Uma família escolar ao serviço da comunidade abrantina. É deste modo que se assume o antigo Liceu Nacional de Abrantes e atual Escola Dr. Manuel Fernandes que assinalou neste sábado, 21 de outubro, os seus 50 anos de vida com um conjunto de iniciativas que trouxeram ao de cima a sua essência: contribuir para uma sociedade mais equitativa e, acima de tudo, feliz. Ligada ao Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes, também a Escola Otávio Duarte Ferreira, do Tramagal, celebra 50 anos este ano.

Entre os convidados – muitos deles antigos alunos – na cerimónia das bodas de ouro encontravam-se algumas figuras políticas de relevo. Casos de Maria do Céu Albuquerque, presidente da Câmara de Abrantes, de Jorge Lacão (antigo Ministro dos Assuntos Parlamentares) ou do presidente da Câmara do Sardoal, Miguel Borges.

No discurso da sessão solene, Alcino Hermínio, diretor do Agrupamento de Escolas N.º 2 de Abrantes enunciou 7 presentes que gostaria que a escola recebesse no futuro e que dependem, em muito, da capacidade da comunidade em juntar esforços:
“instalações mais adequadas para o curso básico de música, que funciona em regime integrado com 4 turmas; mais instrumentos musicais para os cursos de educação artística; a implementação de um centro de formação desportiva nacional na área dos desportos gímnicos ou atletismo; tirar partido pedagógico da propriedade de 11 hectares até ao rio Tejo, com a sua manutenção regular; equipamento informático que responda às exigências de carácter pedagógico; manutenção das instalações renovadas pela Parque Escolar, uma vez que quase é inexistente, apesar dos milhares de euro de renda pagos mensalmente. “Iremos suspender o pagamento da renda até que a Parque Escolar apresente e dê início à execução de um calendário credível de manutenção e resolução dos problemas existentes”, anunciou. O sétimo e último presente que Alcino Hermínio enunciou é para a Escola Otávio Duarte Ferreira, do Tramagal, que também celebra 50 anos este ano”.
“Esta escola quer continuar a contribuir para a formação dos nossos jovens mas tal depende do rasgo da nossa comunidade”, disse, anunciando que será promovido um debate para salvaguardar o seu futuro.
O responsável recordou ainda que o Liceu chegou há 50 anos para trazer “uma nova escola” para o concelho e para a região respondendo aos anseios de quem tinha por aspiração o acesso dos seus à universidade.
“O Liceu veio permitir a quem não tinha possibilidades de pagar o ensino privado ou de assumir custos de ter filhos a estudar na capital do distrito a entrada na via que conduzia à Universidade. “Este foi o primeiro contributo do Liceu de Abrantes para a promoção da igualdade de oportunidades dos jovens de Abrantes e da região no acesso à escola”, atestou, salientando que, apesar das transformações por que passou, o Liceu sempre pretendeu contribuir para a promoção de uma educação de qualidade e compensadora da desigualdade de oportunidades.

Hoje, disse, o Liceu Nacional de Abrantes faz parte de um projecto mais alargado: o Agrupamento de Escolas N.2 de Abrantes que é composto por 8 escolas e abrange cerca de 2200 alunos. “O liceu foi sempre constituído por pessoas com iniciativa, criativas, solidárias e inconformadas que não desistem de enfrentar os obstáculos e de assumir uma ambição realizadora. É esta escola que hoje celebramos”, disse.
Maria do Céu Albuquerque discursou na dupla qualidade de presidente da Câmara de Abrantes e antiga aluna. A autarca preferiu trocar a intervenção escrita que tinha trazido de casa para dizer o que lhe ia na alma neste momento. “Hoje é um dia de afetos, de emoções, de memórias mas também é dia para discutir o futuro que queremos para a nossa educação”, justificou.

“Foi aqui muito feliz e foi aqui que aprendi a ser realizada e a realizar-me com as coisas que faço. Foi aqui que percebi que se trabalhasse não precisava de mais nada para ter bons resultados”, confessou a autarca, considerando que o Liceu é uma grande casa.
Maria do Céu Albuquerque fez referência ao seu antigo professor Domingos Valente, entre muitos outros que a marcaram. “Estes homens e estas mulheres são, ainda hoje, para mim um exemplo e uma orientação”, atestou.
Recordou ainda, na pessoa do Sr. Abel, que lhes vendia as folhas de ponto, todos os funcionários administrativos. A autarca referiu ainda o trabalho da atual Associação de Pais que é um exemplo na determinação e na realização de actividades. “A escola é mais do que ensinar a ler e a escrever. É ensinar a ser, a estar e a fazer”, disse.

Jorge Lacão referiu, com graça, que já não é antigo aluno do Liceu mas um “antiquíssimo” aluno, uma vez que quando se assinalaram os 30 anos já tinha sido convidado a discursar nessa qualidade. “Todas as grandes coisas tiveram pequenos princípios. Eu e alguns de vós fizemos parte desse pequeno princípio que foi a Secção do Liceu de Santarém, e depois o Liceu de Abrantes, no antigo edifício Carneiro”, referiu.
Jorge Lacão recordou que, no início da década de 70, “se sentiam como uma verdadeira família entre professores e alunos” sendo aqui que formaram, no essencial, a sua maneira de estar na vida. “Fiz lá o 6.º e o 7.º ano do liceu, dois anos absolutamente privilegiados na minha vida”, disse o antigo Ministro dos Assuntos Parlamentares. Jorge Lacão homenageou ainda a memória do antigo reitor, Professor João Pequito, que defendeu os alunos sempre que foi preciso.
“A minha geração do liceu foi marcada pela aspiração desse tempo novo. Éramos uma juventude contestatária. Fizemos um saurau em 1972 em que, no essencial, era um exercício de contestação entre outras actividades que levaram a que as forças do regime pusessem os olhos no Liceu de Abrantes”, recordou. Jorge Lacão considera que Abrantes ainda deve uma homenagem digna daquilo que foi o momento de transição entre regimes ao antigo reitor do Liceu, que marcou a sua formação.

Miguel Rodrigues, representante dos atuais alunos, emocionou os presentes com o seu discurso, afirmando-se como a voz dos alunos.
“Cinquenta anos de história, cinquenta anos de sucesso conseguindo por uma base de professores, direcção e funcionários que nos guiam, todo o ano e todos os anos, para sermos bem-sucedidos nesta vida que é a escola. A nossa escola não é uma escola normal. Não é uma escola apenas de estudo. Oferece-nos imensos projectos para desenvolvermos ao longo do ano como o Parlamento dos Jovens, o Euroescolas, não esquecendo o teatro e o Desporto escolar”, exemplificou, acrescentando que são uns sortudos por andar nesta escola. “Alunos e professores… todos rumam na mesma direcção”, realçou.
A tarde de festa do cinquentenário do antigo Liceu Nacional de Abrantes terminou com um bonito Sarau de aniversário preparado por professores e alunos, que declamaram poesia e ofereceram música a um auditório repleto. No final, todos cantaram em uníssono os parabéns a você. Neste caso, os parabéns ao Liceu.
Visita guiada às instalações abriu programa de memórias
Antes da sessão solene, houve a oportunidade para fazer uma visita guiada às instalações da escola Dr. Manuel Fernandes – que sofreu há poucos anos uma grande remodelação – conduzida por alguns professores e pelo professor e director do Agrupamento de Escolas N. 2 de Abrantes, Alcino Hermínio.

A participar nesta visita, o presidente da Câmara Municipal do Sardoal, Miguel Borges recordou ao mediotejo.net as recordações do Liceu nos três anos em que andou no Liceu Nacional de Abrantes. “Fui aluno a partir de 83/84. Vim para o Liceu no 9.º ano. Guardo recordações muito boas. A minha carreira musical começou aqui, dado que existia um grupo que tocava e fazia teatro. Já na altura era um espaço diferenciador na região”, disse.
O autarca recorda ainda os bons professores que teve, salientando que, por exemplo, o grupo da agro-pecuária as pessoas eram muito unidas. Trinca e cinco anos depois, Miguel Borges recorda ainda que, no recreio, haviam cantinhos geográficos. “Havia o cantinho dos do Pego, do Rossio, do Sardoal. As pessoas agrupavam-se de acordo com a sua origem”, refere, acrescentando que nesta altura morava em Abrantes.

O mediotejo.net encontrou ainda, entre os presentes, quem tivesse vindo de muito longe neste dia para participar nos 50 anos do Antigo Liceu. Junto às fotografias dos primeiros anos, Álvaro Manito, médico de profissão, veio dos Açores para recordar os tempos que passou nos bancos da escola ainda quando o Liceu funcionava junto ao Castelo de Abrantes.
“Sou aluno fundador do Liceu / Secção de Santarém, no edifício perto do castelo. Foi fundado em 1967 com duas turmas do 1.º e uma do 3.º, sendo que eu era aluno do terceiro ano”, explicou. Natural da freguesia do Tramagal, Formado em Medicina em Santa Maria, acabou por ir parar à ilha do Pico, nos Açores, para fazer serviço à periferia. “Sai daqui em 1972 mas as atuais instalações dizem-me pouco. Já tive a oportunidade de rever alguns colegas também da fundação. É um dia para recordar porque a vida é feita de futuro mas é preciso não esquecer o passado”, referiu.

Os presentes tiveram ainda a oportunidade de fazer uma viagem no tempo consultando antigos livros de turma ou através de uma exposição de fotografias dividida por momentos marcantes da história desta instituição.

À noite o convívio de antigos e atuais alunos e professores fez-se ao redor da mesa, num jantar informal que decorreu na Quinta das Oliveiras, em Alferrarede, que acabou por ser o corolário de um dia em que se desfiaram memórias acompanhadas de muitas emoções.