O Dia do Cineclube assinala-se a 14 de abril, e como tal, por todo o país se vai celebrar esta efeméride com projeções, conversas, debates, de norte a sul, ao longo do mês de abril. Em Abrantes o dia será comemorado na terça-feira, dia 18 de abril, numa sessão do Cais de Encontro, no edifício Sr. Chiado, na Praça Raimundo Soares, nº 20.
A partir do filme MORADA, de Eva Ângelo, haverá iniciativas e programação a assinalar o Dia do Cineclube, onde membros, simpatizantes e convidados vão promover, dar a conhecer e enaltecer e homenagear a atividade cineclubista nacional. Em Abrantes, a partir deste filme, é lançado o mote para a partilha de memórias comuns no Cais de Encontro.
“Esta celebração permite promover, dar a conhecer e homenagear a atividade cineclubista no país, confirmando a importância histórica, social, cultural e formativa destas instituições na divulgação e salvaguarda do cinema na sua plenitude”, pode ler-se em nota da FPCC.
Abrantes conta com a atividade do Cineclube Espalhafitas, pela mão da Palha de Abrantes – Associação de Desenvolvimento Cultural, em Abrantes, conseguindo o envolvimento de miúdos e graúdos em diversas iniciativas ao longo do ano.
O Espalhafitas, nascido em 2002, é um “agente para a formação de e através do cinema, para a produção e realização de filmes de animação e documentários e para a exibição e promoção da cultura cinematográfica”.
Com o fechar de portas do Cine-Teatro São Pedro, em Abrantes, tem levado a cabo exibições de obras diversas da produção cinematográfica nacional e internacional, às quartas-feiras, no Centro Cultural Gil Vicente, em Sardoal.

A FPCC – Federação Portuguesa de Cineclubes destaca o texto comemorativo do Dia do Cineclube enviado por Abílio Hernandez, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), com amplo trabalho de investigação e de palestras sobre Cinema.
Diretor da Sala de Estudos Cinematográficos da FLUC, professor de disciplinas de Cinema e promotor da Licenciatura em Estudos Artísticos, ocupou vários cargos, nomeadamente o de Pró-Reitor da Universidade de Coimbra, presidente de «Coimbra Capital da Cultura», membro da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário do Cinema e Diretor do Teatro Académico Gil Vicente.
DIA DO CINECLUBE
14 de Abril de 2023
No Dia do Cineclube, celebremos o cinema, criador de mundos impossíveis e tempos paralelos, povoados por corpos de luz e de sombra, que nos seduzem e em que projetamos as nossas emoções, da alegria ao riso, da sideração ao terror.
Comemoremos, com cada cineclube, uma comunidade de olhares em que cada um de nós inventa um cinema para si mesmo, na esperança de partilhar essa experiência individual, através de uma fala comum, uma conversa vadia e a revisitação em grupo.
Celebremos a construção de uma memória sem a qual não é possível compreender o cinema, a sua história e a linguagem que ele reinventa em cada plano, em cada corte ou encadeado, em cada panorâmica ou travelling.
Cultivemos o imprescindível sentido crítico, mas não abandonemos a cinefilia enquanto rendição subjetiva à legitimação de um gosto. Acreditai que não são contraditórios. Foi com a cinefilia que se foi fazendo, à velocidade de 24 fotogramas por segundo, a história do cinema. E foi a partir dela que o cinema se legitimou e conquistou o direito de fazer parte da história da cultura e da arte da nossa modernidade e da nossa contemporaneidade, esse lugar que Godard
reivindicava em 1959, defendendo, para escândalo de muitos, o princípio de que um filme de Hitchcock era tão importante como um livro de Aragon.
Mantenhamos vivo o ritual de sair para o espaço público de uma sala de cinema. Não por qualquer nostalgia serôdia, mas para ver cinema no seu lugar identitário, a sala escura, com o feixe de luz que a atravessa, na ânsia de atingir o ecrã onde, quando este se ilumina, nasce um mundo maior do que o nosso, onde atualizamos o nosso desejo, numa viagem que faz de nós viajantes sem residência fixa, comprometidos com uma errância que concilia o prazer com uma interrogação sobre os sentidos do mundo e sobre a nossa relação com ele. O que o cinema nos pede é que habitemos esse mundo como se fosse o nosso. Como, na realidade, é.
Só na sala de cinema podemos viver a experiência de pertencer a uma comunidade de espectadores, enquanto lugar de convivialidade, descoberta e liberdade.
Abílio Hernandez