João Paulo Catarino durante uma palestra em Abrantes com o tema 'Portugal Interior que temos e o que pretendemos'. Foto arquivo: mediotejo.net

A procura de soluções para o interior do País, nomeadamente para os meios rurais fustigados pelos incêndios, incluindo o concelho de Abrantes, foi tema abordado esta terça-feira, 27 de março, no jantar – palestra do Rotary Club de Abrantes com o coordenador da Unidade de Missão para a Valorização do Interior como convidado para falar sobre o Portugal Interior que temos e o que pretendemos. Investimento público foi a noção chave deixada por João Paulo Catarino, para que algumas zonas do interior encontrem “o seu desígnio” atraindo investimento privado.

Tratou-se essencialmente de uma conversa sobre as necessidades do Interior do País, abordando os incêndios florestais que assolaram a região Centro, em 2017, com João Paulo Catarino a referir as suas principais causas, centrando o seu discurso na desertificação, no envelhecimento, no futuro do mundo rural e, sobretudo, na solução do problema que passa pelo investimento público.

“A demografia é o grande problema” do Interior sendo hoje um desígnio nacional, deu conta João Paulo Catarino, defendendo o aumento da natalidade proporcionando qualidade de vida e emprego para fixar população jovem no Interior.

“É na criação de emprego que Portugal tem falhado” disse referindo “o ponto a que Portugal chegou” onde “até o serviço público tinha de dar lucro” apontando medidas tomadas na legislatura anterior, nomeadamente o encerramento de tribunais, que conduziram ao “despovoamento”.

O jantar – palestra, realizado no restaurante A Cascata, em Abrantes, organizado pelo Rotary Club de Abrantes, permitiu a discussão sobre as principais causas dos fogos, a fim de assegurar uma melhor gestão dos espaços rurais, mais sustentável e com maior coesão social e territorial.

Considerando que “o futuro joga-se no emprego privado” refere que “o Interior perde” no que diz respeito à perspetiva empresarial “pela distância aos mercados, pelos custos de contexto” e por isso defende uma amortização estatal realizada através do investimento público, numa política de coesão territorial.

O Alqueva e o Douro foram exemplos escolhidos por João Paulo Catarino, como zonas do Interior que se desenvolveram através da “ativação pública”, essencial para um posterior desenvolvimento privado da região.

João Paulo Catarino e Paulo Sousa

O mesmo deve espelhar-se nos quadros comunitários, indicando este último como “particularmente adverso” para o Interior de Portugal. João Paulo Catarino apontou o dedo à falta de “ações integradas de base territorial” com “avisos específicos” para os territórios da interioridade.

O coordenador da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, agradecendo o convite, destacou a importância da iniciativa para o Centro de Portugal, realçando que os debates deverão “influenciar medidas políticas” e indicar a importância das “investigações científicas” exemplificando com a rentabilidade que poderá ser retirada o pinheiro assim se consiga “resinar em 15 anos” o que atualmente não acontece, só lá chegando com investimento nessa investigação.

Questionado se a discriminação fiscal será uma realidade favorecendo quem vive e trabalha no Interior, João Paulo Catarino não esclareceu, admitindo no entanto a “dificuldade” da continuidade de políticas. Aproveitou a oportunidade para defender a necessidade de “aumentar” os recursos humanos para o projeto-piloto do cadastro das propriedades florestais.

De acordo com João Paulo Catarino, a fórmula para o cadastro “está encontrada, [mas] precisará de ser afinada” e de ser trabalhada com os diversos agentes locais, além de que deve ser alargada ao resto do País.

No âmbito da reforma da floresta, o Governo arrancou em novembro de 2017 com um projeto-piloto do cadastro, que decorre em dez municípios: Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Penela, Sertã, Caminha, Alfândega da Fé e Proença-a-Nova.

Jantar – palestra Rotary Club de Abrantes

O Programa de Revitalização para o Pinhal Interior apresenta dois eixos estratégicos, baseados numa intervenção centrada no renascer de uma floresta sustentada e resiliente aos riscos e criadora de valor para o território e numa abordagem centrada na revitalização económica e social do Pinhal Interior.

João Paulo Catarino defendeu tratar-se de um programa “consistente” e apenas criticado “por ser demasiado ambicioso” o que deixa o engenheiro “contente”.

Ainda sobre o ordenamento florestal, João Paulo Catarino, que já foi autarca tendo presidido ao município de Proença-a-Nova, explicou que se pretende vir a separar a titularidade da gestão, ou seja, o proprietário não tem que ser o gestor do espaço.

“Temos que encontrar forma do proprietário poder delegar a gestão da sua propriedade em veículos que podem ser Sociedades Gestoras ou Zonas de Intervenção Florestal… Precisamos de entidades gestoras que possam gerir em escala”, vincou, acrescentando que atualmente “o Estado não tem entidades gestoras” da floresta mas “vai criar uma empresa pública para criar essas entidades gestoras”.

Do lado dos rotários, sobre esta temática, Luís Damas, no papel de presidente da associação de produtores florestais da região de Abrantes, disse que o trabalho a fazer pelas autarquias passa “pela defesa de pessoas e bens” e não pela “defesa da floresta. Esse é outro trabalho ainda por fazer”.

Também presente no jantar a presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque garantiu que o Governo central está “empenhadíssimo” no trabalho da descentralização, lembrando que os ditames impostos por Bruxelas “são muito difíceis de contrariar”.

João Paulo Catarino, Paulo Sousa e Maria do Céu Albuquerque

No final do jantar – palestra, em declarações ao mediotejo.net, o presidente do Rotary Club de Abrantes, Paulo Sousa, explicou a pertinência do convite e do tema abordado.

“Toda a gente discute o Portugal Interior e a floresta e também quisemos dar o nosso contributo para essa discussão” explicou considerando o coordenador da Unidade de Missão “uma pessoa importante neste contexto” admitindo ser um tema “difícil” pelas “discordâncias e desconhecimentos”. Numa “discussão com opiniões diferentes” onde até a autarca de Abrantes tem “tem questões perante a governança e Bruxelas”.

Paulo Sousa recordou que o Rotary “tem uma componente comunitária, educativa e de companheirismo que leva a realizar estas reuniões que que trazemos os nossos convidados e uma pessoa que possa mostrar ideias e debater as mesmas connosco”.

Durante o evento foi ainda apresentado o livro “Electricity Markets with Increasing Levels of Renewable Generation: Structure, Operation, Agent-based Simulation and Emerging Designs” de Fernando Lopes, um dos rotários de Abrantes, com lançamento agendado para 10 de abril no auditório da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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