Entrevista a Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes, no âmbito do Dia da Cidade. Foto: mediotejo.net

Abrantes comemora esta segunda-feira, dia 14 de junho, o 105º aniversário da elevação da “Notável Vila de Abrantes” à condição de cidade. Sem os habituais espetáculos musicais, o dia vai ser preenchido com homenagens, condecorações e a inauguração de espaços culturais.

Numa entrevista que decorreu nos jardins do castelo, berço da fundação de Abrantes, o presidente da Câmara Municipal destacou os acontecimentos do Dia da Cidade, falou do território, do presente e do futuro do concelho, assim como da rede de museus que está a nascer em Abrantes.

Manuel Jorge Valamatos frisou ainda a importância de robustecer a mística da cidade florida e o orgulho das gentes na sua marca identitária. “A flor e a cidade florida é de facto uma marca e queremos reforçar esse posicionamento, precisamos dos moradores, das lojas, das empresas, de todos, para construirmos este mesmo projeto em conjunto, e só dessa maneira é que isso é conseguido”, vincou. 

Abrantes comemora esta segunda-feira, dia 14 de junho, o 105º aniversário da elevação da “Notável Vila de Abrantes” à condição de cidade. Foto: mediotejo.net

105 anos da elevação de Abrantes a cidade, mas séculos de história, como vai ser este dia da cidade, tendo em conta a pandemia?

Sim, é verdade, é o 2º ano em que infelizmente não conseguimos fazer as nossas festas de forma normal, todos nós nos lembramos das nossas praças cheias nos concertos, na animação dos restaurantes, nos bares, toda a animação. Este é sempre um ponto de encontro dos abrantinos sobretudo os jovens do ensino superior que estão fora, os que trabalham fora, é um reencontro de família e amigos nestes dias das festas de Abrantes. Todos nós os abrantinos sentimos que este é um dos momentos da nossa vida coletiva e é com muita tristeza de facto que mais um ano não vamos ter as festas tradicionais.

Vamos apenas ter as cerimónias oficiais tal como aconteceu no ano passado. Vamos ter de manhã a homenagem aos nossos trabalhadores e também vamos homenagear este ano as nossas escolas, os nossos estabelecimentos de ensino, o Agrupamento de Escolas nº1 e nº2, a Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA), Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes (EPDRA), em Mouriscas, e também a Universidade Aberta. Entendemos que os nossos estabelecimentos de ensino desempenham um papel importantíssimo na nossa comunidade, e ao exemplo do que fizemos no ano passado, em que homenageámos o Centro Hospitalar do Médio Tejo e em particular o hospital de Abrantes – até porque o hospital tinha sido estruturado e organizado para ser referência Covid e foi um trabalho imenso que todos os profissionais ligados à saúde tiveram e quisemos homenageá-los; há dois anos fizemos também um agradecimento ao Regimento de Apoio Militar de Emergência, também muito importante na cidade; – ao longo destes anos temos vindo a enaltecer, a sublinhar, a importância das instituições no nosso território e é isso que vamos continuar a fazer, de manhã fazemos essas cerimónias e à tarde vamos inaugurar, na Igreja de São Vicente, os altares que foram todos recuperados, um investimento importantíssimo, numa articulação com a DGPC e depois vamos ter a reinauguração da Igreja de Santa Maria do Castelo, que está espetacular, com uma nova leitura, é neste momento o panteão dos Almeida, também este simbolismo que tem para a cidade, é o espirito do lugar, foi aqui também que as nossas tropas se prepararam e arrancaram para Aljubarrota para garantir esta nossa nacionalidade, por isso julgo que vamos ter as cerimónias oficiais com um programa muito interessante, mas sobretudo fica esta ideia de pela manhã homenagear os nossos e de à tarde disponibilizar à comunidade e aos que nos visitam duas peças patrimoniais muito importantes, os altares da Igreja de São Vicente e o espaço renovado de Santa Maria do Castelo.

Abrantes é um município composto por 19 freguesias, algumas delas agregadas em União, num território com 714 km2. Foto: mediotejo.net

Tem respondido a algumas críticas ou chamadas de atenção para um território a duas velocidades afirmando que aposta na equidade e democratização de um município com 19 freguesias e com 714 km2. Que leitura faz desta dinâmica e que comentário lhe merece estas críticas?

Eu compreendo que as pessoas possam ter diferentes interpretações, naturalmente. E escuto e oiço com muita atenção aquilo que todos sentem e entendem, no entanto, há uma questão que não representa dúvidas que é a dimensão do nosso território, 714km2, para se ter uma ideia temos um território do tamanho da ilha da Madeira, e temos 13 freguesias que no fundo acabam por ser 19, porque embora as uniões de freguesias não deixámos de ter as diferentes comunidades nos diferentes lugares e é evidente que cada comunidade tem a sua especificidade, somos todos abrantinos mas existem as identidades, características e costumes de cada uma das freguesias, e como é óbvio é mais difícil gerir um território com estas dimensões do que outro que seja mais pequeno.

Agora, eu julgo que os abrantinos confiam em mim, pois temos feito um trabalho de reforço daquilo que é a proximidade com as juntas de freguesia e as suas equipas, com os cidadãos e instituições dos diferentes lugares e temos feito um reforço financeiro, por exemplo no âmbito dos contratos interadministrativos, nunca se atingiram os valores financeiros para se dar respostas efetivas aos diferentes lugares no concelho, e tenho procurado em todas as áreas e domínios essa democratização do território, aproximar as pessoas de uma entidade única de Abrantes, mas por outro lado dar as respostas todas possíveis neste território imenso. É evidente que há sempre muita coisa por fazer, não conseguimos fazer tudo em todo o lado ao mesmo tempo, mas veja-se as intervenções feitas nas redes viárias, a intervenção feita no Pontão de Esteveira, num lugar que tem pouquíssimas pessoas, e não deixámos de nos responsabilizar. Todos os cidadãos em Abrantes são importantes e todos os lugares são importantes para nós, tenham um, cem ou mil habitantes, mas é evidente que o território é muito grande e não conseguimos fazer tudo ao mesmo tempo em todo o lado, mas a pouco e pouco vamos lá chegar, temo-lo demonstrado e espero merecer essa confiança deste sinal de equidade no território que é isso que eu falo. Ao nível das escolas, dos espaços públicos, temos procurado criar o maior equilíbrio possível em todas as freguesias e vamos continuar a fazê-lo.

“Temos procurado criar o maior equilíbrio possível em todas as freguesias e vamos continuar a fazê-lo” – Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes. Foto: mediotejo.net

Queria falar do centro histórico da cidade e também dos lugares históricos das freguesias, as 19, e também de um problema inerente, que não é exclusivo de Abrantes, que é a desertificação. As áreas de reabilitação urbana que já estão a avançar podem eventualmente estender-se a todo o território e como é que o casco histórico da cidade que tem muitos prédios devolutos, podem ajudar a captar e fixar juventude e novas pessoas na cidade e no concelho?

Até era bom que existissem freguesias (e há) que não tivessem necessidade de implementar as tais áreas de regeneração urbana, o que corresponde a dizer que a freguesia está dinâmica e não precisa. Nós estamos a implementar áreas de regeneração urbana em sítios que apresentam níveis de degradação muito elevados dos edifícios e das infraestruturas. Isso começou aqui na cidade, foi a primeira área de regeneração urbana que foi feita, agora já conseguimos chegar e estamos a implementar a área de regeneração urbana em Rossio ao Sul do Tejo e em Alferrarede, porque são zonas que apresentam de facto os seus edifícios, estruturas e espaços públicos a precisar de intervenções urgentes e níveis de degradação muito visíveis, e obviamente que temos também de procurar mecanismos de mobilização da própria sociedade para a reabilitação destes espaços.

É evidente que queremos chegar a outras freguesias, como Tramagal, Rio de Moinhos, Alvega, mas existem de facto algumas freguesias que felizmente não necessitam da criação dessas áreas de regeneração urbana pois continuam dinâmicas e não existem muitos edifícios devolutos ou em ruínas. E a área de regeneração urbana tem regras de implementação, não se pode fazer em todo lado, exige um conjunto de normas. O que é verdade é que havia uma área de regeneração urbana na cidade, no centro histórico, depois já conseguimos chegar ao Rossio ao Sul do Tejo e Alferrarede, e agora vamos querer chegar obviamente a outras freguesias que tenham necessidade e que estejam de acordo com aquilo que são as orientações para os planos de regeneração urbana.

“Até era bom que existissem freguesias (e há) que não tivessem necessidade de implementar as tais áreas de regeneração urbana” – Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes. Foto: mediotejo.net

Para além de conferir outra dinâmica aos centros históricos, nomeadamente na cidade, ao comércio, à economia local, em termos de fixação de pessoas, é também importante, uma vez que este é um dos principais problemas com que Abrantes se debate, o êxodo populacional?

Não é Abrantes, é o país inteiro, existem algumas cidades no litoral, as grandes metrópoles, que não têm problemas dessa natureza e mesmo assim em alguns pontos dessas zonas também existem sinais de desertificação. Mas de facto na nossa região, e quanto mais para o interior mais isso é visível, é notório que existe uma ausência de pessoas, as taxas de natalidade são o que são, e na verdade a região no seu todo, e o Médio Tejo em particular, tem muito menos de população do que o que já teve.

É evidente que temos que criar mecanismos, que não a regeneração urbana em si própria, mas temos de ter mais empresas, mais atividade económica, mais dinâmica empresarial; e é por isso que continuamos a investir no nosso parque de ciência e tecnologia, vamos ter mais uma zona para instalação de empresas, mais uma incubadora de empresas, precisamente para mobilizar e cativar mais atividade económica, mais ação empresarial, que é isso que no fundo faz com que as cidades e concelhos possam ter maior robustez e dinâmica, consigam segurar os residentes e captar mais algumas pessoas. É isso que estamos a fazer em Abrantes mas julgo que a comunidade intermunicipal também tem esse aspeto em linha de conta e nas orientações do seu plano de ação para o futuro, e é um trabalho que temos de continuar a investir e continuar preocupados com essa temática.

“Pensamos em inaugurar no próximo mês ainda o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte (MIAA), uma peça estruturante e de uma dimensão inimaginável aqui há uns anos atrás” – Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes. Foto: mediotejo.net

Este dia da cidade conta com homenagem a trabalhadores do município, às escolas, e tem uma forte componente cultural. Temos vários museus em curso para inaugurar, para uma rede de museus de Abrantes e uma nova dinâmica cultural. Qual o ponto de situação?

A Igreja de Santa Maria do Castelo está num processo de renovação, estamos a concluir os últimos trabalhos para que possamos dia 14, segunda feira, reinaugurar este elemento cultural importante para a nossa cidade, concelho e até região, com o panteão dos Almeida, uma dinâmica completamente diferente da normal que foi no passado, e esta é digamos o primeiro elemento de um conjunto de infraestruturas de âmbito cultural que vamos inaugurar em breve, pois pensamos em inaugurar no próximo mês ainda o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte (MIAA), uma peça estruturante e de uma dimensão inimaginável aqui há uns anos atrás.

É uma estrutura que acho que vai orgulhar todos os abrantinos e que vai marcar a região, bem como o Museu de Arte Contemporânea Charters de Almeida que daqui a alguns meses vamos inaugurar e que vai fazer uma interceção com o Jardim do Castelo, e no fundo julgo que temos um conjunto – embora já tivéssemos a Igreja de São João de São Vicente, a Igreja de São João, Santa Maria do Castelo, a Galeria Municipal, ou seja um conjunto de infraestruturas muito interessantes, visitáveis, que puxem pelo turismo – mas agora de facto com o MIAA, o MAC, e a Santa Maria do Castelo renovada, obviamente que ficamos com um conjunto de património cultural de um valor incrível e que vai puxar pela nossa cidade, concelho e região, e nós vamos estar seguramente muito satisfeitos e os abrantinos irão se orgulhar destes novos elementos e das suas dinâmicas.

“A flor e a cidade florida é de facto uma marca e queremos reforçar esse posicionamento” – Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes. Foto: mediotejo.net

A identidade cultural, a identidade de Abrantes tem-se afirmado pela sua história e pelas suas gentes, e também por uma imagem de marca, esta cidade florida. O jardim do castelo é o ex-libris de Abrantes mas por toda a cidade vamos vendo este espírito, esta imagem de marca, como que a renascer. É uma aposta?

Sim, é essa a nossa intenção, a pouco e pouco. De facto a cidade em concreto tem esta marca de cidade florida, que depois acaba por ter reflexos um pouco pelo concelho, e nós não a queremos perder, antes pelo contrário, queremos potenciá-la. Agora esta questão das flores e da natureza, não é uma coisa que se compre ou se faça de um dia para o outro. Nós temos feito pequenas intervenções e articulações também, neste caso em particular com as juntas de freguesia de Abrantes e Alferrarede, para potenciar isso mesmo, bem como temos feito contratos como é o caso do Jardim do Castelo, está muito mais bem cuidado e foi também através da parceria com a Junta de freguesia de Abrantes.

No fundo, estamos todos juntos a tratar do nosso Jardim do Castelo, e também queremos que os cidadãos se sintam parte deste projeto e é por isso que temos vindo a insistir com habitantes para começarem a repensar voltar a por os vasos nas janelas, e isso já vai acontecendo, e fico extremamente feliz quando vejo os moradores a relançar esse cuidado e isso vai acontecendo pontualmente, e queremos reforçar isso mesmo e haveremos de ter medidas específicas para isso mesmo, mas também queremos obviamente construir um universo de dinâmica com a flor maior. Queremos cuidar de forma mais atenta os nossos espaços públicos, investir nesta área das flores, recuperar… uma coisa que vamos fazer rapidamente é procurar restabelecer a nossa estufa que temos no estaleiro para que seja capaz de produzir bastantes flores, para haver uma sustentabilidade, porque apenas comprar flores também é um processo caro, portanto tem de haver contenção e mecanismos de regulação destas ações. Por isso a flor e a cidade florida é de facto uma marca e queremos reforçar esse posicionamento, precisamos dos moradores, das lojas, das empresas, de todos, para construirmos este mesmo projeto em conjunto, e só dessa maneira é que isso é conseguido.

Temos vindo pouco a pouco a melhorar os nossos espaços públicos, a ter mais cuidado no seu tratamento, o jardim do castelo é um bom exemplo disso, é um jardim renovado sem grandes investimentos, mas é renovado, é mais bem cuidado. E é isso que vamos continuar a fazer, de uma forma calma, acho que quase que nem precisamos de publicitar, temos uma cidade muito florida e temos essa característica, e as coisas vão acontecendo com naturalidade.

Entrevista a Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes, no âmbito do Dia da Cidade. Foto: mediotejo.net

O dia 14 de junho, nas suas palavras, é de apelo à união, numa união que faz Abrantes. Dia 14 de junho é dia de conviver, rever amigos, brindar às suas raízes. Qual é a mensagem que deixa aos abrantinos que não vão poder estar presentes por motivos de força maior?

Claro que todos lamentamos por não podermos festejar como é tradicional e normal, vamos restringir um bocadinho e ficar condicionados com as cerimónias oficiais, para marcar obviamente o dia da cidade, mas obviamente que queremos manter aquilo que nos une, este sentido de ser abrantino, de gostar de ser abrantino, de lutar pela sua cidade, pelo seu concelho, e julgo que a maior mensagem é a que tenho vindo a dizer ao longo dos anos que a união faz Abrantes e que em qualquer lugar que possamos estar temos de ter este orgulho de ser abrantino, de ter nascido nesta cidade e neste concelho, e obviamente que em breve seguramente nos iremos abraçar, festejas juntos, comemorar com este sentimento de pertença e de orgulho, estes 105 anos da cidade.

E julgo que o mundo digital nos acaba por permitir hoje estar mais próximos e nos irmos encontrando através das redes sociais, do telemóvel, e desejar que consigamos sair deste processo de pandemia rapidamente, que voltemos à normalidade e que nos possamos encontrar nas festas do próximo ano, para comemorar 106 anos de cidade, com umas festas fantásticas, também para comemorar esta vitória de dois anos de grande dificuldade.

Programa do Dia da Cidade de Abrantes/14 de junho de 2021 

Em cenário de pandemia, e sem os habituais encontros e concertos, o feriado municipal é este ano assinalado em dois momentos: de manhã, com as cerimónias oficiais na Praça Raimundo Soares, em que serão homenageados os trabalhadores com 25 anos de serviço e aposentados, e condecoradas com a medalha de mérito municipal as escolas do concelho.

A tarde do dia 14 de junho será marcada por inaugurações, a primeira das quais relativa às obras de Conservação e Restauro do Património Integrado da Igreja de São Vicente, às 17:00, seguido da inauguração da adaptação da Igreja de Santa Maria do Castelo para instalação da Museografia e Arquitetura expositiva do Panteão dos Almeida, às 18:00.

Fotos: David Belém Pereira/meditejo.net

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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1 Comentário

  1. Pois, mas para ter a mística que falta, tem que olhar para as aldeias e seu habitantes que em pleno século XXI ainda não tem saneamento básico, imprescindível Sr. Presidente…

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