Proposta da Tejo Energia para a Central do Pego passa pela biomassa, energia solar e eólica. Foto: mediotejo.net

As declarações do ministro do Ambiente e da Ação Climática relativamente à Central Termoelétrica do Pego foram assunto levado à última reunião de Câmara de Abrantes pelo vereador eleito pelo Bloco de Esquerda, que as classificou de “completamente desconcertantes”. Por seu lado, o presidente da autarquia considerou a reconversão da Central “um assunto de grande sensibilidade, de grande responsabilidade” lembrando “a excelente relação institucional entre o Município e a empresa Tejo Energia”. Manuel Jorge Valamatos deu conta do executivo estar a trabalhar “para encontrar o melhor projeto para a região”.

O ministro Pedro Matos Fernandes considera que os acionistas da central a carvão do Pego, em Abrantes, perderam o direito ao ponto de injeção à rede elétrica, que será atribuído por concurso público. A posição do governo surpreendeu toda a gente, de autarcas a acionistas, sendo que a empresa Tejo Energia mantém-se a funcionar e tem um projeto de futuro para a central.

O ministro do Ambiente e da Ação Climática, com a tutela da Energia, em entrevista à agência Lusa, explicou que “uma coisa é a central”, e essa matéria “é um problema” dos acionistas, mas “o grande ativo ali é o ponto de injeção [de eletricidade] à rede”, isto é, a capacidade de ligação entre um centro produtor e a rede que permite transportar a energia até ao consumidor final.

Ora, tais declarações foram assunto em reunião de executivo de Abrantes, esta terça-feira, 15 de junho, com o vereador do Bloco de Esquerda, Armindo Silveira, a manifestar-se “surpreso” e a considerá-las “completamente desconcertantes”, e explicou porquê.

O Bloco de Esquerda “desde o inicio que foi anunciada a reconversão da central em biomassa nós reunimos com a central do Pego, enviamos perguntas ao ministro do Ambiente e também às colocamos em reunião de Câmara” a resposta, vinca, prendeu-se com o facto de ser “um projeto privado”.

Contudo, “é desconcertante” porque diz Armindo Silveira “o senhor ministro do Ambiente vem imiscuir-se agora na estratégia dos acionistas que têm a propriedade da central”.

Afirmando “aquilo que toda a gente quer dizer mas não diz” o vereador do Bloco de Esquerda disse que “a central de biomassa não tem qualquer viabilidade. Não existe biomassa em Portugal. Se o governo português está disponível para financiar biomassa vinda de outros países que o diga claramente”.

Para Armindo Silveira “é uma falta de senso a forma como publicamente o ministro do Ambiente se refere à central do Pego. É lamentável! […] esta disparidade de declarações deixam-nos preocupados e neste momento a estratégia é não haver estratégia” disse lembrando que a central a carvão é encerrada em novembro de 2021.

ÁUDIO: ARMINDO SILVEIRA

Em resposta, o presidente da Câmara considerou a reconversão da Central Termoelétrica do Pego “um assunto de grande sensibilidade, porque estamos a falar de muitos postos de trabalho e de investimentos de grande dimensão, quer do ponto de vista financeiro quer para a região. Um assunto de grande responsabilidade”, disse garantindo que tem acompanhado mas vincando não integrar a administração ou qualquer conselho dos acionistas.

Manuel Jorge Valamatos deu conta de “uma excelente relação institucional” do município com a empresa Tejo Energia “em quem nós confiamos, foi falando com a Câmara, muitas dezenas de reuniões, e que apresentou um projeto onde a biomassa está tecnicamente explicito a sustentabilidade do investimento da biomassa e outras fontes de energia, onde está o hidrogénio, o metano e outras. Temos muita confiança tenhamos no futuro um grande projeto para a Abrantes e para a nossa região”.

Garantiu que o executivo está a trabalhar, quer com o governo quer com a Tejo Energia, para “encontrar a melhor solução para a região. Em momento oportuno vamos manifestar-nos. E pode ser já amanhã”.

ÁUDIO: MANUEL JORGE VALAMATOS

O presidente da Câmara volta a reunir hoje com os acionistas sobre o futuro da Central Termoelétrica do Pego. O autarca de Abrantes já havia dito que tem uma palavra a dizer e querer ajudar a encontrar “o melhor projeto” para a Central do Pego.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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