o Governo vê com bons olhos”.
Deu conta também de “várias reuniões” que a Câmara Municipal desenvolveu a nível governamental “para perceber a sensibilidade do Governo”, assegurando que a solução de biomassa “corresponde às expectativas da administração” da Central Termoelétrica do Pego. “Sabemos que administração vê como uma solução imediata e prática a reconversão da Central em biomassa sendo que a parte a gás continuará a funcionar até 2031”, nota.
Notícia que o presidente considera “excelente” para a região do Médio Tejo e para a região Centro do País, disse. “Ficamos muito otimistas sobre o futuro da Central!”, acrescentou.
Relativamente aos postos de trabalho em causa com o encerramento da produção a carvão mineral, Manuel Jorge Valamatos diz que a reconversão para biomassa “encerra em si própria a manutenção de muitos postos de trabalho e a criação de novos. Há toda uma dinâmica económica muito interessante”, concluiu.
Umas pequenas notas:
A central do Pego queima num grupo, e tem 2, cerca de 100 t de carvão por hora para produzir 314 MWh numa hora.
Então quantas toneladas de sobrantes (biomassa residual) vão ser necessárias queimar numa hora, por exemplo, para produzir 300 MWh? Tendo em conta os poderes caloríficos dos dois combustíveis chegamos à necessidade de queimar, mais de 150 toneladas de biomassa por hora. Por ano, considerando um funcionamento de 7000 horas, temos uma necessidade de: 1.070.000 toneladas.
Tendo em consideração as centrais de biomassa existentes que procuram a mesma biomassa residual, onde está a biomassa residual para a central do Pego? E a que custo de transporte, já que terá de vir de mais longe, com transporte a gasóleo? E as emissões de CO2?
Bom, ainda temos o processo de torrefacção, que, tanto quanto é do meu conhecimento, só existem instalações experimentais com capacidade entre 20 e 40 toneladas por hora, quantas unidades vão ser precisas, é só fazer as contas. E em que localizações?…
O que aconselho é que se Estudem as variáveis todas, e se faça um estudo de impacto sobre a solução do ponto de vista energético, económico, do emprego, impacto ambiental, etc.
É de citar: 2º princípio da termodinâmica, por vezes esquecido!
Óptima exposição, Sr. Valentino Barroso. Obrigado.
Antevê-se, alegadamente, queima de madeira de qualidade, alegadamente cortes dramáticos de arvoredo urbano, alegadamente quiçá incêndios, alegadamente cheiros horríveis em redor alargado da central.
A FARSA da biomassa e a competente incompetência do poder político a soldo de todos os interesses menos do ambiente.
A queima de biomassa de madeira emite tanto ou mais poluição atmosférica do que a queima de combustíveis fósseis – material particulado, óxidos de nitrogénio, monóxido de carbono, dióxido de enxofre, chumbo, mercúrio e outros poluentes perigosos do ar.
A poluição atmosférica proveniente da biomassa já foi denunciada por várias associações médicas incluindo a American Heart Association e a American Lung Association, que alertam para o perigo para a saúde pública desta opção energética, podendo aumentar o risco de doenças respiratórias, doenças cardíacas, cancro e atraso no desenvolvimento das crianças.
(…) A noção que a biomassa é uma energia neutra em CO2 (apesar de ser teoricamente renovável) é errada à partida pois a combustão de biomassa substitui as emissões de fósseis pelas suas próprias emissões (que podem até ser mais altas por unidade de energia, devido à menor relação energia/carbono da biomassa). (…)
(…) Limpar ou cortar florestas para obter energia, seja para queimar árvores diretamente em usinas de energia ou para substituir florestas por cultivos de bioenergia, tem o efeito líquido de libertar carbono para a atmosfera, que de outra forma ficaria sequestrado. (…)
Isso cria uma dívida de carbono, pode reduzir a captação contínua de carbono pela floresta e, como resultado, pode aumentar as emissões líquidas de gases de efeito estufa por um período prolongado e, assim, minar as reduções de gases de efeito estufa necessárias nas próximas décadas.”
Apesar do conceito teórico de biomassa ser positivo, na prática pode ter consequências negativas.
1. Pode levar ao aumento de desflorestação
2. perda de biodiversidade
3. diminuição da produtividade
4. aumento da erosão dos solos
5. colocar mais CO2 na atmosfera que a queima de carvão.
Talvez esta última parte seja a mais surpreendente. A Europa é, na realidade, um travesti das energias renováveis. É que as centrais de queima de biomassa produzem mais CO2 do que as centrais de combustíveis fósseis.
Os números podem chegar aos 30-50% a mais de CO2 por megawatt-hora em comparação com usinas a carvão modernas e 285% a mais de CO2 do que as usinas de ciclo combinado de gás natural. É que até o transporte da biomassa pode ter mais impacto que os combustíveis fósseis.
Traduzindo por miúdos… se eu arrancar uma árvore com 50 anos para produção de energia ou calor, tenho dois problemas. Primeiro, como a biomassa tem uma densidade energética inferior ao carvão, vai produzir mais dióxido de carbono por unidade de calor. Segundo, se outra árvore for plantada, temos que esperar décadas para absorver a mesma quantidade de CO2 que produzi com a queima da árvore antiga. Décadas para que a biomassa seja neutra em CO2. Dado que o objetivo é reduzir as emissões de carbono nas próximas décadas para limitar o aquecimento global, queimar árvores parece ser uma péssima escolha. Exceto se apenas os resíduos do desbaste das florestas, que é realizado para reduzir o risco de incêndio, forem utilizados. Habitualmente esse resíduos são queimados sem qualquer tipo de vantagem associada, no local do desbaste.
O problema é que a utilização destes resíduos dificilmente responde à demanda para a produção de energia. Como a biomassa é um material de baixa densidade energética, é necessária uma grande quantidade de material para produzir energia.
De acordo com a Partnership for Policy Integrity, uma central de 50 megawatts queima 1200 quilos de madeira verde a cada minuto. Existem algumas investigações no terreno que indicam que árvores inteiras são derrubadas para produção de energia e geralmente de uma maneira insustentável, na Indonésia, Estados Unidos, Eslováquia, Itália, Alemanha e Ilhas Canárias.
QUEREM FAZER O MESMO EM PORTUGAL? TENHAM VERGONHA
Em Países como Indonésia, Itália, China e outros, a narrativa também começou por “torrefacção de sobrantes”. Só que esses “sobrantes”, para produzirem energia, no caso de Portugal, era
preciso mais cinco Países iguais e queimarem a floresta como se faz na Amazónia. Quanto a emissões de CO2, nem é bom falar e já foi excelentemente explicitado pelos comentadores anteriores.
Como não consegui concluir acima, concluo agora: Já foi mais que provado por estudiosos na matéria, que a biomassa ainda é pior do que carvão. E em termos de produção de energia, é 0,01…Mas, talvez em Abrantes se esteja a querer seguir o conceito do economista Keynes que
sugeria ao Estado para abrir buracos e tapar buracos para provocar a demanda económica!