IP demoliu esta sexta-feira várias casas ilegais no bairro de São Macário, em Abrantes. Foto: DR

A Infraestruturas de Portugal (IP) avançou esta sexta-feira com a demolição de várias habitações precárias e construídas ilegalmente no bairro de São Macário, junto à linha de comboios, na União de Freguesias de São Miguel do Rio Torto e Rossio ao Sul do Tejo, Abrantes. Fonte da IP confirmou a “limpeza” dos terrenos recorrendo a buldozzers para demolir as construções ali construídas de forma ilegal, em terrenos propriedade da empresa, sendo o procedimento vigiado de perto pelas forças da autoridade.

“Os terrenos são propriedade da IP e a ação hoje desenvolvida vem no seguimento de outras que desenvolvemos um pouco por todo o país de demolição e limpeza de terrenos ao longo da via da rede ferroviária nacional”, disse ao mediotejo.net fonte da IP.

Segundo a mesma fonte, o objetivo é “assegurar as condições de segurança de circulação ferroviária e também das pessoas que ocuparam estes terrenos de forma ilegal” junto da linha férrea.

O processo envolveu terrenos e pré fabricados edificados acima da linha ferroviária, no sentido Cabrito – Arreciadas, em propriedade da IP, sendo que a habitações construídas abaixo da linha férrea, cuja proprietária é a Câmara de Abrantes, já haviam sido alvo de uma intervenção de demolição em abril de 2018, pelos serviços da autarquia e que incluíram um plano social de reinstalação, tendo sido atribuídas habitações sociais. 

O bairro de lata de São Macário, na União de Freguesias de São Miguel do Rio Torto e Rossio ao Sul do Tejo, que durante mais de 30 anos cresceu ilegalmente, foi parcialmente demolido em abril de 2018. Antes, duas famílias e uma pessoa que vivia sozinha da comunidade cigana que ali residia foram realojadas em casas de habitação social da Câmara Municipal de Abrantes.

Na ocasião, a vereadora Celeste Simão deu conta ao mediotejo.net de um processo “difícil” e “moroso” mas que terminou de forma “pacífica” com compromissos da parte das famílias realojadas que passavam pela escolaridade das crianças.

A CM Abrantes resolveu um problema de crescimento de um bairro ilegal que começou há cerca de 30 anos. Depois de realojadas as famílias, o bairro foi demolido na quarta-feira. Foto: mediotejo.net

O bairro de São Macário onde residiam famílias de etnia cigana foi demolido no dia 11 de abril de 2018, após um processo que durou cerca de dois anos envolvendo ações de despejo e realojamento das famílias em casas de habitação social adquiridas pela Câmara Municipal de Abrantes (CMA) para o efeito.

Demolição Bairro de São Macário

As famílias que não tiveram direito a habitação social, “menos de 10” segundo a vereadora, “pagam rendas noutras casas”. Falando de “um trabalho muito desmontado”, Celeste Simão deu conta de “dezenas de reuniões” que ao longo de dois anos foram realizadas entre a CMA e as famílias de etnia cigana ali instaladas.

Com a demolição do bairro de lata a vereadora manifesta-se “satisfeita, não por derrubar uma série de barracas” mas porque “resolveu-se um problema” com mais de três décadas.

A instalação das famílias ciganas naquela zona de São Macário tem uma história que remonta ao tempo em que José dos Santos de Jesus (Bioucas), então presidente da CMA, autorizou “uma família a instalar-se nos terrenos” propriedade do Município.

Depois vieram filhos, netos e outras pessoas que “foram construindo mais algumas barracas ao lado umas das outras” até que “neste momento estavam criadas as condições” para trabalhar no realojamento e consequente demolição do bairro.

Demolição Bairro de São Macário

“O trabalho social demora algum tempo ” sublinha a vereadora, que começou a visitar o bairro de São Macário dois anos antes das demolições de 2018. “É preciso mostrar às pessoas que têm direito a uma habitação condigna, ainda mais com filhos em idade escolar, mas também existem deveres. Foi preciso criar laços com as pessoas e chegar a um entendimento”, contou, explicando que a porta de entrada dos serviços de Ação Social desenhou-se “através da pessoa mais velha que vivia naquele bairro”.

Só assim, através da “convergência, foi possível perceber quem lá morava e precisava de casa”, referiu, explicando que uma das famílias realojadas foi precisamente “a senhora idosa, com o seu filho e quatro netos todos em idade escolar” e “um casal com quatro crianças também todos em idade escolar, o mais novo com quatro anos”, sendo os menores “a maior preocupação” da autarquia.

Celeste Simão atribuiu o absentismo e abandono escolar das crianças de etnia cigana “à falta de condições e comodidades a que toda a gente tem direito”.

Após a notificação das famílias para o despejo, o processo realizou-se em “estreita articulação com as forças de segurança e com o Ministério Público.

Tudo foi articulado em reuniões até se chegar à marcação da data” para a demolição. “Um dia bom para nós tal como foi bom o dia em que entregamos às pessoas as chaves das suas casas”.

Demolição Bairro de São Macário

Da parte das famílias realojadas, que agora pagam uma renda social, firmou-se o compromisso “das crianças frequentarem a escola e não faltarem às aulas”. O processo irá continuar, de uma outra forma, com o acompanhamento dessas famílias “não a partir de agora, mas desde o dia que foram atribuídas as casas”.

A vereadora disse hoje ao mediotejo.net que o processo com as duas famílias realojadas está, “num caso, a correr muito bem, no outro, com alguns sobressaltos, nomeadamente com a assiduidade (às aulas) das crianças”. No total, segundo a vereadora, existe em Abrantes uma “lista de espera de mais de 30 famílias” para habitação social.

Este não era o único bairro de lata do concelho. “Há outro na zona do Lazareto” perto da Escola Básica e Secundária Dr. Manuel Fernandes. Para essa parte da cidade “ainda nada está pensado, porque as pessoas têm feito obras e estão acomodadas”, avançou Celeste Simão, acrescentando existirem “muitas outras pessoas que não são de etnia cigana” em lista de espera por uma casa de habitação social. “Tem de ser gradual”, notou, tendo assegurado que a autarquia está em processo de requalificação de várias habitações para poder responder a algumas das solicitações.

Demolição Bairro de São Macário

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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