Apresentação do projeto ‘Ouvir o Presente, Cuidar o Futuro: Homenagear Maria de Lourdes Pintasilgo’

No dia em que Maria de Lourdes Pintasilgo completaria 88 anos, a Fundação Cuidar O Futuro e a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, em parceria com o Graal, apresentaram na quinta-feira, 18 de janeiro, em Abrantes, a sua terra natal, o projeto ‘Ouvir o Presente, Cuidar o Futuro: Homenagear Maria de Lourdes Pintasilgo’.

“O prioritário é mudar a vida”, “mudar as estruturas, mudando-nos” e “cuidar o futuro”, defendia Maria de Lourdes Pintasilgo, a única mulher que ocupou o cargo de chefe de Governo em Portugal, mas que foi muito além disso, não só pelos múltiplos cargos que ocupou, mas pelo seu pensamento em prol da igualdade e na defesa dos direitos das mulheres e dos mais vulneráveis.

O evento público na Biblioteca Municipal de Abrantes iniciou uma homenagem nacional a Maria de Lourdes Pintasilgo, que se enquadra nas comemorações dos 40 anos da institucionalização da organização que precedeu a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG).

(da esquerda para a direita) Margarida Santos, Maria do Céu Albuquerque, Alexandra Silva e Maria Antónia Coutinho

Como anfitriã da sessão a presidente da Câmara Municipal referiu ser “um privilégio” receber em Abrantes uma iniciativa em que “somos desafiados à luz daquilo que foi o pensamento de uma mulher desafiante, à frente do seu tempo, que continua atual naquilo que são as políticas públicas para criar condições para uma efetiva cidadania e igualdade do género”.

Lembrando a “grande mulher e grande humanista”, Maria do Céu Albuquerque mencionou a compra, por parte da autarquia, da casa onde nasceu Maria de Lourdes Pintasilgo dando conta que o projeto será no âmbito do Plano Municipal para a Igualdade relacionado com a rede especializada de intervenção na violência, colocando o imóvel recuperado “ao serviço das vítimas, das famílias, para um atendimento e acolhimento” que não será temporário.

Disse ainda que o Plano Municipal para a Igualdades encontra-se neste momento em fase de revisão admitindo não ser “um trabalho perfeito, que faz sentir já objetivos mensuráveis a serem concretizados” mas uma intervenção que “possa ter consequência nas gerações vindouras”.

Apresentação do projeto ‘Ouvir o Presente, Cuidar o Futuro: Homenagear Maria de Lourdes Pintasilgo’

O pensamento de Maria de Lourdes Pintasilgo foi abordado pelo sociólogo, investigador e professor da Universidade de Coimbra e também deputado à Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda, José Manuel Pureza, defensor em várias intervenções publicas que o País “tem uma dívida por saldar” com a antiga primeira-ministra.

Disse: “Pintasilgo detestava a simplificação e o pensamento fácil que acantona a realidade em gavetas arrumadinhas (…) Certamente pela verticalidade e pelo seu desassombro no modo de encarar a complexidade das coisas, foi sempre uma cultora da não fronteira”.

Nas palavras “mudar a vida” José Manuel Pureza considera que Maria de Lourdes Pintasilgo sintetizou “dois grandes pilares de uma política emancipadora. O primeiro é ‘mudar’, o princípio da ação política é a transformação (…) a política nunca foi uma arte do possível resignada a um possível que seja perpetuação do que está”. Para Maria de Lourdes Pintasilgo “a política é a arte de com o possível transformar”.

O segundo pilar “a vida. O que tem de ser mudando são simultaneamente as estruturas e as mentalidades, o micro e o macro, o intimo e o social . Não se muda o campo socioeconómico sem mudar o olhar, e não se muda o olhar se a relação de poder socioeconómico se mantiver inalterada”.

Disse ainda: “A defesa de uma democracia completa, paritária, alicerçada ao conhecimento e à transformação (…) valeu-lhe a desconsideração do Portugal pequenino e mesquinho. Esse Portugal de chicos-espertos, da vidinha, do respeitinho, da inveja, esse Portugal de senhoritos empertigados (…) que não perdoou o facto de ter sido interpelado por uma mulher inteligente e irreprimivelmente livre”.

Apresentação do projeto ‘Ouvir o Presente, Cuidar o Futuro: Homenagear Maria de Lourdes Pintasilgo’

Usaram também da palavra a presidente da Fundação Cuidar o Futuro, Margarida Santos; Maria António Coutinho, representante do Graal e a presidente da Plataforma Portuguesa Para os Direitos das Mulheres, Alexandra Silva.

Foi apresentada a 2ª edição do relatório Cuidar o Futuro que brevemente poderá ser consultado on-line http://plataformamulheres.org.pt/. E também exibido o filme de lançamento do Relatório Cuidar o Futuro (1998).

A sessão decorreu na sala polivalente da Biblioteca António Botto, presidida pela secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro que na sua intervenção afirmou: “O projeto apresentado em Abrantes é apoiado pelo Governo porque celebra o papel absolutamente determinante que Maria de Lourdes Pintasilgo teve na significação e na afirmação das políticas públicas de igualdade entre mulheres e homens e na defesa dos direitos das mulheres e dos mais vulneráveis. E este é um legado singularmente global, que pensa o mundo e com o mundo, sendo, por isso, um legado profundamente humanista”.

E continua garantindo que esta visão “tem sido a nossa abordagem e ambição, na construção de políticas que se querem estruturantes, capazes de responder à natureza sistémica e multidimensional das desvantagens, de reconhecer a especificidade das necessidades na globalidade do objetivo, de tornar visível o invisível, e de responder, ouvindo e incluindo”.

Rosa Monteiro sublinhou que “é a este projeto e visão que o Governo quer dar expressão e concretização” porque “esta é a visão da recentemente aprovada Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação, para a qual convocámos a sociedade civil, e que voltamos a convocar agora em sede de consulta pública. A construção de um Portugal mais igual é aquilo que move esta Estratégia, associando objetivos estratégicos a níveis de qualidade de vida, procurando realizar a responsabilidade de cuidar nas linhas de atuação que desenha. Por isso está alinhada com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Para isso, atua ao nível do mercado de trabalho, no qual define ações concretas nas áreas fundamentais da parentalidade, da conciliação, da igualdade salarial, da dessegregação ocupacional, e da tomada de decisão, assumidas como prioritárias para uma participação mais igualitária e promotora de uma verdadeira cidadania cuidadora”.

Maria do Céu Albuquerque ofereceu um livro à secretária de Estado Rosa Monteiro

Rosa Monteiro lamentou, tal como o fizera anteriormente Alexandra Silva, “a lacuna da memória recente das gerações mais jovens sobre quem foi e o pensamento de Maria de Lourdes Pintasilgo”, um vazio “que temos de combater e encontrar as formas mais adequadas para o fazer”, vincou.

A presidente da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres havia chamado a atenção para a necessidade de “democratizar o pensamento de Maria de Lourdes Pintasilgo” para que chegue às pessoas mais novas do País.

 

 

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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