Desde 2018 que a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT) declarou o ser propósito em fazer da região um polo energético de energia verde em Portugal. E foi nesse âmbito que a associação Mediotejo21 avançou com uma candidatura para a produção de hidrogénio verde, em Casal Cortido, na União de Freguesias de Alvega e Concavada (Abrantes). A localização mereceu parecer positivo por parte do executivo municipal em Abrantes, sendo que a ideia passa por instalar uma central de produção de hidrogénio cujo investimento ultrapassa os 15 milhões de euros.
Em reunião de Câmara, “foi aprovado um parecer exclusivamente para a localização pedida” no sentido de instalar em Casal Cortido uma central de hidrogénio, explicou Ricardo Beirão, da Mediotejo21, ao nosso jornal. “Era uma obrigação do aviso, um documento obrigatório a entregar com a candidatura. Não vincula a Câmara a nada. Não é um projeto da Câmara mas da Mediotejo21, da CIMT e de outras entidades” envolvidas no processo, frisou o diretor técnico da associação Mediotejo21, Agência de Energia e Ambiente do Médio Tejo e Pinhal Interior Sul.
O responsável deu conta que uma entidade suíça, com ligações a Portugal, contactou a Mediotejo21 no sentido de apurar o interesse da associação perante o plano estratégico definido pela CIMT para a região, relativamente ao hidrogénio. “E assim foi!”, notou.
A ideia passa por instalar um projeto de produção de hidrogénio verde naquela zona do território da União de Freguesias de Alvega e Concavada, num investimento que ultrapassa os 15 milhões de euros. O projeto está, então, a ser desenvolvido em parceria com a Smartenergy e Ricardo Beirão indica que “resulta de um processo que começou em 2018”, através da CIMT e de uma entidade europeia.

Ambas as entidades “afinaram um protocolo, um memorando de entendimento que terminou em 2020, no qual a região do Médio Tejo passava a ser a região portuguesa do hidrogénio. Foram desencadeadas várias ações e iniciativas para promover o Médio Tejo como região do hidrogénio nas quais a Mediotejo21 esteve desde a primeira hora a colaborar com a CIMT. Dessas iniciativas resultou o expressar de interesse de entidades em querer colaborar connosco e outras em investir na região”, explanou.
Tendo surgido a oportunidade, a Mediotejo21 avançou com uma candidatura, submetida a 30 de abril, no âmbito de um aviso ao POSEUR “no sentido de financiar a produção de hidrogénio”. Uma candidatura sujeita a aprovação e portanto “sem data para avançar”.
Segundo o diretor da Mediotejo21, “foram submetidas 14 candidaturas neste âmbito” aguardando-se os resultados para o projeto avançar, no caso de aprovação, sendo que a linha de financiamento contemplada no aviso do POSEUR financia 85% do projeto até um limite de cinco milhões de euros.
Ricardo Beirão explica que a chave da produção de hidrogénio verde está na água e num eletrolisador. Este último é um dispositivo que permite produzir hidrogénio por meio de um processo químico (eletrólise) capaz de separar as moléculas da água em hidrogénio e oxigénio através de uma fonte de energia que pode ser “eletricidade, biomassa, vento, sol”.
Quando a fonte de energia é captada de uma forma sustentável, uma energia renovável, ou seja, sem emitir dióxido de carbono para a atmosfera, “será o caso do nosso projeto”, diz, é considerado hidrogénio verde. O projeto da Mediotejo21 assenta num eletrolisador de 10MW, alimentado por uma central fotovoltaica, isto é, de painéis solares.

A localização escolhida para a instalação da central de produção de hidrogénio verde prende-se “exclusivamente com a dimensão dos terrenos que havia disponíveis, com as características dos mesmos e também das condicionantes da análise que fizemos aos terrenos disponíveis, seja de REN seja de RAN”, explicou o responsável.
“Não podia ser um terreno qualquer, e os maiores disponíveis estão localizados naquela zona”, notou ainda Ricardo Beirão, rejeitando qualquer ligação empresarial à Central Termoelétrica do Pego, nomeadamente no âmbito da sua reconversão, uma vez que encerrará a produção a carvão este ano 2021.
Além disso, no caso da candidatura ser aprovada, o projeto visa numa primeira fase “a injeção do hidrogénio na rede de gás natural existente e por isso tínhamos de ter em conta onde havia a possibilidade de fazer a injeção”. Em Casal Cortido “existem vários pontos onde o podemos fazer”, observou.
Em causa está uma área de cerca de 80 hectares para instalação do complexo, no seu total, uma área para a central de produção de hidrogénio, e uma outra área para a instalação da central fotovoltaica.
Quanto ao número de postos de trabalho que poderão ser criados com este complexo empresarial, Ricardo Beirão não avançou com qualquer número. “Não posso adiantar porque é algo que deriva do projeto e da conceção da fábrica. Neste momento é prematuro falar em número de postos de trabalho diretos ou indiretos porque deriva da aprovação da candidatura. Podemos estar a levantar expectativas erradas às pessoas, tendo em conta também a conjuntura que vivemos atualmente no mercado de trabalho. Não queremos patrocinar esse tipo de situação, com eventuais mal entendidos no que diz respeito à intenção do nosso projeto”, frisou.
Ricardo Beirão garantiu que, no caso da candidatura ser aprovada, a Mediotejo21 e as restantes entidades parceiras irão avançar com a central de produção de hidrogénio no local pretendido e que mereceu também a aprovação em sede de executivo de Abrantes.
“O hidrogénio é algo que vai fazer parte do nosso futuro, vai ser, obrigatoriamente, parte das nossas vidas. É uma coisa boa! Podemos olhar de lado” para essa tecnologia mas recorda que “inicialmente quando se falava nos painéis solares também olhámos de lado. E hoje há possibilidade de qualquer casa ter um painel solar instalado”.
Admite ser uma tecnologia desconhecida pela maioria dos cidadãos mas “estamos cá para fazer o nosso papel na divulgação e sensibilização da sociedade no que diz respeito aos benefícios do hidrogénio”, garantiu.
Para já, Ricardo Beirão manifesta-se esperançado na aprovação da candidatura. “Um dos documentos do aviso permitia uma simulação, ou construir a candidatura tendo em conta os rácios de avaliação que a entidade avaliadora iria ter, e fizemo-la para responder aos rácios máximos que existiam”.
Diz que o estado de espírito dos promotores é de “ansiedade” relativamente ao resultado uma vez que depositaram “bastantes expectativas na aprovação desta candidatura” que resultará num benefício.
Nota que o projeto não surge “a reboque” de outros. É antes “um pontapé de saída a ser dado numa região com a dimensão do Médio Tejo, com 13 municípios a usufruírem dessa mesma tecnologia. Seríamos pioneiros no lançamento de uma infraestrutura desta dimensão na região”.
Do lado da comunidade espera “que estejam do lado do projeto. Porque seria muito bom para a região, ter um projeto desta dimensão a funcionar a partir” do concelho de Abrantes.

A Agência de Energia e Ambiente do Médio Tejo e Pinhal Interior Sul tem por missão contribuir para a sustentabilidade e inovação na sua região de influência.