Carlos Bento com os alunos durante a plantação de cerejeira no Dia Nacional da Agricultura no Centro Escolar da Chaínça. Créditos: mediotejo.net

A Confederação dos Agricultores de Portugal galardoou o Centro Escolar da Chaínça, em Abrantes, com o prémio Agroescola, esta quarta-feira, 18 de novembro. Um programa de incentivo junto das escolas para o desenvolvimento de boas práticas e atividades ligadas à agricultura e mundo rural com o objetivo de aumentar a literacia agronómica junto dos jovens. A iniciativa passa por premiar as escolas que já possuem projetos anuais com a distinção de Agroescola e apoiar todas as interessadas a cumprir os requisitos necessários.

Em Abrantes, o Centro Escolar da Chaínça oficializou-se neste Dia Nacional da Agricultura como uma Agroescola ao receber o galardão da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), sendo a única escola no distrito de Santarém a obter o prémio, referente a 2019. Embora a ideia de sensibilizar e capacitar os mais de 250 alunos daquele Centro Escolar para a importância estratégica da agricultura, do mundo rural e do desenvolvimento sustentável tenha começado três anos antes da candidatura, por iniciativa do professor Carlos Bento, coordenador da escola.

“Antes de sabermos que a CAP e o Forum Estudante estavam a desenvolver atividades relacionadas com as escolas, estávamos a fazer uma horta e um pomar pedagógico no Centro Escolar” situados nas traseiras da escola, com o apoio da Associação de Pais, explica Carlos Bento ao nosso jornal.

Ana Barroso entrega o galardão Agroescola no Dia Nacional da Agricultura no Centro Escolar da Chaínça. Créditos: mediotejo.net

O Dia Nacional da Agricultura na Escola é uma iniciativa da CAP e da Forum Estudante, que conta com o apoio da Direção-Geral de Educação, com o objetivo de mobilizar escolas de todo o País em torno de um tema, relacionado com agricultura, com vista à sensibilização das gerações mais jovens para a importância do mundo rural, da agricultura e do desenvolvimento sustentável e para o despertar de eventuais vocações para o setor.

O convite chegou à escola em 2016 para se juntar à CAP no Dia Nacional da Agricultura. “Uma maravilha porque já estávamos a caminhar nesse ano e juntámos uma coisa à outra. A primeira atividade que fizemos nesse Dia da Agricultura foi ‘faz a tua salada’ que parece uma coisa simples mas tentámos dar sabores, verduras, legumes diferentes e ervas aromáticas. A ideia era desenvolver paladares e conhecer uma maior diversidade de legumes” numa época em que “a tendência passa por diminuir a carne e aumentar os legumes e vegetais na alimentação, que nos fazem muito bem”, referiu o coordenador escolar.

Centro Escolar da Chaínça, horta pedagógica. Créditos: DR

A iniciativa é dirigida a alunos do 1.º ao 12.º ano, do ensino regular ao ensino profissional, é disponibilizado às escolas um kit pedagógico, composto por materiais e ideias em torno do tema, este ano dedicado à ‘Evolução Tecnológica na Agricultura’, para que possam desenvolver atividades adequadas com os alunos dentro do espaço escolar.

Além destas poderão, ainda, ser desenvolvidas quaisquer outras atividades que cumpram estes objetivos, tais como exposições, colóquios, aulas especiais, encontros com profissionais, entre outros.

Dia Nacional da Agricultura no Centro Escolar da Chaínça. Créditos: mediotejo.net

No Centro Escolar da Chaínça passou também pelo desenvolvimento “do léxico agrícola, uma preocupação desde o início. Na sequência do que tínhamos feito, fomos convidados para nos candidatarmos a ser uma Agroescola”, explica Carlos Bento.

E a escola seguiu os procedimentos propostos em 2019, designadamente apresentando os relatórios realizados. “Acho que fizemos bem” uma vez que a CAP atribuiu ao Centro Escolar da Chaínça o selo Agroescola, ou seja, “uma escola que utiliza a agricultura e os conhecimentos agrícolas para desenvolver e potenciar todas as outras disciplinas, quer no português como na matemática quer no estudo do meio” diz o professor. Os alunos vão buscar à horta e ao pomar os conhecimentos, “não só ao que está escrito nos livros e ao que o professor fala mas àquilo que veem com os olhos, mexem e sentem”.

Com a dinamização da horta e do pomar pedagógico a escola pretende que os alunos “valorizem a agricultura, os alimentos, aquilo que lhes vai ter à mesa e tenham conhecimentos nesse âmbito. Aliás ninguém dá valor àquilo que não conhece”, nota o professor.

Horta pedagógica no Centro Escolar da Chaínça. Créditos: mediotejo.net

No pomar pedagógico os alunos plantaram 12 árvores diferentes – castanheiro, amendoeira, romãzeira, diospireiro, pessegueiro, marmeleiro entre outras -, cada uma delas apadrinhada por uma das 11 turmas da escola (oito do primeiro ciclo e três do pré-escolar), havendo uma árvore sobrante para as crianças da Componente de Apoio à Família (CAF), ao cuidado da Associação de Pais, representada neste dia por Luís Bandarra. Por seu lado, a horta pedagógica tem 12 canteiros com plantas agrícolas, sendo cada um deles igualmente da responsabilidade de cada uma das turmas, sendo o décimo segundo da CAF.

Da produção agrícola resulta “muitas sopas! Lavam [os legumes e verduras], ajudam a confecionar e depois vamos todos comer essa sopa. No ano passado, as batatas doces foram comidas fritas”, relembra.

Pomar pedagógico no Centro Escolar da Chaínça. Créditos: mediotejo.net

E se na disciplina de estudo do meio é inerente a aprendizagem da agricultura como atividade em que as pessoas cultivam a terra, nas disciplinas de português e matemática, segundo Carlos Bento, “é mais ainda!” afirma.

O projeto pretendia “desenvolver o léxico agrícola” recorda o professor. O nome e a utilização das plantas, o nome e a utilização das ferramentas, portanto “o português é muito desenvolvido inclusivamente os alunos escrevem textos e composições daquilo que vão experienciando na horta. Na matemática a mesma coisa”, por exemplo na resolução de problemas que envolvam as áreas dos canteiros ou o número de couves a plantar, refere.

“Aquilo que vimos, vivemos e experienciamos fixamos muito mais. Se calhar ficam memórias para toda a vida”.

Plantação de cerejeira no Dia Nacional da Agricultura no Centro Escolar da Chaínça. Créditos: mediotejo.net

Entre o material pedido e recebido da CAP, neste Dia Nacional da Agricultura, conta-se “estrume de cavalo” para adubar a terra no sentido de produzir mais e melhor. E também “umas pequenas ferramentas que ajudam na horta e uma cerejeira para substituir outra que morreu” plantada pela turma do 4º ano A, indica o professor.

Para entregar o galardão, bem como os materiais, esteve presente Ana Barroso, da CAP, confirmando ser o Centro Escolar da Chaínça a única escola do distrito de Santarém a receber o galardão de 2019.

Este é um projeto da CAP com quatro anos sendo o objetivo “tentar aproximar a agricultura das escolas. Desmistificar um bocadinho que o agricultor é um poluente, não tem noção daquilo que faz, uma pessoa normalmente rude. É completamente o contrário!”, observou.

Plantação de cerejeira no Dia Nacional da Agricultura no Centro Escolar da Chaínça. Créditos: mediotejo.net

Por outro lado, “os anos letivos anteriores permitiram-nos dar a conhecer aos alunos um conjunto de tecnologias e de inovação que existe ao dispor da agricultura. E se estamos numa zona de agricultura de excelência que é o Ribatejo, onde temos grande parte da inovação, até para uma agricultura muito mais intensiva em termos hortícolas, achámos ser extremamente importante”, refere a representante da CAP.

Além disso, permitir que os alunos “tenham a perceção que para produzir uma área de tomate ou de batata, qual o investimento que o agricultor tem de fazer comparativamente ao que é pago ao agricultor pelo produto à saída do campo e depois dar-lhes a possibilidade de verificarem no supermercado quanto custa o produto. Ou seja, onde está o diferencial entre aquilo que o consumidor paga e o aquilo que o agricultor efetivamente recebe”.

Plantação de cerejeira no Dia Nacional da Agricultura no Centro Escolar da Chaínça. Créditos: mediotejo.net

E se nos anos anteriores a apresentação da CAP baseava-se muito em conteúdos audiovisuais, vídeos e filmes do Ribatejo, “nesta escola devido às contingências da pandemia não nos permitiu mostrar filmes ou fazer outra coisa”, lamenta Ana Barroso, no entanto “será o início de uma parceria” estando já pensado para o Dia Mundial da Árvore de 2021 “uma parceria com a equipa dos sapadores florestais, ensinar a sua função na comunidade”.

O Centro Escolar da Chaínça pertence ao Agrupamento de Escolas nº2 de Abrantes.

Jogo de xadrez oferecido pela Associação de Pais ao Centro Escolar da Chaínça, junto ao pomar. Créditos: mediotejo.net

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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