Cila e Manuel Marques não escondiam a emoção pelo carinho demonstrado pela comunidade abrantina. Na sexta-feira, Abrantes estava em peso no Tonho Paulos, num reconhecimento sentido. A amizade corria a rodos.
A filha, Catarina Marques, que ali cresceu e se fez mulher, também dava uma ajuda a tirar imperiais, uma das imagens de marca da casa, a par dos caracóis e das famosas bifanas da dona Cila, que sempre prestou um serviço de amizade e simpatia a muitas gerações que levam o ‘Tonho Paulos’ consigo.

A hora da saída de uma vida de trabalho na cervejaria e a entrada na merecida reforma não estava a ser fácil e as saudades já eram muitas, mesmo antes de passarem o testemunho à futura gerência, um casal conhecido e cliente habitual, que reabrirá portas no dia 1 de maio. O mediotejo.net esteve no ´Tonho Paulos’ na quinta e na sexta-feira, onde entrevistou a família que agora passa o testemunho na gestão do espaço.
VIDEO | REPORTAGEM DA DESPEDIDA DE CILA E MANUEL DO ‘TONHO PAULOS’
Também a filha de Cecília e de Manuel Marques, Catarina, se despediu das pessoas que ajudaram a trilhar este percurso e dos muitos amigos que foram fazendo.
Numa publicação online, que nos enviou, Catarina Marques lembra o historial da centenária casa, como os pais ali chegaram, os momentos em que fazia os trabalhos de casa naquelas mesas com tampo de mármore, a forma como os pais tratavam e eram acarinhados pela comunidade, num emotivo agradecimento.

“Tudo na vida tem o seu tempo e creio que há um tempo certo para tudo: há momentos em que devemos arriscar, momentos em que devemos lutar com todas as nossas forças, momentos em que devemos sonhar mais alto e fazer acontecer… E se para tudo isto é preciso coragem, é igualmente necessária muita coragem para perceber quando é o momento de abrandar e de dar lugar a outros, para que esses outros construam o seu sonho, lutem e também eles façam acontecer.
Isto resume a história dos meus pais à frente do “Tonho Paulos” – que na realidade é a Cervejaria Bilhar – nos últimos 34 anos. Mas esta história começou muito antes quando, há mais de 50 anos, o meu pai saiu de Vale do Arco, uma pequena aldeia no Alentejo, para vir para Abrantes, para “a cidade”.
Foi nessa altura, com 14 anos, que começou a trabalhar na Cervejaria Bilhar, tendo então o Sr. António Paulo como patrão. Depois de alguns anos veio o serviço militar, a mudança para o grande Pelicano, o casamento, vim eu e mais tarde surgiu a hipótese de ficar à frente desta casa que, na sua simplicidade, creio que é hoje uma das imagens de marca da nossa cidade.
Quero acreditar que o Sr. António Paulo estaria hoje orgulhoso, não só pela continuidade da casa criada pelo seu pai, o Sr. Gabriel, mas também por tudo o que ensinou ao meu pai e pelo que o meu pai fez com o que aprendeu.
Os 34 anos seguintes foram de grandes desafios, de muito trabalho, de muita dedicação, mas também de muitas alegrias.
Se estes anos foram um mar de rosas? Não, até porque tudo o que vale realmente a pena dá trabalho e leva tempo, mas o balanço é claramente positivo.
Esta casa faz e fará sempre parte não só da história de vida dos meus pais, mas também da minha: mais do que ser o trabalho deles, foi durante muitos anos a minha segunda casa. Aos nove anos, era numa das mesas de tampo de mármore que eu fazia os trabalhos da escola e era aqui que eu passava grande parte do meu tempo livre, a ajudar no que era preciso. “Coitada”, pensarão alguns; “sortuda”, garanto-vos eu! Aqui construí parte da minha personalidade, conheci um mundo muito para além do meu mundinho, aprendi a conviver com todos e descobri a magia dessa comunicação.
Agora é tempo de os meus pais abrandarem e darem lugar a outros que, tal como eles fizeram, lutem pelos seus sonhos. É a vida a acontecer: semear, fazer crescer, cuidar e renovar.
Nos últimos dias, e em particular no serão de sexta-feira, a casa tornou-se pequena para acolher todos aqueles que por aqui passaram em jeito de “despedida” e isso, garanto-vos, foi a maior alegria e a maior homenagem que todos vós poderiam dar e prestar aos meus pais. Estou-vos MUITO GRATA por esta vossa demonstração de carinho para com eles.
Os meus pais saem de coração cheio e com um sentimento de dever cumprido – para com as pessoas, com quem conviveram diariamente ao longo dos últimos 34 anos, e para com a cidade. De legado, deixam “uma casa feita”: a melhor imperial, as melhores bifanas e as melhores pessoas. Não me peçam modéstia, porque vocês sabem que esta é a realidade!
A essas pessoas, OS NOSSOS CLIENTE E AMIGOS, deixamos um ENORME AGRADECIMENTO por todos estes anos e deixamos também um pedido: acolham quem vem a seguir como nos acolheram a nós. Convosco, esta casa continuará viva e continuará a dar vida à nossa cidade. A quem vem a seguir, Afonso e Fernanda, desejamos que tenham muita saúde para construírem a vossa sorte. Vemo-nos por aí, agora do outro lado do balcão!”, concluiu Catarina Marques.
Obrigado por serem quem são e votos de uma boa e longa vida, dona Cila e senhor Manuel!
