O presidente da Junta de Freguesia de Rio de Moinhos, Rui André, no cais de Rio de Moinhos

Rui André tem 46 anos, mas não é jovem nestas lides autárquicas. O mandato agora conquistado, que lhe dá a presidência da Junta de Rio de Moinhos, é já o terceiro, tendo vestido a camisola do PSD nos dois primeiros. Rui diz não ser político, além de professor trabalha em prol da freguesia à qual chegou com 15 anos vindo de França onde nasceu. Por isso, não gostou nada quando o Partido Social Democrata deu como adquirido, sem o aval da sua equipa, que entraria na corrida autárquica segurando a bandeira laranja. Desvincolou-se mas não desistiu e assim surgiu o Movimento Independente da Freguesia de Rio de Moinhos (MIFRM). Tinham pouco dinheiro para a campanha mas muita estratégia. Pouparam no tempo e em três dias, no porta a porta, mostraram aos fregueses o símbolo dos independentes. Se queriam Rui André na liderança era naquele que deveriam colocar a cruz. E venceram a única freguesia que hoje é independente no concelho de Abrantes.

 

“Em novembro de 2016 numa conferência de imprensa da Comissão Política, o PSD afirmou que era recandidato à Junta de Freguesia” de Rio de Moinhos. Rui André admitiu a existência de algumas conversas no sentido de perceber se havia vontade do professor se recandidatar “mas nada de afinado. Existe uma estratégia de marketing que é preciso montar a nível político: ter uma equipa, definir projetos, saber se quer ou não concorrer, apoiada ou não por um partido. Eu não decido sozinho”, explica ao mediotejo.net.

O desmentido ao anúncio público surgiu logo no dia seguinte. Rui André comunicou ao Partido Social Democrata (PSD) que “não contava com eles para prosseguir o trabalho em Rio de Moinhos. Não estamos a reboque de partidos e sim das pessoas e da nossa terra”, sublinha.

Rui André e a sua equipa venceram as eleições autárquicas do dia 1 de outubro. Tiveram melhor sorte que as outras duas candidaturas independentes concorrentes também no concelho de Abrantes, em Tramagal e Mouriscas, ficando-se pelo segundo lugar. Estas não conseguiram vencer o Partido Socialista (PS) que é agora detentor de 11 das 13 freguesias do concelho, ainda que sem unânime maioria absoluta.

Sobre a realidade da vitória não existiam temores. “Sabíamos que estamos cá pela nossa competência”. Numa freguesia de esquerda, a social democracia chegou ao poder em 2001 “porque havia pessoas competentes na lista” alcançando uma “dinâmica não existente”, explica Rui André, colhendo agora “aquilo que semeámos”. A surpresa revelou-se na elevada margem de votos que distanciou o movimento independente do segundo mais votado, neste caso o Partido Socialista, conquistando o MIFRM seis mandatos e o PS três. “Há quatro anos, quando apoiados pelo PSD, ganhámos por 26 votos” recorda. No entanto, analisando os resultados interpretaram que a pequena margem não castigava a equipa mas o partido que governava em 2013, numa conjuntura nacional de austeridade e de troika em Portugal.

Rui André e a sua equipa lançaram-se então na exigência burocrática da constituição de um movimento independente. Eram muitas as vozes que davam conta dessa dificuldade, mas não baixaram os braços e desmitificaram o obstáculo. “Não é difícil fazer um movimento independente”, garante, apesar de “alguma papelada que é preciso mas quem sabe ler e escrever consegue” até porque existe um manual de candidatura para movimentos de cidadãos acessível na Internet.

O MIFRM “queria mostrar que o trabalho não tinha nada a ver com os partidos, mas com as pessoas” conseguindo provar isso nestas eleições autárquicas.

O reconhecimento pelos eleitores do símbolo dos independentes no boletim de voto foi a grande batalha travada, ainda que apenas nos últimos três dias da campanha eleitoral. “Essa foi a nossa luta, até pelo eleitorado ser maioritariamente idoso. Não pedimos nenhum voto a ninguém. Houve uma preocupação de mostrar às pessoas, se quisessem votar no nosso programa, qual o símbolo” do MIFRM que tinha como cabeça-de-lista Rui André.

Esta vitória funcionou como “cartão amarelo” aos partidos e mostrou “de uma forma clara que ser independente não é sinónimo de derrota. Pelo contrário, é sinónimo de democracia no seu pleno e evolução da mesma ao fim de 43 anos”, afirma acrescentando que “para a Câmara Municipal as pessoas quiseram votar Maria do Céu Albuquerque e para a Junta de Freguesia quiseram votar Rui André e a sua equipa”.

O autarca diz acreditar num futuro com mais movimentos de cidadãos e lembra que as outras duas candidaturas no concelho de Abrantes conquistaram o segundo lugar, ambas com boas prestações. “Estiveram perto e seria bom para a democracia, mau talvez para os partidos, que houvesse mais movimentos e que os independentes façam agora uma boa oposição, uma boa fiscalização” no sentido de ajudar a desenvolver a sua freguesia ou até o seu concelho, podendo ser alternativas daqui a quatro anos.

Rui André considera que “os partidos políticos têm de olhar de uma forma diferente da que olharam até agora para a política. Falam em pluralidade mas quando há vozes discordantes são afastadas ou convidadas a sair de forma subtil”. Por isso reforça a valorização das pessoas com vontade e ideias. “Se não cabem nos partidos políticos e querem tomar decisões há espaço para os movimentos independentes” tendo pernas para andar não em concorrência mas oferecendo um olhar diferente. “Se os partidos insistirem no mesmo caminho acabará por acontecer como em França: o Partido Socialista desapareceu do mapa”, afirma, falando da necessidade de “mais humildade e humanidade” nas pessoas que vivem da política.

Com um orçamento de 300 euros, para um cartaz grande, um pequeno e folhetos, a estratégia passou por uma campanha eleitoral ativa, de porta a porta, na última semana. “Não vale a pena fazer um mês antes porque depois é esquecido. Na quarta, quinta e sexta das 18h00 às 21h00 fizemos o porta a porta passando a mensagem “ vencedora. Contudo, Rui André revela-se convicto que os resultados poderiam ser ainda mais vantajosos se alguns votos não tivessem engordado as contas de outros. “As pessoas não souberam votar e enganaram-se”.

Agora é pôr mãos à obra para iniciar o trabalho a concretizar em Rio de Moinhos durante os próximos quatro anos. E as prioridades passam por “recuperar casas devolutas para iniciar o projeto de arrendamento a custos reduzidos” com o objetivo de “fixar pessoas” em Rio de Moinhos apenas a cinco quilómetros de Abrantes “com a qualidade de vida própria de uma aldeia”. Para ajudar na concretização desse plano de dinamização o executivo conta com um prédio que a Junta possui em Lisboa, ao lado da Casa dos Bicos, doado por Fernando Vieira Ferreira. “Vai ser emprestado por 60 anos, para um hotel com 27 quartos, recebendo a Junta dois mil euros mensais mais cinco por cento da faturação anual” num cálculo anual de cerca de 50 mil euros a juntar aos 38 mil do estatal fundo de financiamento de freguesia.

Querem também “recuperar a sede social para eventos. A nível cultural é solicitado por todas as associações da freguesia” transformando-a num espaço multifunções. Rui André aposta ainda nas energias renováveis nos edifícios públicos, na requalificação do espaço público nomeadamente nos arruamentos e na renovação da conduta de água na parte baixa de Rio de Moinhos estendendo as obras a Amoreira e Pucariça. E ainda terminar a calçada do Cais que “está a meio” bem como valorizá-lo no sentido de “voltar as pessoas para o rio” Tejo. Outra ideia é levar as pessoas das várias associações da freguesia a “trabalhar em conjunto” nas várias festas, isto porque . Segundo diz, “cada vez há menos pessoas no associativismo e convém rentabilizar o esforço de cada um”.

O MIFRM vence assim a eleição para a Assembleia de Freguesia de Rio de Moinhos com maioria absoluta. A candidatura obtém 48,75% dos votos (293), elegendo 6 elementos. Dos 1030 inscritos votaram 601 eleitores. A segunda força política foi o PS com 190 votos representando 31,61% dos votantes. Na terceira posição coloca-se agora o PSD com 7,65% dos votos, que apesar da derrota fica à frente do Bloco de Esquerda com 3,99% dos votos e da Coligação Democrática Unitária com 3,33%.

 

 

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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