Canil/Gatil Intermunicipal de Abrantes, Constância e Sardoal. Foto: Paulo Jorge de Sousa

Ao entrar pelo portão do canil/gatil intermunicipal de Abrantes, Constância e Sardoal existe uma grande possibilidade de encontrar um amigo para o resto da vida. Entre latidos e miados, os cerca de 100 animais que estão atualmente no Centro de Recolha Oficial Intermunicipal receberam de cauda a abanar este domingo a visita de diversas famílias, na esperança de encontrar um novo lar. No Dia Mundial do Animal, o mediotejo.net foi conhecer o renovado espaço do canil/gatil que é gerido pelos municípios de Abrantes, Constância e Sardoal.

“Começamos às oito da manhã, a primeira coisa a fazer é ver se está tudo bem com os animais. Depois, vamos à limpeza, limpar as boxes interiores e exteriores. Em seguida, depois de estar tudo limpo, passamos à alimentação. São distribuídos os comedouros e alimentam-se os animais. Mais tarde, volta-se novamente a dar uma passagem com água. Se não estivermos constantemente a limpar, isto fica tudo sujo”.

Esta é, desde dia 2 de janeiro de 2020, a rotina de Pedro Caxias, um dos funcionários que faz a gestão diária do Centro de Recolha Oficial (CRO) Intermunicipal de Abrantes, Constância e Sardoal. Desde o início do ano que a gestão do espaço é, por via da legislação em vigor, assumida pelos três municípios. No espaço trabalham dois funcionários, o Pedro e a Cátia, além do veterinário municipal do Município de Abrantes, que assume a responsabilidade técnica do canil/gatil (contando com a colaboração dos veterinários municipais de Constância e Sardoal).

Além do contacto direto com os animais, o trabalho de Pedro e de Cátia passa também pela “parte de escritório, fazer publicações nas redes sociais, receber as pessoas que vêm adotar os animais”. Conta-nos Pedro que a força que o move nesta missão de tratar dos animais é “o gosto” e quando lhe perguntamos sobre a dificuldade do trabalho responde-nos apenas que “há alturas em que é preciso pôr o coração de lado”.

“Sábados, domingos, feriados. Os animais precisam de nós todos os dias, precisam de comer todos os dias, de serem limpos, tomar as medicações. Somos só dois, não há férias”, conta ao mediotejo.net.

Pedro Caxias e Cátia Freire, funcionários responsáveis pela gestão diária do canil/gatil intermunicipal de Abrantes, Constância e Sardoal. Foto: mediotejo.net

Neste domingo, 4 de outubro, o canil/gatil abriu portas à comunidade, dando a conhecer os amigos de quatro patas que esperam vir a ter brevemente um novo lar mas mostrando também o espaço renovado, alvo de intervenções nos últimos meses no sentido de aumentar as condições e capacidade de acolher animais abandonados.

“Às vezes as pessoas têm a realidade um bocado deturpada do que se passa num canil. E ao virem cá fica-se com outra ideia de como os animais são tratados. Eles aqui nunca estão bem, eles estão bem é com uma família, mas aqui tentamos ao máximo que se sintam bem”, refere Pedro Caxias.

Lida diariamente com dezenas de animais: à data de 30 de setembro, o CRO Intermunicipal albergava 86 canídeos e 13 felídeos. Refere que nem sempre é fácil gerir temperamentos. “Às vezes, brigam uns com os outros, mas vamos conhecendo-os e mudando-os de boxe”.

Atualmente estão 86 cães no CRO Intermunicipal (dados de 30 de setembro). Foto: mediotejo.net

Os animais que vêm parar ao canil/gatil são recolhidos por funcionários dos Municípios. A partir daí, a esperança é a de que apareça o seu próximo dono. Só desde janeiro, já foram adotados 44 cães e 11 gatos.

Desde número faz parte o Farrusco, o novo amigo de quatro patas de Gonçalo Pombo. Veio ao canil em março depois de “ter visto no Facebook que tinham sido encontrados cachorrinhos que precisavam de uma casa para estarem mais felizes”. Hoje, regressou para dar o seu testemunho e revisitar os outros animais. “Não convém ficarem aqui a vida toda”, desabafa.

Ao mediotejo.net conta que o Farrusco “ainda se está a habituar às pessoas” mas que energia não lhe falta. “É muito enérgico”, diz-nos, enquanto tenta segurar o cão, eufórico por reencontrar velhos amigos que ainda não tiveram a sorte de encontrar um lar.

Gonçalo Pombo e o seu cão Farrusco, adotado no canil em março deste ano. Foto: mediotejo.net

Mas neste Dia Aberto do CRO Intermunicipal essa realidade mudou para alguns destes animais. Do Sardoal, o Martim e a família vieram ver os animais e acabaram por concretizar o sonho da família: adotar um gato.

“Já escolhi, vem na terça-feira para casa”, diz-nos Martim. “Tenho uma avó que tem um gatinho e tenho saudades, sempre quis ter um gatinho”, refere.

Martim e a irmã vieram de Sardoal e acabaram por adotar um gato, que vêm buscar na próxima semana. Foto: mediotejo.net

Todos os animais adotados no canil/gatil intermunicipal são esterilizados gratuitamente (desde janeiro, já foram feitas 68 esterilizações). “Os animais quando chegam aqui são todos vacinados, identificados eletronicamente com microchip, registados na base de dados nacional e, a partir do momento em que há uma família que adote esse animal, o animal sai daqui já esterilizado. Se for um animal bebé ainda, sai com a condição de a partir dos seis meses regressar cá e os municípios suportam essa esterilização”, explica ao mediotejo.net Vítor Grácio, o veterinário do Município de Abrantes e responsável técnico pelo CRO Intermunicipal.

Sobre esta iniciativa do Dia Aberto, revela-nos que é “extremamente importante”. “Queremos dar a conhecer o trabalho que tem sido desenvolvido pelos três municípios em criar condições muito melhores para os animais e neste momento estavam reunidas as condições para transmitir esta imagem para a nossa comunidade”.

Vítor Grácio, veterinário municipal de Abrantes e responsável técnico pelo canil/gatil de Abrantes, Constância e Sardoal. Foto: mediotejo.net

O veterinário elucida que este espaço existe “não para termos animais, queremos que seja um espaço de passagem. Queremos que eles passem aqui só um curto espaço de tempo mas que tenham as melhores condições que conseguimos criar mas que saiam daqui o mais rápido possível”.

Destaca como uma das melhorias concretizadas nos últimos meses um protocolo celebrado com duas clínicas veterinárias. “Animais que venham doentes não é obrigação do Município tratá-los aqui mas deslocamo-nos as essas clínicas que estão realmente viradas para tratamentos médicos que nós aqui não temos condições nem capacidade de os fazer”.

A manhã vai passando, as visitas sucedem-se e as trocas de olhares entre cães e possíveis donos são mais do que muitas. Já perto da hora de almoço aparece Renato. Vem com um primo conhecer o canil/gatil. “Nunca cá tinha vindo e como vi o evento do Dia Aberto quis vir conhecer o canil e fazer algo que já queria há muito tempo”, diz-nos. Nos braços, trazia dois sacos de ração para doar aos animais.

“Acho que se todos pudermos ajudar um bocadinho torna-se mais fácil para todos”, remata.

Renato Matos aproveitou o Dia Aberto do canil/gatil para fazer um doação de comida. Foto: mediotejo.net

Investimento de 110 mil euros permitiu dar “uma nova dinâmica” ao canil/gatil

Desde 1 de janeiro de 2020 que a gestão do Centro de Recolha Oficial Intermunicipal de Abrantes, Constância e Sardoal é feita pelos três municípios.

Nos últimos meses, foram levadas a cabo uma série de intervenções num investimento total de cerca de 110.000,00€. Trabalhos de remodelação e ampliação deste equipamento que permitiram criar “um novo espaço, uma nova dinâmica” e ampliar a capacidade de 16 para 32 boxes para 140 cães. Para gatos, estão disponíveis seis boxes (capazes de acolher 20 felídeos).

Um trabalho “extraordinário”, segundo as palavras do presidente do Município de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, que fala em “revolução”.

Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes. Foto: CMA

“Para quem conheceu o canil/gatil há uns anos, de facto houve aqui uma revolução para melhor e hoje estamos mais descontraídos, mais leves em pensar que estes cães e estes gatos que aqui estão têm muito melhores condições do que tiveram no passado”, afirma, defendendo que este investimento no CRO foi “dinheiro muito bem empregue ao serviço dos nossos animais”.

Numa breve cerimónia que assinalou do Dia do Mundial, Manuel Jorge Valamatos referiu também o papel da ADACA que, ao longo dos últimos anos, teve a gestão do espaço. “Quando o canil foi feito houve um protocolo com essa associação, que de forma dedicada fez o seu trabalho ao longo de muitos anos. No entanto, por via da própria legislação, obrigou-nos a repensar a forma de gerir o canil/gatil intermunicipal”, explicou o autarca.

(E-D) Presidente do Município de Constância, do Município de Sardoal e do Município de Abrantes. Foto: CMA

Por sua vez, o presidente do Município de Constância, Sérgio Oliveira, mostrou o “orgulho no trabalho que foi desenvolvido pelos três municípios porque hoje temos um canil com condições e diria mesmo um dos mais avançados do nosso país daquilo que é o tratamento dos nossos animais”.

Não esquecendo a importância “cada vez mais” da “colaboração intermunicipal” – facto referido pelos autarcas dos três Municípios envolvidos – Sérgio Oliveira lembrou que “o espelho de uma sociedade hoje em dia é a forma como tratamos os nossos animais”.

Já Miguel Borges, presidente do Município de Sardoal, reforçou que esta união é a prova de que “sozinhos somos muito diferentes para pior do que se nos juntarmos os três”.

Quanto a novo espaço, o autarca admite que este é “um bom exemplo” da diferença entre estar “num parque de campismo” e “num hotel”.

“Não digo num hotel de cinco estrelas, mas num bom hotel. Hotel de cinco estrelas será sempre na casa das famílias e isso é que nós também apelamos. Infelizmente, também esta pandemia fez com que estas coisas acontecessem, o número de animais abandonados também aumentou. Há sempre lugar para mais mas para que esses lugares existam é preciso que as pessoas possam vir adotá-los”, reiterou.

No final desta cerimónia foram entregues leitores de chip à GNR e PSP, um instrumento que vai permitir, de acordo com Manuel Jorge Valamatos, “perceber rapidamente quem é o dono do animal, se o animal tem chip ou não, e por via disso dar uma resposta mais célere”.

Ana Rita Cristóvão

Abrantina com uma costela maçaense, rumou a Lisboa para se formar em Jornalismo. Foi aí que descobriu a rádio e a magia de contar histórias ao ouvido. Acredita que com mais compreensão, abraços e chocolate o mundo seria um lugar mais feliz.

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