Elicídio Bilé, Maria da Conceição Pires e Maria do Céu Albuquerque

A Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco entregou este sábado, 23 de junho, a chave referente a uma habitação reconstruída após o incêndio de agosto de 2017, em Aldeia do Mato, no concelho de Abrantes. Para entregar a chave a Maria da Conceição Pires, de 73 anos, e a José Maria Rosa, de quase 80, os proprietários daquela casa, onde vivem cinco pessoas, estiveram presentes Elicídio Bilé, presidente da Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco, o bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco Antonino Dias, a presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque, os vereadores João Gomes e Manuel Valamatos, Álvaro Paulino, o presidente da União de Freguesias de Aldeia do Mato e Souto, os responsáveis da empresa construtora e o padre Carlos Almeida.

No dia 10 de agosto de 2017 a tragédia bateu à porta da freguesia de Aldeia do Mato, no concelho de Abrantes. Um incêndio de grandes dimensões deixou desalojadas duas famílias. Maria da Conceição Pires, o marido, José Rosa, o filho, a filha e o neto são uma dessas famílias que viu o seu lar ser consumido pelas chamas. Perderam tudo, ficaram apenas com a roupa do corpo. Maria acabara de vir da horta quando a foram resgatar a casa, não houve tempo para nada apenas para salvar as suas vidas. Uma projeção atingiu o telhado de madeira que iniciou a arder e a explosão de uma botija de gás destruiu o resto.

“Foi o demónio!” lembra Maria da Conceição ao mediotejo.net. “Ficámos com os farrapinhos que tínhamos no corpo, mais nada”, diz. Recorda que naquele dia de “muitos gritos e aflição” estava em casa quando o filho chegou para a levar dali que o lume já queimava perto. “Não vou! disse ao meu filho, mas depois empurraram-me para dentro da carrinha. Foi a minha sorte, senão tinha ali ficado”.

Cáritas entrega a última casa destruída pelos incêndios em Aldeia do Mato

Maria da Conceição Pires veste de luto, pela perda de um dos seus oito filhos, e emociona-se com a casa nova, que contrariamente à habitação precária anterior, apenas com dois quartos, agora está preparada para uma família de cinco pessoas, com vários quartos, duas casas-de-banho, sala de estar, cozinha com uma grande despensa e até painéis solares no telhado para que a energia do sol possa aquecer a água que os Serviços Municipalizados de Abrantes asseguraram nas ligações à rede de água e saneamento até à Rua do Brejo.

Dez meses depois a família recebeu as chaves da sua casa reconstruída e melhorada devido à boa vontade daqueles que contribuíram com donativos e o empenho das entidades envolvidas, nomeadamente da Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco que, nesta intervenção, contou com o apoio da Câmara Municipal de Abrantes.

O valor da reconstrução desta habitação foi 91.326 euros, acrescido do IVA, totalmente assumida pela Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo. A Câmara de Abrantes participou no processo, tendo sido responsável pela elaboração do projeto de arquitetura e especialidades, pela elaboração do procedimento de lançamento de empreitada e pela fiscalização da obra.

O bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco Antonino Dias, o padre Carlos, Elicídio Bilé, presidente da Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco com a família

Esta família não foi a única desalojada em Aldeia do Mato. Uma senhora idosa que vive sozinha também perdeu parcialmente o lar no incêndio e teve a casa em obras, tendo sido a habitação entregue em abril último.

Durante os dez meses que se seguiram à catástrofe estas cinco pessoas mereceram o apoio da Junta de Freguesia de Aldeia do Mato Souto e da Fábrica da Igreja que acolheu de imediato a família desalojada.

“Vivemos no salão paroquial. O senhor padre Pedro recolheu-nos e nós os cinco estamos lá até poder voltar para casa, mal tenhamos as mobílias” refere Maria, ansiosa por voltar à moradia onde viveu mais de meio século. “Casei para esta casa há 54 anos. Se não fosse a ajuda não tínhamos capacidade para a reconstruir. Ou tínhamos de ir pedir por esse mundo adiante ou então não sei, não tínhamos para onde ir” garantiu a idosa, visivelmente emocionada.

A família de Maria da Conceição Pires e de José Maria Rosa

Das 16 casas que a Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco assumiu o compromisso de recuperar “todas já foram entregues, duas em Aldeia do Mato e outra em Vila de Rei também já entregue” referiu Elicídio Bilé, acrescentando 33 currais na zona de Oleiros, igualmente em trabalhos finais de recuperação, agradecendo o trabalho das autarquias e, particularmente em Aldeia do Mato, ao padre Pedro, “o grande obreiro”.

“Graças ao padre Pedro todo o processo teve um grande dinamismo desde a primeira hora, começando por acolher a família na casa paroquial que foi sempre cuidando para que não lhe faltasse nada e confortando na dor” disse. “Este trabalho foi possível graças à generosidade do povo português que confiou na Cáritas os donativos de uma campanha nacional, foi possível chegarmos aqui”, acrescentou.

O presidente da Cáritas referiu ainda a família de Beatriz da Conceição que “apoiou bastante esta reconstrução, quis concretamente apoiar esta casa”, a última que a Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco assumiu a responsabilidade de reconstruir, encerrando o processo de reconstrução de habitações, num valor total de “450 mil euros. Só na Aldeia do Mato foram 150 mil euros. Nesta casa cerca de 112 mil euros” deu conta.

Cáritas entrega a última casa destruída pelos incêndios em Aldeia do Mato. Maria do Céu Albuquerque, Elicídio Bilé e Maria da Conceição Pires

Durante a cerimónia de entrega das chaves da casa, a presidente da Câmara Municipal, Maria do Céu Albuquerque, observou a “generosidade” dos portugueses dizendo que “podem continuar a ser generosos com a Cáritas” aproveitando o momento para dissipar dúvidas “sobre a forma como são canalizadas as verbas das suas contribuições” para determinado tipo de causas. “Ficou patente que o dinheiro é bem gasto para servir as pessoas” referiu, agradecendo o esforço da Cáritas.

Dirigindo-se a Maria da Conceição, a presidente disse que “Deus escolhe as pessoas quando lhes quer dar alguma coisa em retorno do seu sofrimento. E se a senhora e a sua família perderam esta casa ganharam uma nova com excelentes condições” graças “a uma congregação de vontades”.

Por seu lado, o Bispo Antonino Dias manifestou “alegria por este acontecimento levado a cabo com a colaboração de muitos, que a Cáritas assumiu com a colaboração da Câmara. Foi bom, foi bonito! E ver agora a alegria, ainda que expressa em lágrimas mas é alegria, de se verem dentro de casa. Que se sintam muito bem aqui”.

E “feliz” foi a palavra encontrada por José Maria Rosa para caracterizar o momento. Depois de “um dia horrível” nos incêndios do verão passado, chega o contentamento por “fazerem a casinha. Gosto de estar aqui! Agora já não tenho medo” afirma.

Quanto ao recheio da casa “a família já tem muita coisa” garantiu Elicídio Bilé. “Já fizemos o levantamento do que é necessário, vai chegar algum material e vamos divulgar as necessidades porque é possível conseguirmos também o que está em falta”, explica. E o que falta “são dois quartos, de resto têm praticamente tudo, incluindo eletrodomésticos” que chegaram a Aldeia do Mato igualmente através de donativos.

A obra foi entregue a uma empresa do concelho de Abrantes: Louro Brunheta e Filhos, com sede em Sentieiras, Fontes, que “cumpriu o prazo” concluiu Elicídio Bilé.

Cáritas entrega a última casa destruída pelos incêndios em Aldeia do Mato

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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