Quem tem dúvidas acerca do (bom) futuro da Humanidade não conhece este grupo de 24 alunos da Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes de Abrantes que entre os dias 4 e 7 de outubro andam a viajar pela Europa. São todos muito jovens – têm entre 16 e 17 anos – mas a sua alegria de viver aliada ao sentido de responsabilidade e vontade de contribuírem para um mundo melhor é desconcertante.
Acompanho o grupo há quase 48 horas, em Estrasburgo, França, e ainda não vi nada que me envergonhasse, se fosse mãe ou pai deles. Que bom trabalho fizeram os pais. E os professores, claro. Sempre atenciosos, colocam os seus limites mas também lhes sabem dar as asas que eles pedem, deixando-os voar, até regressarem à hora combinada, sem atrasos nem protestos. Isto viu-se logo no dia da partida, 7h30 da manhã, com todos a chegarem à hora, pontualmente. Ou quando no aeroporto de Lisboa, enquanto aguardavam o voo, lhes foi dito a hora a que deviam estar perto do painel de horários. E estavam.

Estes alunos estão em Estrasburgo para participarem na Jornada da Euroscola marcada para esta sexta-feira, 6 de outubro. Estão aqui graças ao trabalho das alunas Inês Grácio e Inês Geraldes. Na hora a que escrevo esta peça, no quarto do hotel e no computador emprestado de um deles – o do hall de entrada está ocupado e o teclado é diferente – estão juntos a trabalhar para que corra tudo bem amanhã. Foram os próprios a sugerir isso mesmo: sabem que vão representar Portugal e estão conscientes da sua responsabilidade. E que orgulho sentem!
O mesmo orgulho que levou quatro deles a trazer na mala de viagem a bandeira das quinas, que colocaram bem visível assim que aterraram no aeroporto de Paris, na tarde de quarta-feira. Onde se sentaram ao piano, com Joana Ferreira a tocar e os colegas a declamar a Pedra Filosofal de António Gedeão. Onde o aluno João Morgado assumiu o papel de maestro e cantaram para quem passava algumas canções tradicionais.
No TGV entre Paris e Estrasburgo já se tinha ouvido “o malhão, malhão”. E palmas, muitas palmas. As mesmas que se ouviram após terem cantado os “Parabéns a você!” ao Henrique Damas, que completa esta quinta-feira, 5 de outubro, 17 anos. Cantaram os parabéns sete ou oito vezes. Não se esquecem uns dos outros. Sente-se a amizade entre todos e mesmo os mais distantes, porque cada um tem a sua personalidade, nunca se isolam completamente. Há um espírito de grupo. “É a família Estrasburgo”, dizia-me uma das jovens.


De vez em quando, as professoras Irene Almeida e Cláudia Nascimento contam as cabeças. Mas sabem que podem confiar neles. Por isso, não se sente qualquer stress ou preocupação. Alcino Hermínio, o diretor da Escola, anda sempre por perto e nunca desarma. Há que saber que transportes públicos se devem apanhar, onde fica o restaurante com os jantares marcados e todas as questões são resolvidas prontamente.
O entusiasmo dos jovens – uma constante em toda a viagem – foi o seu principal entrave na manhã desta quinta-feira quando o segurança do Parlamento Europeu ficou alarmado com o fato de trazerem as bandeiras de Portugal, levando a que impedissem a entrada do grupo no Parlamento como visitantes.
Valeu a intervenção dos professores que tinham o contacto da Eurodeputada Marisa Matias que ainda os conseguiu levar até ao interior do edifício. Mesmo não entrando nas galerias – onde vão estar amanhã – todos apreciaram o momento e dão valor a cada momento partilhado. Com jovens desta massa acredita-se que sim. Sim, é possível um futuro melhor.