De Abrantes partiu na segunda-feira rumo à Polónia um camião cheio de solidariedade com 24 toneladas de apoio humanitário para o povo ucraniano. Com destino a Lublin, cidade polaca junto à fronteira com a Ucrânia, este camião leva como carga bens de primeira necessidade doados pela comunidade abrantina e de concelhos limítrofes no âmbito da campanha que decorreu entre os dias 4 e 18 de março e que contou com o apoio das Juntas de Freguesia, Delegação de Abrantes da Cruz Vermelha e Bombeiros de Abrantes.
“Este é um carregamento com amor, com a solidariedade que cada um pode prestar. A comunidade movimentou-se e prestou de facto um serviço extraordinário de apoio, e aquilo que desejamos é que o camião possa chegar nos próximos dois dias e meio de viagem ao seu destino e que estes bens possam verdadeiramente aquecer a alma daqueles que estão do outro lado, num cenário de guerra e que estão a precisar da nossa ajuda. Que o camião possa fazer uma viagem tranquila, em paz, e que rapidamente a guerra possa terminar, esse sim, seria o momento histórico e importantíssimo para a humanidade”, disse o presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, junto ao camião.

Dentro de três dias, o camião com os alimentos não perecíveis, produtos de higiene para adultos e crianças, medicamentos, material de primeiros socorros, roupas quentes e comida para animais, entre outros bens, deverá chegar à cidade polaca de Lublin e será descarregado no armazém da associação humanitária IHRC – Internacional Human Rights Commission, em articulação com a Embaixada Portuguesa na Polónia.
“É um camião cheio de solidariedade da comunidade abrantina, das nossas instituições, dos cidadãos, com apoio, obviamente, sempre e como é normal, das juntas de freguesia do nosso concelho, com os nossos serviços sociais liderados pela nossa vereadora Raquel Olhicas, mas, sobretudo, é uma manifestação de apoio de emergência, de uma situação que todos nós lamentamos profundamente esta guerra nos dias de hoje na nossa Europa, numa Europa que tem de estar cada vez mais unida e este é um exemplo do fracasso da humanidade e aqui vai um camião cheio de solidariedade de todos aqueles que se envolveram connosco para conseguirmos ter um camião cheio de bens alimentares e de bens ligados à área da saúde. Sobretudo, isto é uma expressão de apoio, de humanidade também aqui, bem presente, e nós agradecemos muito, e, como eu tenho dito muitas vezes, a união faz Abrantes, faz a nossa comunidade, e sempre que é preciso os abrantinos juntam-se e esforçam-se para conseguir fazer mais e melhor e é isso que está a acontecer”, realçou o autarca.

Questionado sobre o acolhimento de refugiados ucranianos, Manuel Jorge Valamatos disse que já chegaram algumas pessoas e que 10 crianças estão já inscritas nas escolas do concelho de Abrantes, num trabalho articulado entre os 13 municípios do Médio Tejo.
“Como sabem, no âmbito da Comunidade Intermunicipal alugámos três autocarros que foram para a Polónia para trazer cidadãos refugiados, houve a separação dessas pessoas pelas diferentes respostas dos 13 municípios, e é esse trabalho que continuaremos a fazer, atentos, para conseguimos fazer o melhor que sabemos e que podemos para ajudar o povo ucraniano que neste momento precisa da nossa ajuda”, .
“Alguns [refugiados] já estão em Abrantes mas todos os dias chegam pessoas, mesmo agora fomos informados que há mais um cidadã que foi acolhida por familiares, por amigos, no fundo são estas comunidades que têm estas ligações de proximidade com os seus concidadãos e que vão recebendo e depois nós estamos aqui também com as diferentes organizações e instituições para fazer este trabalho para que consigamos dar as melhores respostas. Temos cerca já de 10 alunos já matriculados nas nossas escolas, quer no Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Fernandes, quer no Agrupamento Dr. Solano de Abreu, e os diretores das escolas e os professores e a comunidade educativa estão também a dar as respostas para criarmos as melhores condições para que estas crianças possam retomar a sua vida normal, ou dentro da maior normalidade possível, e é isso que estamos a acompanhar a todo o tempo”.

O camião com 24 toneladas de ajuda humanitária saiu de Abrantes graças à generosidade da comunidade, instituições, particulares e empresas, sendo exemplo a atitude da Oke Tillner-Perfis, instalada em Abrantes, que decidiu suportar a despesa com o aluguer do camião, em alguns milhares de euros. Sónia Ferreira, diretora da Oke Tillner, disse que o apoio foi dado “com carinho e amor” para apoiar o povo ucraniano e que a decisão foi de todos, desde os colaboradores aos administradores.
Mas os apoios vieram de todo o lado e a campanha pelo povo ucraniano teve uma resposta enorme por parte de toda a comunidade, num manifesto solidário e humanista que a vereadora Raquel Olhicas destacou.

“A comunidade abrantina uniu-se em prol desta iniciativa. É de facto um camião de ajuda humanitária mas cá, em Abrantes, as pessoas estão a acolher com muita responsabilidade e com muito compromisso estas pessoas. Acolhem-nos nas suas casas, muitas das pessoas não têm segundas habitações, portanto é nos quartos onde vivem ao lado que estão a disponibilizar a sua casa, o que é manifestamente uma prova de humanidade fantástica. Temos também as empresas que já estão a enviar ofertas de emprego, de acordo com a especialidade das pessoas, temos pessoas com formação superior e vamos adequar essas qualificações ao tipo de emprego que nos está a chegar. Portanto as empresas, restaurantes, pastelarias, estão connosco em prol desta guerra, de facto. E, portanto, esta situação do acolhimento, da integração, mesmo nas escolas, muitas pessoas que dominam muito bem o ucraniano estão-se a disponibilizar para dar aulas, o que é fantástico, e esta questão de recebê-las em casa é de facto louvável. Estamos mais uma vez muito, muito reconhecidos à nossa comunidade abrantina”.
Presente no momento da partida do camião humanitário estava também o padre António Castanheira, responsável pelas paróquias de São João e São Vicente, de Abrantes, que falou na resposta da Igreja às solicitações, quer em termos de bens, quer no acolhimento de refugiados.

“A Igreja tem estado a dar a resposta que os países não são capazes de dar, motivados certamente também por esta situação tão premente do cuidado de quem está a ser fustigado pela guerra, uns a fugir e outros que ficam lá e que precisam dessa ajuda. O primeiro momento foi a ajuda sobretudo de bens não perecíveis de alimentação e também roupas e medicação, que estamos em colaboração com a Câmara a enviar o transporte que a Câmara de Abrantes disponibiliza, o outro lado extremamente importante é a disponibilização de duas casas, uma que é do Centro Social Interparoquial, uma instituição da Igreja que tem capacidade para 20 pessoas e está pronta. Portanto, assim que venham serão acolhidas nessa casa 20 pessoas. A outra é a própria residência paroquial que, não indo para lá o pároco já, fica disponível para acolher cerca de 10 pessoas, que a casa é muito grande, depende se são adultos ou se são algumas crianças também, mas entre 8 e 10 pessoas ficarão. Essa precisou de algumas obras que estamos a acabar já e que ficará disponível em dois a três dias para receber refugiados”, disse o religioso, tendo registado o “enorme apreço” pela onda de solidariedade em curso.
“Vejo com enorme apreço, não seria de esperar outra coisa de nós portugueses, e a Igreja pode aqui colaborar um bocadinho, até porque está organizada, tem essa sensibilidade, sobretudo com as Cáritas paroquiais e, portanto, é com grande alegria, apesar do sofrimento, o motivo da razão é de facto a situação da guerra, mas é com apreço esta generosidade de todos os portugueses, de todos os cidadãos de Abrantes que têm esta belíssima oferta que será pouco para as necessidades”.
O momento que culminou com a partida do camião rumo à Polónia foi de poesia e palavras sobre a paz e o amor, através da leitura de um poema de Sidónio Muralha, lido por Beatriz Emídio, do serviço de Ação Social do Município de Abrantes.

Em comunicado, a Câmara Municipal de Abrantes manifestou publicamente a sua “gratidão a todos os que contribuíram para a recolha de bens para as vítimas da guerra na Ucrânia e a todas as entidades, empresas, instituições e funcionários que se envolveram nesta missão”.
Recorde-se que a Câmara Municipal de Abrantes tem disponível desde o início deste mês de março o Gabinete de Apoio ao povo ucraniano que tem por objetivo acolher e integrar as pessoas provenientes daquele país, bem como prestar apoio ao nível do alojamento, alimentação saúde, educação e todas as questões relacionadas com a empregabilidade. Este gabinete está sediado no Serviço de Ação Social da Câmara Municipal, na Rua Manuel Constâncio, conta com a colaboração de um profissional Luso-Ucraniano, bem como de técnicos de ação social do Município, e está disponível através do telefone 967 426 700 ou do e-mail abrantesunidapelaucrania@cm-abrantes.pt .
Em colaboração com as diferentes organizações e instituições concelhias, o Município de Abrantes irá continuar a prestar as respostas necessárias para integrar os cidadãos ucranianos que cheguem ao concelho. Refira-se que, até ao momento, já estão 10 alunos ucranianos matriculados nas escolas dos agrupamentos Nº1 e Nº2 de Abrantes.

No âmbito da vigília pela paz na Ucrânia, realizado no passado dia 16 de março, na Praça Raimundo Soares, em Abrantes, numa iniciativa conjunta das Paróquias do Concelho de Abrantes e do Município, foram angariados no peditório da eucaristia cerca de 1200 euros que serão para apoiar as famílias de refugiados ucranianos que se encontram no concelho.