José Martinho Gaspar é conhecido pela ligação à História que leciona e que tem revelado através de diversas obras publicadas, da direção revista Zahara e da coordenação do CEHLA – Centro de Estudos de História Local de Abrantes. No entanto, todos os factos reais têm um lado B e o historiador voltou a entrar no mundo da ficção, revelando o de 12 personagens em “Histórias de ter de ser”. A nova obra literária foi lançada esta quinta-feira, dia 9, no espaço Sr. Chiado e entre lados B descobriu-se um pouco do lado A do escritor.
O novo livro tem a chancela da Alfarroba Edições e é o segundo em que José Martinho Gaspar conta histórias de vida, surgindo depois das “Histórias Desencantadas”, lançadas em 2012. As “Histórias de ter de ser” são reveladas numa ordem cronológica que desafia o tempo a voltar para trás e a percorrer trajetos de vida desde os 95 aos 12 anos, da morte ao nascimento.
Pelo meio surge o mundo e os episódios em torno dos quais este foi girando no último século, da Segunda Guerra Mundial à vida académica de Coimbra ou da chegada da luz elétrica ao meio rural ao expoente das redes sociais, mas não só… São mais de 100 páginas nas quais surge também o lado A do autor que se partilha através de memórias fundidas com ficção.

A localidade de Água das Casas, na freguesia de Fontes (Abrantes), não faltou na apresentação, nem o seu pote de ouro e os comentários ao longo da sessão mostraram que alguns elementos da plateia conheciam bem a terra natal do escritor. A estes juntaram-se aqueles cuja ligação com o historiador surgiu posteriormente e juntos foram conhecendo as novas histórias ao longo de hora e meia através das palavras do historiador, da representante da editora, Andreia Salgueiro, e da docente Lígia Martins.
Três delas são trabalhos reconhecidos com prémios literários. “ Cárcere” distinguiu-se em Manteigas, “Os Sonhos de Alexandre” em Constância e “Raios os Partam” em Arruda dos Vinhos. A professora de português foi “uma das primeiras pessoas a ter o privilégio de ler” estes textos e os restantes nove, confirmando que as personagens “têm muito” do autor e das suas “vivências”. Na apresentação do livro falou, igualmente dos microcontos que mostram o lado B das histórias. A primeira, “Cárcere”, tem o seu lado B no “Paraíso”, a última “Dia de ter de ser”, que inspirou o nome do livro, encontra-o “Do lado de lá do balcão”.

José Martinho Gaspar contou-nos na primeira pessoa o que são estes dois ou três parágrafos que sucedem cada conto do livro que, diz, “foi escrito em diferentes momentos” e “começou a ganhar uma coerência, um corpo de conjunto”. Segundo o autor tratam-se de “outra leitura que se pode fazer da mesma realidade”, acrescentando que “algumas das realidades abordadas partem de situações que eu vivi, outras de situações da própria História e, depois, tudo o resto é ficção”.
Questionado se prefere escrever sobre História ou ficção, José Martinho Gaspar salienta que se tratam de “duas realidades completamente diferentes”. Os temas históricos, confessa, são mais “confortáveis” por terem os documentos como suporte. A ficção, por seu lado, é “qualquer coisa que nos deixa um bocadinho amedrontados na medida em que estamos a falar de propor que as pessoas leiam alguma coisa pela qualidade literária e eu que não sou escritor de nomeada tenho sempre um certo pudor em colocar este tipo de trabalho cá fora”.

Ainda assim, acrescenta que “não deixa de haver alguma ligação” pois a História está presente nas narrativas. O tal mundo referido anteriormente e que, para o historiador, tem muito “do mundo rural das aldeias dos nossos concelhos”, no qual se encontra a aldeia onde nasceu e à qual diz ir buscar inspiração. O mesmo mundo onde existe “um diálogo entre o urbano e o rural”, sem esquecer a necessidade de preservar o património do último.
Para José Martinho Gaspar, as “Histórias de ter de ser” centram-se na “maneira como as diferentes personagens olham para a vida”. Olhares de pessoas “de tempos e caraterísticas diferentes” que ajudam a ver “como nós olhamos para a nossa vida e a vida dos outros”, conclui. Olhares registados no novo livro e que complementam os do seu blog “O Escrevedor”, alguns partilhados na noite desta quinta-feira através das leituras de Lurdes Martins, Alves Jana e Anabela Diogo.