Projeto pioneiro em Abrantes visa a inclusão pela prática desportiva. Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

O programa municipal de “Desporto para Todos” inclui práticas de promoção da atividade física e da psicomotricidade para crianças que, por razões diversas, nem sempre encontram as respostas aos seus contextos sociais, anseios, necessidades e ao seu potencial, destaca o presidente da Câmara de Abrantes.

Manuel Jorge Valamatos descreve-o como um “projeto muito relevante”, lançado “há um par de meses”, com o objetivo de “conseguir integrar os jovens do nosso concelho, até aos 6 anos de idade e que têm uma deficiência com mais de 60% [de incapacidade]”.

Através da natação, da psicomotricidade e da hipoterapia, o município abrantino procura a promoção da igualdade de oportunidades motoras, às crianças portadoras de necessidades especiais, contribuindo assim para o seu desenvolvimento motor e cognitivo, explicou o autarca. “Através destas três áreas, os nossos jovens passam a fazer alguma atividade física o que, por sua vez, permite que estes possam avançar e até, quem sabe, enquadrar processos desportivos competitivos”, afirmou.

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Depois de uma experiência-piloto, para oito alunos identificados pelo sistema escolar, com necessidades específicas, de dezembro de 2021 até julho de 2022, tornou-se possível a estas crianças obterem apoio motor ao nível da natação, através dos professores da Escola Municipal de Natação; da psicomotricidade e da hipoterapia, com o apoio do RAME – Regimento de Apoio Militar de Emergência.

A ideia que serviu de mote para a criação do projeto é a de “olhar para as crianças, neste caso em particular, as que têm problemas de deficiência, com um grau bastante significativo e conseguir criar condições e uma estratégia de adaptar condições para que estes jovens possam fazer a sua atividade física da mesma forma que todos os outros jovens o fazem”, afirmou Manuel Jorge Valamatos.

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“A Câmara de Abrantes é transversal no que ao desporto diz respeito”, notou, por sua vez, Nuno Gomes, assessor do desporto da autarquia abrantina. “Nós temos uma oferta desportiva que atinge desde os 8 aos 88 anos, qualquer pessoa que queira praticar desporto”. O projeto iniciado em 2021 procura dar resposta a algumas das necessidades apontadas pelo município.

“Há crianças que devido a serem portadoras de uma qualquer patologia, estavam privadas de ter um desporto. Ou seja, uma criança que precisa de um trabalho individual não poderia ter natação enquadrada em grupo ou praticar qualquer desporto”, explicou Nuno Gomes.

“Nós desenvolvemos estratégias, de forma a poder dar resposta a este tipo de crianças, residentes [ou estudantes] no nosso concelho”. Assim surgiu o “Abrantes Desporto Inclusivo”, deu nota. Em dezembro de 2021 arrancou a fase de teste piloto com crianças referenciadas pelo serviço municipal, onde foi procurado “criar e verificar nos relatórios o que dizia a patologia e quais eram as necessidades motoras para essa criança (…), para ver se realmente conseguíamos dar resposta”, esclareceu o assessor, acrescentando que “não queríamos fazer por fazer”.

Podem frequentar a iniciativa todas as crianças, até aos 6 anos, que tenham um grau de incapacidade igual ou superior a 60% ou, ainda, crianças com prescrição médica que, devido às suas dificuldades motoras, cognitivas, intelectuais ou outras, necessitam de um modelo de participação paralelo ou específico.

A singularidade do programa reside no facto de o trabalho ser realizado na metodologia de um para um. Todas as aulas são de acompanhamento individual, ou seja, um professor trabalha com um aluno, sendo que é responsabilidade do município de Abrantes investir na formação específica dos professores envolvidos neste Programa Municipal de Desporto para Todos.

Nuno Gomes explica que “uma criança tem natação com um professor, uma criança tem psicomotricidade com um psicomotricista e uma criança tem hipoterapia com um cavalo, um terapeuta ocupacional e com o condutor do cavalo”, o que torna o “desafio mais aliciante”.

Este é um programa sem encargos para os encarregados de educação, que se desenvolve uma a duas vezes por semana, entre os meses de setembro e julho, contando com a colaboração da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD), que dá formação aos professores envolvidos no “Abrantes Desporto Inclusivo”.

Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

O projeto que procura proporcionar o acesso a habilidades motoras específicas e direcionadas conta ainda com o apoio de instituições abrantinas, nomeadamente o CRIA (Centro de Recuperação Infantil de Abrantes), o CAPTA(Centro de apoios, psicologia e terapias de Abrantes) e a ELI (Equipa de Intervenção Local/Abrantes) que desempenha um importante papel na referenciação dos alunos sinalizados.

No início de cada ano letivo, as crianças que necessitam de apoio especializado são identificadas, de acordo com os requisitos estabelecidos, em articulação com os estabelecimentos escolares e Divisões do Conhecimento e e de Intervenção Social do Município de Abrantes. Após avaliação técnica é prestado um apoio especializado, de acordo com as necessidades identificadas.

“Nós temos procurado (…) através da própria rede educativa, dos agrupamentos escolares, das entidades gestoras dos programas educativos, do nosso serviço de desporto e em articulação com os nossos serviços de educação, encontrar e sinalizar todas as situações de jovens que tenham estas características para que possamos ter esta oferta e responder àquilo que são os interesses das nossas famílias. Para que estes jovens portadores de deficiência possam ter o mesmo enquadramento de todos os outros”, explicou Valamatos.

Os alunos do programa podem usufruir de um, dois ou dos três projetos, que decorrem em horário pós-letivo, em que se incluem fins de semana, em períodos de 45 minutos. Após o início do teste piloto, o projeto foi dado a conhecer publicamente em setembro do ano passado e neste momento integra já 7 crianças. De acordo com Nuno Gomes, o número está prestes a aumentar, contando com alunos que se encontram na fase final de integração na iniciativa.

Para o assessor do desporto, apesar da grande envolvência desportiva existente no concelho, foi criado um “programa que estava em falta, não só no nosso concelho, mas no nosso concelho conseguimos dar essa resposta”. O objetivo não é trabalhar a criança ao longo do ano, mas sim dotá-las de autonomia para que possam praticar qualquer atividade física de forma coletiva, explicou.

“Durante a fase do teste piloto, duas crianças que tiveram a hipoterapia, psicomotricidade e natação na lógica do trabalho de um para um, ganharam autonomia para praticarem uma qualquer atividade desportiva de forma coletiva. (…) Depois foram incluídas, porque os pais quiseram que eles continuassem a ter natação, em aulas de grupo”, disse Nuno Gomes.

Sob o olhar atento do município, as aulas têm continuado a decorrer e o assessor do Desporto conta que o feedback que têm recebido é comum a todos os pais.

“Nós assistimos às aulas, falamos com os professores e basicamente há um tronco comum no que os pais dizem, é que é um projeto em que dificilmente eles conseguiriam ter esta oferta, ter este momento desportivo, se não fosse a forma como nós trabalhamos”, deu nota. “Agradecem-nos, pedem-nos é que nós consigamos trabalhar para além dos 6 anos, que consigamos trabalhar mais vezes, mas isso a seu tempo”, acrescentou.

Leonor Bento, a menina sorridente que “adora mergulhar”

Chama-se Leonor Bento e completou há pouco tempo os 7 anos de idade. É uma das alunas do projeto, frequentando as aulas de psicomotricidade e de natação, proporcionadas pelo programa de desporto inclusivo da autarquia abrantina.

O mediotejo.net foi assistir à aula que decorre semanalmente aos sábados de manhã. O relógio marcava as 10h00 quando Leonor deu o primeiro mergulho, sob o olhar atento da mãe. Fátima Alves contou que a filha não vinha “nos melhores dias”. Certificando-se de que Leonor se integrava no ambiente da aula, a mãe dirigiu-se para as bancadas onde, acompanhada pela avó da menina e pela filha mais velha, assistiu à aula de Leonor, na Piscina Municipal de Abrantes.

Durante cerca de 45 minutos e sempre acompanhada pelo professor, Leonor nadou, mergulhou e brincou na piscina. As atividades aquáticas foram devidamente adequadas, para permitir o desenvolvimento da sua coordenação motora, equilíbrio e da lateralidade. No final da sessão, Leonor Bento revelou ao nosso jornal o que mais gosta de fazer na piscina – “gosto de brincar (…) e mergulhar” – disse a menina de sorriso aberto.

“[A Leonor] tem falta de mobilidade do lado direito, porque ela nasceu de 24 semanas. Teve outros problemas, foi operada ao coração, teve um AVC e derivado ao AVC, que foi do lado esquerdo, o lado direito dela ficou… não ficou inutilizado, mas no início pensavam que ela ia ficar tipo um vegetal, foi a informação que passaram para nós”, explicou a mãe. Mas “felizmente” o cenário mudou e Leonor hoje “anda, faz as coisitas dela à maneira dela e ficou com falta de mobilidade do lado direito”.

A batalha da família, que reside na Bemposta, passa agora por desenvolver competências e habilidades, de forma a permitir a autonomia da criança, para que “ela consiga fazer as coisas dela”, explicou a mãe.

No dia a dia as dificuldades vão surgindo, mas a família tenta sempre dar a volta por cima, apontou Fátima. “Hoje traz um colete vestido, por exemplo, porque é mais fácil ela mover-se e na escola não precisa de se despir, uma vez que depois ela não consegue vestir o casaco sozinha e para não pedir ajuda, ela acaba por andar o dia inteiro com ele vestido”.

Além disso, também o mobiliário escolar se constitui como uma dificuldade para Leonor. “Não há coisas adaptadas a ela, eu tive de levar um banquinho para ela por os pés, por exemplo, porque o mobiliário é para crianças do tempo, ditas normais. Ela também é normal, mas pronto, as dificuldades vão aparecendo e temos de dar a volta por cima”, sublinhou Fátima.

Carlos Marcão tem 26 anos e é professor de natação no Complexo de Piscinas de Abrantes há dois anos. Em 2022 integrou o projeto e conta que tem sido um verdadeiro “desafio”.

“Todos os dias é uma aprendizagem nova, é super enriquecedor. É aprendizagem tanto para a Leonor e outros alunos que tenho como para mim”, revelou ao mediotejo.net.

O convite para integrar o programa “Abrantes Desporto Inclusivo” surgiu da parte de Nuno Gomes, assessor do desporto da CMA, explica o professor, que teve formação específica nas áreas de intervenção. “Foi um convite feito da parte do Nuno, foi um desafio e está a superar as expectativas, está a correr lindamente”, deu conta Carlos Marcão. “Tivemos formação específica na área dos alunos com necessidades especiais, nas várias vertentes, nos alunos com autismo, alunos com hiperatividade…”, acrescentou.

A maior dificuldade é saber como o aluno vai chegar no dia da aula, explica Carlos. “Nem sempre há um padrão, uma vez vêm com mais vontade de trabalhar, outras vezes mais focados, menos focados. Eu acho que é um bocadinho por aí, perceber como é que é a dinâmica e também vai sempre acabar por condicionar a dinâmica da aula”.

O projeto “Desporto Inclusivo” tem dado frutos e são já notórias melhorias no desenvolvimento de Leonor. “Temos agora este projeto da Câmara e temos visto as melhorias dela. Ela também vai à psicomotricidade a nível do equilíbrio. Agora tem-se notado diferenças”, conta a mãe.

“A nível do equilíbrio, a nível de mais mobilidade, apesar de haver coisas que sabemos que à partida não vai adquirir como outra criança, mas já mexe mais e estamos a gostar”, acrescentou.

Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

Carlos Marcão tem acompanhando o desenvolvimento da pequena Leonor. Quanto às principais evoluções, nota uma criança cada vez mais focada. “Hoje estava a falar com a Fátima [a mãe] sobre isso após a aula e eu acho que a nível de foco noto bastante diferença. Ao início era difícil manter sempre a Leonor focada na tarefa, hoje em dia é muito mais fácil. Hoje foi a prova disso, correu super-bem”, destacou.

Quanto ao futuro, Carlos Marcão conta que os planos passam por “continuar o projeto, novos alunos, novos desafios. É um bocadinho por aí”.

Para a mãe da criança, a oportunidade de fazer parte da iniciativa “caiu do céu”, num momento em que a família desesperava por não encontrar respostas no Sistema Nacional de Saúde.

“Sinceramente não sei como é que veio, mas caiu do céu. O médico disse que ela provavelmente seria hiperativa, só que ficou em lista de espera para fazer a avaliação no Serviço Nacional de Saúde. Entretanto, como não éramos chamados, fui a pagar e foi a psicóloga que enviou os dados da Leonor para a Câmara, para alguém do projeto, e os senhores contactaram-me e aceitámos logo”, disse Fátima Alves.

Leonor Bento frequenta também a fisioterapia, realizada no Hospital de Abrantes, mas que representa um encargo financeiro elevado para a família que tem também uma filha mais velha.

“Temos de ser nós a pagar os tratamentos. Vamos à fisioterapia, tratamentos intensivos, mas são pagos (…), só que também são 45 minutos e vamos embora. São crianças que às vezes não colaboram e agora com esta parte da hiperatividade está a ser mais difícil, porque com o crescimento ela está a ficar mais irrequieta”.

Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

Pela filha, Fátima não baixa os braços, mas aponta um cenário que “está a ficar mais complicado”. “Começamos a não conseguir dar conta do recado e falo por mim, porque vou sozinha a consultas e tratamentos e é muito difícil, é cansativo. Ela não dorme, são crianças diferentes e vamo-nos adaptando, mas o cansaço também toma conta de nós”, conta a mãe, preocupada.

Num momento em que os apoios do Estado se revelam insuficientes, a ajuda prestada pela Câmara Municipal de Abrantes à família de Leonor tem sido fulcral.

“A nível de Estado não temos mais nada e esta parte da Câmara agora caiu do céu mesmo. Para nós caiu e para os outros pais também, porque não encontramos respostas no Serviço Nacional de Saúde, que à partida devia dar”, afirma. “Por muito que os profissionais se esforcem, não têm condições nos sítios, porque são crianças diferentes e as condições são diferentes”.

A mãe de Leonor conta que o “Abrantes Desporto Inclusivo” veio ajudar a colorir um cenário que, à partida, se afigurava cinzento. Agora, prestes a terminar o projeto, Fátima manifesta o desejo de que o projeto seja alargado para crianças mais velhas. “Esperemos que a Câmara de Abrantes continue este projeto para crianças de mais idade”, suspirou.

O limite de idade estipulado para os 6 anos é um fator que tem colocado vários anseios e preocupações aos pais e encarregados de educação, mas Nuno Gomes refere que este é um programa que “ainda não está fechado, é um programa (…) singular, mas nós também estamos aptos a ouvir quem nos possa ajudar a melhorar”.

Manuel Jorge Valamatos fala no “ano de consolidação deste projeto”, tendo assegurado que, “daqui para a frente, continuaremos a acompanhar estes jovens até à fase adulta, sem os largar e ir todos os anos colocando novos jovens no processo”. A ideia é que haja um “processo de acompanhamento e levar os jovens com deficiência desde o processo inicial até eventualmente à fase competitiva, se for caso disso”, concluiu o autarca.

Renato Damas, o menino de 5 anos que é “um verdadeiro guerreiro”

Telma Damas tem 32 anos e é mãe da primeira criança a integrar o projeto piloto, iniciado em 2021. Ao nosso jornal, explica que o Renato “tem uma doença genética, uma perda de genes no cromossoma 18”, fator que o leva a ter algumas patologias associadas como a epilepsia “que neste momento está controlada, não toma sequer medicação” e o autismo, o que faz com o Renato tenha “muitos comportamentos típicos de um autista”, explicou a mãe.

No futuro, a doença de Renato poderá vir a estar na origem de outros problemas, mas no momento, a criança de 5 anos está “saudável”, contou Telma. “O Renato está saudável, o problema acaba por ser neurológico, o que o limita em muitas coisas, tais como a comunicação. O Renato ainda não fala, a perceção de realidade, o comportamento…”.

Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

“Eu confesso que tenho calhado com as pessoas certas”, começou por referir a mãe, o que tem ajudado a aliviar algumas das dificuldades com que os pais de crianças com necessidades especiais se deparam no quotidiano. “Na escola são incríveis, excecionais, super-inclusão (…), acarinhado pelas crianças que entendem que ele não é igual a eles”, refere Telma.

No que diz respeito aos encargos financeiros, a família de Renato Damos tem conseguido alguns apoios por parte do Estado. A nível particular, a mãe diz que a criança teria mais oportunidades, porém representaria um acréscimo das contas ao final do mês.

“Tenho noção de que se eu fosse para particular acabava por ter mais coisas. Tinha de ter muitas mais despesas, mas teria terapias com mais frequência. Eu teria que deixar de trabalhar como muitas outras mães que nestes casos têm que deixar de trabalhar para ter disponibilidade para ir com os filhos às terapias necessárias”, disse Telma.

Foi aos 8 meses de vida que chegou o diagnóstico. Após um episódio de espasmos e uma ida à Estefânia, Renato Damas foi diagnosticado com epilepsia. “A partir daí começaram a pesquisar, à procura do que é que se passaria com o Renato”, explicou Telma.

Atualmente a frequentar o pré-escolar, Renato vai permanecer mais um ano até adquirir “competências para o ensino primário”, disse Telma. “Tem estado lá desde sempre e sempre muito acarinhado. Esforça-se cada pessoa daquela escola, desde a educadora à diretora à cozinheira, toda a equipa é fantástica. O Renato está rodeado das pessoas certas”.

As dificuldades prendem-se, sobretudo, com a comunicação. “O Renato ao não comunicar nada, torna-se muito difícil”, disse a mãe.

“É muito angustiante para uma mãe, quando tem um filho com febre e não sabe se tem dor de cabeça, se tem dor de ouvidos ou de garganta. Ele não manifesta nada do que possa estar a acontecer com ele e é difícil para mim essa parte de ele não comunicar, não diz que tem fome, não diz que tem sede”, conta Telma.

A oportunidade de integrar o projeto pioneiro da Câmara Municipal de Abrantes surgiu pelo facto de a criança já estar sinalizada. “Como o Renato já estava referenciado a nível da equipa de intervenção precoce, foi daí. Penso que tenha havido uma chamada de alguém da Câmara (…) e tudo o que haja que possa ser proveitoso eu vou e mesmo que não seja proveitoso, vamos experimentar, vamos ver no que é que dá”, afirma Telma Damas.

O Renato frequenta também a psicomotricidade e vai começar a hipoterapia pela família, uma fase “muito aguardada”. Os impactos no desenvolvimento da criança são notórios e a mãe não esconde a felicidade.

“Eu noto no Renato, então a nível da natação é onde eu noto mais. Penso que o Renato não tem bem a noção da profundidade e a nível de degraus ele fica com muito medo. Ele tem ali quase como se fosse o síndrome vertiginoso (…), porque o Renato até mesmo ao colo, ele tem de estar direito. Fica muito assustado, pensa que vai cair”, explica.

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“Na natação eu noto bastante que o facto de ele levantar as pernas e flutuar é fantástico. Jamais, o Renato quando levanta o pé do chão fica muito tenso, muito assustado e na piscina consegue-se perceber que ele relaxa”, conta a mãe.

Pela primeira vez desde o início do projeto, o Renato subiu as escadas da piscina sem qualquer tipo de apoio, um momento acompanhado pelo mediotejo.net. “O subir e descer escadas na piscina, foi hoje a primeira vez que ele subiu sem ajuda e é uma conquista enorme. Não se vê evoluções a curto prazo, com o Renato vê-se evoluções a longo prazo, mas vê-se”, disse a mãe.

“Eu acho que o Renato quis mostrar que tinha vitórias e mostrar que ele é um guerreiro, porque ele é mesmo um guerreiro. E se nós olhássemos para trás, aos 8 meses quando tudo isto começou, o cenário era muito feio e olhar para ele hoje… ele supera as expectativas todas”, afirma.

Visivelmente emocionada, Telma fala de Renato como uma criança “superinteligente” e rodeada de amor. “Ele não fala nada, mas ele é superinteligente, o Renato sabe ler. Estas coisas fazem com que acreditemos que o dia de amanhã vai ser melhor, ele vai surpreender, ele vai conseguir. Eu acho que o que move muito estas crianças é o amor e ele está cheio de amor”.

Quanto ao futuro, o caminho ainda não está traçado, mas com o Renato “é um dia de cada vez”. No entanto, Telma não esconde os anseios sobre a chegada do fim do projeto para a criança de 5 anos, prestes a completar os seis.

“Confesso que ainda não tinha pensado em nada disso, porque para mim o Renato é uma criança que tem 3 anos. O Renato vai fazer 6 anos, mas o Renato continua a ser um bebé para mim e eu ainda não me tinha apercebido que está a chegar os 6 anos e que este projeto termina”.

“Não pensei nada, nem o meu marido se apercebeu disso, não falámos de nada sequer, porque para nós o Renato precisa e seria continuamente até que ele precisasse”, acrescenta Telma. “O Renato tem uma incapacidade de 80%, não é uma incapacidade leve e, infelizmente, é grave. Acabamos por precisar muito mais tempo, mas lá na altura resolve-se, porque agora não sei”, concluiu a mãe daquela que foi a primeira criança a integrar o projeto “Abrantes Desporto Inclusivo”.

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A iniciativa é composta por três áreas de intervenção: a natação, a psicomotricidade e a hipoterapia. A natação realizada uma vez por semana, onde os alunos realizam um conjunto de atividades aquáticas adequadas e que permitem melhorar os níveis de coordenação motora, do equilíbrio e da lateralidade.

A psicomotricidade, realizada também uma vez por semana, contribuindo para que os mais novos tenham consciência e autodomínio do próprio corpo, do equilíbrio, da orientação espacial e temporal, da capacidade de comunicação e exteriorização do pensamento e da regulação das suas emoções nos diferentes contextos sociais.

O projeto integra ainda a hipoterapia, realizada na periodicidade quinzenal e que recorre aos movimentos do cavalo para a (re) educação terapêutica.

Atualmente a frequentar o Mestrado em Jornalismo na Universidade da Beira Interior. Apaixonada pelas letras e pela escrita, cedo descobri no Jornalismo a minha grande paixão.

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