Matilde Mascate. Créditos: Eunice Lopes e Daniel Guiomar

Apresenta gestos descomplicados, com alma cantadeira e resiliente, por sentir ter nascido para a música. Em bom rigor, para ser cantora. O trejeito de uma menina que acabou de entrar na idade adulta e revela a esperança de obter aquilo que sonhou conquistar. Matilde Mascate estreou-se aos sete anos a cantar fado apesar de não ter nascido numa família de artistas, à exceção de uma tia que em tempos longínquos também arriscou cantar o fado.

Neste seu percurso pelo fado contou com o apoio da família e da fadista abrantina Dora Maria, tendo participado em concursos, no FestFado em Ponte de Sor e subido a outros palcos em Alpiarça, Abrantes, Benavente ou Gavião, sendo até cabeça de cartaz.

Aliás, tudo começou em Gavião numa noite de fados na escola, evento organizado por Dora Maria onde também participaram Francisca Gomes, de Abrantes, e Madalena Gil, de Alcanena. As três, na época, não passavam de crianças mas “correu muito bem”, diz Matilde ao mediotejo.net, confessando ser “a pessoa mais nervosa antes de entrar em palco”.

Contudo, nota, “é subir e acalma. Mesmo em frente ao público parece que estou sozinha e canto só para mim”, confidencia.

Matilde Mascate com a fadista Joana Cota em Alferrarede em 2016. Créditos: DR

Conta que as suas memórias a colocam sempre a cantar, “nas aulas, com as colegas de escola”. Matilde não tem nenhuma amiga que queira seguir uma carreira artística mas tem consciência que este desejo “é um tiro no escuro”, um risco do qual não está disposta a desistir.

Até porque desde pequena que investiu na sua educação musical. Aprendeu a tocar flauta transversal, depois durante cinco anos estudou viola, parou e voltou para aprofundar o conhecimento.

Agora Matilde tem outra voz. Diz que se alterou, desde há três anos a esta parte, e vê-se num futuro dedicada à música Pop e R&B. O fado é algo que quer deixar para trás tal como a situação de pandemia. Há dois anos que aprende viola na escola do professor Acácio Teixeira em Abrantes, que na realidade teve também um papel importante no último trabalho da jovem, lançado na data em que celebrou 18 anos.

O vídeo, no qual Matilde aposta num cover e canta ‘A Million Dreams (from The Greatest Showman)’, revela a sua bonita voz e as paisagens da sua terra ribeirinha, bem como o Monte da Várzea e o rio Tejo como cenário de fundo.

YouTube video

“Quis promover a minha terra, a região e mostrar o que o interior tem de bom”, justificou. Em poucas horas o vídeo conseguiu logo três mil visualizações.

Declara ter gostado de toda aquela produção algo cinematográfica, que envolveu, inclusivamente, a égua residente no Monte da Várzea e os novíssimos passadiços de Ortiga. Na verdade “senti-me em casa. Sinto-me em casa no palco. Espero fazer isto no futuro, todos os dias”, refere.

O cover serviu para Matilde mostrar as suas capacidades vocais que futuramente, como a artista que sonha ser, cantará em língua portuguesa mas também em inglês.

Matilde Mascate. Créditos: Eunice Lopes e Daniel Guiomar

Para o vídeo, um presente dos pais na celebração dos seus 18 anos, acabou por encontrar um estúdio de gravação em Abrantes, e contou com a orientação e os arranjos musicais do professor Acácio Teixeira. No presente de aniversário, além da satisfação, encontrou igualmente uma “tentativa” de divulgar o seu trabalho.

“Pouca gente conhecia esta versão pop. As pessoas ouviam e viam o fado como o meu género musical. E por isso ficaram surpreendidas. Gostava que o vídeo fosse uma alavanca para outras coisas que possam acontecer. Espero que as pessoas gostem e o partilhem ao máximo”, declara.

Escolheu uma música que fala de milhões de sonhos porque se revê na mensagem e no significado da letra da canção.

Matilde Mascate a cantar fado. Créditos: Diniz Muacho

Revela ter tido vários convites para integrar uma banda musical, no entanto, a sua menoridade impediu que aceitasse. “Era menor de idade e a estudar era complicado, por isso não aceitei”, explica. Contudo, no futuro vê-se a cantar numa banda, aliás “ter uma banda é o meu objetivo!”.

Matilde Mascate nasceu em Abrantes no dia 11 de outubro de 2003, vive em Alvega mas está prestes a dar o salto para o país vizinho. Estudou em Mação e em Gavião, onde termina o 12ª ano como aluna de Turismo, com viagens em mente que passam ao lado do lazer e são algo definitivas. A capital de Espanha, Madrid, é o próximo objetivo. E a escola onde espera encontrar uma porta de entrada para o caminho que a levará à concretização de uma carreira artística.

Matilde Mascate com a fadista Joana Cota em 2017. Créditos: DR

Brevemente “quero ir estudar para Madrid!”, afirma, sem hesitações, embora lamente deixar as suas pessoas para trás e tenha de aventurar-se sozinha. O curso também está escolhido; Composição e Produção Musical. E igualmente em breve, concretamente em 2022, pretende lançar uma música de sua autoria. “A produção começa este ano”, adianta.

Tem ambições para uma carreira internacional e confessa querer manter-se em Madrid para além do estudo, onde, considera existir “um mercado musical diferente”. Além disso, os seus músicos favoritos são quase todos espanhóis. Conta que entre as suas referências estão Tini Stostell e Rugger Pasquareli, embora declare um gosto musical eclético.

Matilde Mascate. Créditos: Eunice Lopes e Daniel Guiomar

É com algum lamento que reconhece não ver portas abertas à oportunidade no seu país. Por isso defende um “maior apoio” público para os jovens que querem seguir uma área musical, particularmente “no interior, nos meios mais pequenos”, nomeadamente em forma de cursos profissionais ligados às artes também de palco. Foi precisamente por falta de escolha que optou pelo Turismo. “Se tivesse opção de artes, certamente que o teria feito”.

Para já é possível ouvir Matilde no canal que criou recentemente no YouTube. A jovem reconhece que as plataformas digitais desempenham um papel fundamental na divulgação de talentos e sonhos, dando-lhe a visibilidade que tem hoje.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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