O município de Abrantes quer liderar um processo de candidatura para que o rio Tejo venha a ser considerado Património da Humanidade da Unesco, e que tem por objetivo proteger um património coletivo ibérico. “Há já algum tempo que falávamos em diversos fóruns da possibilidade do Rio Tejo ter uma candidatura a Património da Humanidade e eu acho que chegou a altura de alguém dar o pontapé de saída e eu disponibilizei-me para liderar, ou ajudar a colaborar, nesta forte possibilidade”, disse o presidente da Câmara Municipal de Abrantes.
Segundo defendeu Manuel Jorge Valamatos (PS), “com o Rio Tejo como Património da Humanidade abrir-se-iam outras portas, outros olhares e outro pensamento porque o Tejo faz parte da história coletiva da região, do país, e da Península Ibérica, e teremos outras condições para o tratar melhor e olhar para ele ainda com mais atenção e com mais cuidado”.
ÁUDIO MANUEL JORGE VALAMATOS, PRESIDENTE CM ABRANTES:
A ideia pode vir a ser promovida por Abrantes ou por um conjunto de municípios ribeirinhos da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Médio Tejo, onde o município de Abrantes se insere, sendo que a candidatura deve ganhar escala integrando e alargando os membros proponentes a municípios e instituições à escala nacional e também da vizinha Espanha, onde o Tejo nasce, na serra de Albarracin, desaguando em Lisboa, numa extensão de mais de mil quilómetros.
“Levarei este assunto à reunião da CIM Médio Tejo e eu julgo que é matéria que a comunidade intermunicipal irá olhar com toda a atenção para iniciarmos um conjunto de ações tendo em vista essa forte possibilidade”, declarou, tendo reiterado que “o que faz sentido” será “alargar a candidatura aos municípios ribeirinhos de todo o país e de Espanha, a par de outros agentes e instituições” ligadas ao desenvolvimento e ao meio ambiente.
O presidente da Câmara Municipal de Abrantes já havia deixado em reunião de executivo do dia 9 de dezembro o compromisso do Município avançar com uma candidatura para considerar o rio Tejo Património da Humanidade da Unesco, dando conta de um executivo “muito entusiasmado” com a ideia.

Na reunião de executivo, o presidente da Câmara de Abrantes avançou com “a possibilidade de lançar para o mundo a oportunidade do nosso rio Tejo se tornar Património da Humanidade. É um compromisso que tenho com a comunidade. Não vou largar este propósito” tal como Abrantes e, “seguramente, o Médio Tejo”, assegurou.
Na ocasião lembrou que recentemente, no âmbito da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, os autarcas reuniram “para podermos lançar um programa de investimento para o Tejo, sobretudo englobando os seis concelhos que se relacionam diretamente com o rio Tejo. A CIMT já aprovou para o ano de 2021 esse estudo que vai ser financiado por todas as Câmaras e procuraremos apoios europeus para a valorização ou continuar a valorização do nosso Tejo”, acrescentou Manuel Jorge Valamatos.
O presidente detalhou ao mediotejo.net que a possibilidade de avançar com uma candidatura do rio Tejo, surgiu “das noticias e das informações” que chegaram até si.
“Fiquei entusiasmado, interessado e estarei acutilante e a acompanhar todos os movimentos. Se for caso disso, a liderar ou ajudar a liderar um processo de grande interesse como este”, considerando “importantíssimo colocar o rio Tejo como Património da Humanidade com todas as vantagens que daí advêm”.
Para já, Manuel Jorge Valamatos garantiu “desenvolver contactos” para avançar com essa candidatura.
Do lado da oposição, o vereador eleito pelo Bloco de Esquerda, Armindo Silveira, manifestou-se satisfeito com a possibilidade de tornar o rio Tejo Património da Humanidade. Assegurou que “o BE apoiará esta candidatura” até por ser “favorável, possível de concretizar”, podendo o rio Tejo “ver reforçada a sua proteção, em defesa deste bem público”.
E referiu uma sessão online promovida pelo BE de Santarém onde uma ativista ambiental de Espanha, da Rede do Tejo, sugeriu dotar o rio Tejo “de personalidade jurídica” uma situação “que não é fácil de concretizar”, afirmou.
Também o vereador do Partido Social Democrata, Rui Santos, manifestou “satisfação” por uma “possível candidatura do rio Tejo a Património da Humanidade. Poderá contar com o apoio do vereador do PSD e seguramente com o apoio institucional do Partido Social Democrata”, disse.

Esta ideia não é nova embora até hoje sem resultados práticos. Recorde-se que em 2008 a associações Amigos do Tejo, de Portugal, e a Tajo Sostenible, de Espanha, apresentaram na Exposição Internacional de Saragoça essa pretensão, numa candidatura baseada nos “valores naturais e históricos únicos” do rio Tejo.
E que, dez anos depois (em 2018), o CDS propôs que o estuário do Tejo fosse candidato a Património Mundial da Unesco, numa proposta defendida então por Assunção Cristas.
Recorde-se ainda que a Reserva Natural do Estuário do Tejo foi criada por um decreto-lei de julho de 1976.
C/LUSA