Comissão de Utentes de Serviços Públicos do Concelho de Abrantes em reunião. Créditos: mediotejo.net

A Comissão de Utentes de Serviços Públicos do Concelho de Abrantes (CUSPCA) reuniu na quinta-feira, 24 de novembro, em Rossio ao Sul do Tejo, com o objetivo de definir algumas questões que considera relevantes relativas às necessidades e direitos da população do concelho e na proposta de soluções viáveis que espera apresentar à Câmara Municipal de Abrantes no próximo dia 5 de dezembro.

Desde logo, o número de utentes que, segundo o ACES do Médio Tejo, não têm médico de família no concelho de Abrantes, sendo atualmente 10 mil. O que corresponde a uma necessidade de “pelo menos seis médicos. Os cuidados primários têm de constar da ordem de trabalhos”, começou por dizer Manuel Soares.

Até porque, segundo a informação de que é detentora a Comissão de Utentes de Serviços Públicos do Concelho de Abrantes, a situação tende a agravar. “Sardoal e Mação estão com sérios problemas de médicos que poderão vir a reformar-se”, acrescentou o porta voz da CUSMT, lendo o relatório enviado pela diretora executiva do ACES do Médio Tejo.

Diana Leiria, diretora executiva do ACES Médio Tejo. Foto: mediotejo.net

Diana Leiria informou que “haverá várias saídas de médicos que dificilmente serão todas substituídas o que vai tornar a situação ainda pior. No entanto, continuamos a fazer todos os esforços para conseguir atrair alguns médicos novos que se possam fixar e para tentar manter os existentes. Tentando ao mesmo tempo contratar alguns outros médicos. Foram vistas as situações mais complicadas: Torres Novas, Ourém, Abrantes, Alcanena, Mação e Sardoal onde existem muitos milhares de utentes sem médico de família e onde, como no caso de Mação e Sardoal, dois médicos novos pediram exoneração. E existem quatro médicos que podem sair a qualquer momento por idade. Terão de existir soluções imediatas que estão a ser muito difíceis, e as soluções definitivas vão demorar muito tempo”.

Manuel Soares, porta voz da Comissão, deu conta de ser apontada “a necessidade de estruturas diferentes e da extensão das USF como solução possível, que também demorará o seu tempo”.

Ou seja, a Comissão de Utentes sugeriu ao ACES que as Unidades de Saúde Familiar (USF) assumissem a responsabilidade das extensões de saúde. “Assim como aqui, a USF Beira Rio assumiu a extensão de Tramagal e Bemposta”, explicou. A Comissão defende que os médicos das USF se desloquem até às extensões de saúde das freguesias do concelho e que não sejam os utentes a deslocar-se às USF. Trata-se de “uma lógica de gestão de recursos; é mais fácil deslocar um enfermeiro e um médico, do que deslocar 15 ou 20 utentes para uma unidade que pode não ter instalações para receber toda a gente”, defendeu.

No Plano de Contingência da Gripe “foi tornada pública a listagem dos centros de saúde que vão ter horários alargados, nomeadamente aos feriados e fins-de-semana. Neste caso é Mação, Ourém e Sardoal”, deu conta o porta-voz. Os elementos da CUSPCA manifestaram-se também preocupados com a violência contra profissionais de saúde.

Prometem reafirmar na reunião com a Câmara de Abrantes que “têm de se juntar todas as boas vontades; Câmara Municipais, outras entidades interessadas, e tem de se arranjar uma solução extraordinária. Implica que em muitos casos, por exemplo Mação e Sardoal, muitas pessoas não tendo médico de família vêm ‘atafulhar’ as urgências”, designadamente do Hospital de Abrantes.

Foto: CHMT

Defendem, por isso, que as unidade móveis “são fundamentais” – uma com médicos e outra com enfermeiros -, acrescentando que “as autarquias deveriam assumir esse compromisso” quanto a transportes não excluindo a possibilidade da contratação de empresas “devidamente articulado com o ACES”.

Defendem ainda a redistribuição das USF mas querem envolver a Comunidade Intermunicipal e a Câmara Municipal, no que toca à tomada de posições. “Se calhar é ir bater à porta do ministro e tomar iniciativas públicas” como aconteceu nessa sexta-feira em Torres Novas, devido à falta de médicos nas três extensões de saúde da Freguesia de Assentis (Assentis, Casais de Igreja, Fungalvaz), com a junção de uma centena de pessoas em Casais de Igreja.

Quanto aos cuidados hospitalares, Manuel Soares nota que “as populações são mais velhas, debilitadas com a covid-19, não tiveram a devida assistência médica”, ou seja, “pessoas estão a chegar hoje às urgências em estado mais critico, o que exige espaço, porque estão lá mais horas para serem reabilitadas, mais cuidados e mais meios”.

Dá conta da existência de “problemas relativamente graves” de falta de médicos, nomeadamente em Cardiologia. Citando a administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo, avança com o compromisso de que “iria equiparar ou superar as retribuições salariais ou contratuais com alguns médicos no sentido de atrair outros e de poder equiparar esses valores a outras unidades hospitalares”.

Exigem “unicamente que a administração crie os meios e as condições para poder manter os que estão e puder recrutar outros profissionais, porque aqui não há alternativas”, uma vez que os hospitais de referência são Lisboa, Coimbra e Leiria, no caso de Cardiologia.

No que toca a maternidade, o encerramento não está previsto, diz Manuel Soares, mas “encaminha-se para trabalhar numa situação parecida com a que está agora; umas vezes há, outras não há”.

TAC (Tomografia Axial Computorizada) no CHMT. Créditos: DR

Avança que as TAC de Torres Novas e Tomar “vão funcionar das 8h00 às 00h00, funcionavam até às 17h00. Concluíram que o transporte do doente para fazer uma TAC a Abrantes custava mais do que pagar horas extraordinárias” aos profissionais.

Segundo Manuel Soares, o Centro Hospitalar do Médio Tejo gasta em média um milhão e duzentos mil euros por mês em transportes, daí a Comissão de Utentes defender que o CHMT “deveria ter uma frota de transporte próprio, como têm para transportar profissionais, análises, etc”.

Relativamente às urgências, para a adjudicação das obras na Urgência Médico-Cirúrgica do Hospital de Abrantes, prometidas e necessárias há anos, têm projeto, financiamento, concurso feito e empresa escolhida para fazer a obra, mas falta “um despacho de extensão para a utilização da verba cativada”, ou seja uma assinatura de um membro do Governo para que se concretize a adjudicação e o consequente início das obras. Ou seja, um despacho do Ministério da Saúde para a verba cativada transitar para o ano seguinte.

“Não há despacho!”, garante Manuel Soares. “O Hospital de Abrantes sem uma urgência em condições funciona mal”, acrescenta.

No entanto, a reunião do Conselho Consultivo do CHMT agendada para quarta-feira passada, em Tomar, foi adiada “sine die” por Vieira da Silva, o presidente. “A reunião era para, entre outras coisas, analisar a produção hospitalar e apresentar o plano para 2023”. Manuel Soares acredita que o adiamento da reunião teve como razão principal a inexistência do “despacho” da urgência, dizendo existir “questões de organização” incompreensíveis.

Quanto ao Plano de Contingência dos cuidados hospitalares, fez saber que “há operações que serão, eventualmente, suspensas para não ocupar camas porque têm de estar disponíveis em caso de uma crise de gripe”, além disso “as altas vão tentar ser encurtadas”.

Outro assunto em debate foi a revindicação da abolição das portagens na A23, nomeadamente dar conta à vereadora Raquel Olhicas do número de assinaturas recolhidas, rondando, neste momento, as 7 mil, sendo que a recolha continua até 15 de dezembro.

A esse propósito Manuel Soares lembrou que a ministra Ana Abrunhosa disse “em maio passado que o Governo não descansava enquanto não abolisse as portagens no interior, disse há três semanas na Guarda que 2023 será ano de baixar as portagens. O acidente ao pé do gasoduto provou que não há qualquer alternativa à A23. As alternativas que se oferecem não são viáveis”, defendeu referindo-se quer à Estrada Nacional 118 quer à Estrada Nacional 3.

A Ação Social é outro tema que a CUSPCA quer levar à reunião com a Câmara Municipal considerando que terá de ser “mais alargada” devido “aos casos complicados que estão a surgir”, nomeadamente devido ao crescimento da inflação.

Para defender Serviços Públicos de proximidade e qualidade, foi criada a Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Concelho de Abrantes.

Já a Comissão de Utentes de Saúde do Médio Tejo é um movimento de opinião e reivindicativo para defesa de um Serviço Nacional de Saúde universal, público, eficiente, eficaz e tendencialmente gratuito. Aberta a participação de todos os cidadãos.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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