*Com Mário Rui Fonseca e Lusa
Sobe para 715 o número de bombeiros a combater os incêndios nos concelhos de Abrantes e do Sardoal, com o fogo a ter frentes fora de controlo e a ameaçar casas e aldeias. Às 24h mantinham-se no local 222 viaturas e várias corporações, nomeadamente de Portalegre, Alverca, Castelo Branco, Leiria, Évora, Abrantes e Sardoal.
Uma das zonas de maior preocupação é o Sardoal, perto da Quinta do Côro, propriedade que também tem zonas de pinhal a arder. Esta é uma área que por volta das 22h chegou a ser dada como controlada mas onde o fogo reacendeu novamente, estando também próximo de algumas casas de S. Simão (uma delas acabaria por arder, perto das 23:00).
Aqui a aflição é maior por se tratar de zona de perímetro urbano a fazer fronteira com a grande mancha florestal do lado de S. Simão. As chamas são intensas e é nessa mesma área que se concentram várias corporações.
Uma das moradoras apelou, inclusivamente: “Que se faça manhã, rápido. Já não se aguenta…”, dada a quantidade de fumo e o sentimento de impotência de quem nada mais pode fazer.

O espírito de entreajuda e a preocupação entre vizinhos são notórios, relembrando-se certos procedimentos e cuidados a ter em conta: “Já desligaste o gás? Não tens nada mais que devas desligar? Olha que o fogo está a chegar ali atrás do teu quintal!”.
Junto a Andreus, na Fonte do Salgueiral, as corporações de bombeiros combatem as chamas em zona de eucaliptal, tentando evitar que o fogo avance para Mivaqueiro, localidade próxima de Carvalhal e S. Simão. Numa das casas está um aspersor ligado, mantendo um perímetro de segurança, e as mangueiras são esticadas pela estrada fora, para prevenção.

A população auxilia os bombeiros, havendo até quem de motociclo ajude a encaminhar as corporações para os locais de combate ao fogo e quem venha trazer águas ao local, onde a área ardida se faz notar com o crepitar de troncos à saída de Andreus, no sentido de Sardoal.
O clarão é intenso, e delimita na escuridão da noite as frentes ativas do incêndio. Abrantes e Sardoal estão mergulhadas em fumo denso, tornando impossível permanecer muito tempo na rua, onde a respiração é muito difícil. Os populares mais destemidos espreitam das varandas, ou dos miradouros, ou avançam rua fora com máscaras ou lenços a tapar a cara. Os carros estão cobertos de cinzas que o vento, a soprar com alguma intensidade, transporta.

No Sardoal, os acessos nos cruzamentos para S. Simão e Sentieiras encontram-se cortados, bem como para o Carvalhal. À beira das estradas, junto a esses mesmos cruzamentos, estão aglomerados de pessoas preocupadas com o evoluir do fogo, verificando-se muita gente a caminhar ao longo das vias, para ir averiguar a situação com os próprios olhos.

Além da casa ardida em S. Simão, Sardoal, o comandante Paulo Cardoso, do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém, disse à Lusa ter também informação de uma casa ardida na Rua da Glória, em Carvalhal (Abrantes), sem vítimas, situação confirmada pelo presidente da junta de freguesia.
O autarca Luís Serras disse que dois irmãos ficaram desalojados e foram acolhidos por familiares, sublinhando ter sido esta a única casa ardida na freguesia, o que atribuiu à intervenção “pronta e incansável” dos bombeiros.
Paulo Cardoso confirmou também a evacuação de uma casa em Sobral Basto, da qual foi retirado temporariamente e por precaução o casal que aí reside, por se tratar de pessoas invisuais que teriam dificuldade em deixar a habitação, que está numa zona isolada, se isso fosse necessário.
Segundo Paulo Cardoso, ao longo da tarde foi acionada a presença de ambulâncias para o caso de ser necessário retirar pessoas com mais dificuldade de mobilidade, como era o caso de um lar situado em Carvalhal, o que acabou por não se verificar, situação igualmente referida por Luís Serras.
Com o cair da noite, os meios aéreos desmobilizaram, cerca das 20:30, altura em que o combate “começou a ser dividido entre a parte florestal e a defesa de pessoas e bens”.
O incêndio de maiores dimensões, que mantinha três frentes ativas a esta hora, lavrava desde as 15h51 na freguesia de Fontes, Abrantes.
Paulo Cardoso disse ainda que estão mais reforços “em trânsito” para Andreus, em Sardoal, cujo incêndio começou às 18:38 e mantinha duas frentes ativas duas horas depois, com equipas de Lisboa e Santarém do Grupo de Reforço para Incêndios Florestais (GRIF), o que “vai implicar um reforço de 68 homens no terreno”. O “vento forte e as condições do terreno” foram as duas principais dificuldades apontadas pelo responsável do CDOS nos dois locais.
Em declarações à Lusa, a presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque, disse que o incêndio está “a lavrar com grande intensidade”, com “uma frente muito ativa e várias projeções”, tendo relatado que “há casas que podem estar em perigo, pelo sentido do vento”, nomeadamente nas aldeias de Fontes e Carvalhal, no norte do concelho, zona de grande densidade florestal.
“A situação é muito preocupante e as pessoas estão todas nas ruas e no miradouro a acompanhar o evoluir das chamas. Estamos todos muito apreensivos porque não esquecemos a devastação que os fogos causaram aqui em 2005”, lembrou a autarca.
Às 3h da madrugada os bombeiros referiram que a acalmia do vento estava a ajudar o combate, havendo a expectativa de que a situação evolua positivamente nas próximas horas.