Ano e meio após a chegada da pandemia, e também das dificuldades acrescidas para o tecido comercial e empresarial da região, a ACE – Associação Comercial e Empresarial de Abrantes, Constância, Sardoal, Mação e Vila de Rei comemora 100 anos de vida ao serviço das empresas locais. O mediotejo.net conversou com Rui Miguel Vermelho Serras, recém-empossado presidente, sobre o projeto da nova direção, a importância do passado na centenária associação e os desafios do futuro no setor de comércio e serviços.
Portugal – e toda a Europa – continua a ter de lidar com a crise económica, consequência da covid-19. Os associados da Associação Comercial e Empresarial de Abrantes, Constância, Sardoal, Mação e Vila de Rei não são exceção, embora o novo presidente da ACE, Rui Serras, que tomou posse há cerca de um mês, considera que os empresários da região conseguiram “ver as oportunidades nas dificuldades” sendo que a situação económica “começa a estabilizar”, afirmou ao mediotejo.net.
As eleições para os órgãos sociais da Associação decorreram em junho último, com Rui Serras, de 48 anos, natural de Alcaravela (Sardoal), contabilista e empresário, a assumir a função de presidente da direção, embora já tenha integrado os órgãos sociais, no passado.
Explica que o objetivo da nova direção, eleita por três anos, passa por “agitar as águas e pôr os empresários a pensar no futuro, nomeadamente nos desafios que se colocam no pós pandemia e que, na verdade, já se vinham colocando, mas agora de uma forma mais premente”.
Esses desafios são basicamente “a economia digital, a economia verde” e ainda outros “para os quais os empresários da região precisam de estar sensibilizados. A Associação tem aqui um papel importante”, opina Rui Serras.
Além disso a nova direção pretende “desenvolver parcerias com entidades oficiais, nomeadamente com os municípios, no sentido de promovermos a economia da região. Até para ganhar escala. Assim, tenho a certeza que estamos a ajudar os nossos associados”, disse.
Paralelamente, pretende “dar uma maior visibilidade ao trabalho desenvolvido pela ACE no ano em que esta comemora 100 anos de existência, ao serviço das empresas da região”.

A ACE celebrou a 16 de julho o centenário (foi fundada a 16 de julho de 1921), ao longo do qual “sempre procurou interceder e defender o interesse dos seus associados”.
Corria o longínquo ano de 1921 quando um grupo de ilustres lojistas abrantinos organizaram a criação de uma Associação representativa da classe. O dia 27 de março marcou a instalação da Associação designada “Associação Comercial dos Lojistas de Abrantes”, numa sessão que decorreu no Salão Nobre do Sindicato Agrícola de Abrantes, presidida por Francisco Egídio Salgueiro.
A 13 de junho desse ano foram aprovados os Estatutos da Associação Comercial dos Lojistas de Abrantes e os da Associação Comercial e Industrial de Abrantes, antevendo já dificuldades na sua aprovação. Ambos os Estatutos foram aprovados pelo Governo a 16 de julho de 1921. Posteriormente, a direção da Associação de Lojistas de Abrantes requereu autorização ao Governo para poder designar-se “Associação Comercial e Industrial de Abrantes”. Dessa data até à atualidade ocorreram mudanças estruturais, de denominação, mas o essencial mantém-se.
Contando com 530 empresas associadas, distribuídas pelos cinco concelhos da área de abrangência, a designada Associação Comercial e Empresarial de Abrantes, Constância, Sardoal, Mação e Vila de Rei tem como missão a defesa dos legítimos direitos e interesses dos comerciantes dos concelhos da sua área de intervenção. Neste último ano e meio, de pandemia, encerraram atividade 13 empresas associadas da ACE.
Para Rui Serras, a importância da Associação prende-se com “a representatividade. É mais fácil a Associação tentar ajudar representando um conjunto de comerciantes do que individualmente cada um procurar apoio. E também pelos serviços que a Associação presta” desde logo no apoio ao funcionamento dos estabelecimentos.
Entre os serviços, destaca, os protocolos na Medicina do Trabalho. “Conseguimos condições que isoladamente não teriam. Celebramos mais alguns no âmbito da Higiene e Segurança e estamos sempre disponíveis para estabelecer protocolos com empresas da região que entendam contactar-nos. E nós quando sentimos necessidades também procuramos soluções”, revela.
No inicio da atual presidência, Rui Serras lança um desafio aos empresários no sentido de expressarem à nova direção aquilo que esperam da Associação. “Estamos cá para dar resposta desde que seja viável ou exequível!”. E confessa que a conquista de novos associados também conta entre os objetivos. “Essa é uma luta que temos sempre pela frente. A ACE só faz sentido com muitos associados”, opina.

No âmbito do centenário, a direção anterior planeou dinamizar um conjunto diversificado de atividades, inseridas nas comemorações, incluindo a realização de uma Gala do Centenário que esta direção entendeu, devido à pandemia, “não estarem reunidas condições para avançar, porque reunia muitas pessoas”, explica.
Assim, a cerimónia “singela” de comemoração do centenário da ACE teve lugar no dia 16 de julho, no Parque Urbano de S. Lourenço em Abrantes, sendo antecedida pelo workshop “Gerir empresas e negócios em tempos de crise”, com Pedro Pinheiro, professor na Universidade do Minho, especialista em Gestão Estratégica, Gestão e Liderança de Equipas, Negociação e Técnicas de Vendas.
O programa do 100º aniversário integrou, ainda, a apresentação da nova imagem e vídeo comemorativo do centenário, “com uma série de marcos que entendemos que foram importantes nestes últimos 100 anos e também o que pretendemos para a frente”. Para a cerimónia foram convidados os presidentes do cinco municípios do território da Associação.
Desses marcos Rui Serras destaca a fundação da Associação em Abrantes em 1921, depois em 1975 integrou os concelhos de Constância e Sardoal, 20 anos depois Mação e em 2011 integrou o concelho de Vila de Rei. Acrescenta que em 1999 foram realizados vários projetos, designadamente no âmbito do PROCOM – Urbanismo Comercial, bem como a sua análise, acompanhamento na sua implementação, pedidos de pagamento, elaboração de relatórios finais de investimento.
Ou seja, na área económica desenvolveu-se uma consultoria de acompanhamento do PROCOM Urbanismo Comercial no âmbito do II QCA. Realizaram-se candidaturas individuais e de Natureza Coletiva (Promoção, Publicidade e Animação das Zonas de Intervenção do Urbanismo Comercial de dois Núcleos Históricos – Abrantes e Constância ).
Um anseio que permanece entre as associações comerciais. “Que houvesse programas, não iguais porque são tempos diferentes, mas que as associações pudessem de alguma forma gerir para dinamizar os centros históricos de diversas cidades e vilas”, afirma.
Outro momento a salientar passa pela aquisição da sede. Aliás, no planeamento consta a modernização desse local. “Já que falamos de economia digital… está como há 30 anos e se queremos pedir aos nossos associados para dar passos em frente também temos de estar preparados para essa nova realidade”, refere.
Outro objetivo de continuidade, até definido em sede de Estatuto, passa por promover a formação profissional dos associados, através da realização de cursos, que podem abranger outras entidades ou instituições, publicas ou privadas.
Para tal, em 2014, a ACE adquiriu um espaço na Tapada do Chafariz vocacionado para formação, “uma das formas que a Associação tem de viabilizar o seu funcionamento. Temos conseguido promover a formação profissional junto dos nossos associados na região”, explica o presidente.
Nesse âmbito a ACE disponibiliza os programas “Dinamizar” e “Melhor Turismo2020” possibilitam a empresas associadas receberem, sem custos, apoio especializado de Consultores e Formadores em áreas tão diversas como de economia digital, gestão da inovação, capitalização e otimização de recursos financeiros e gestão de empresas. Estes Programas enquadram-se no Quadro Comunitário de apoio Portugal2020, sendo cofinanciados pelos pelo Estado Português e o Fundo Social Europeu (FSE).
E os programas de Formação Modular Certificada que permitem aos Recursos Humanos das empresas associadas melhorarem as suas qualificações através de Formação Profissional e cumprir simultaneamente com as 40 horas obrigatórias no âmbito do Código do Trabalho.
“Estamos a falar de cerca de duas centenas de empresas que foram apoiadas no âmbito dos programas de formação ação – Dinamizar e Melhor Turismo2020 – e mais de cinco mil formandos integrados em formação certificada. Em termos de investimento nos últimos 10 anos representa quatro milhões de euros executados”, dá conta Rui Serras.
Com uma estratégia que obriga, como explicou, a uma nova visão do futuro, o balanço desta Associação com um passado secular “é positivo”, disse confiando na equipa que o acompanha e lhe permite “tranquilidade. São pessoas que conheço há vários anos. Existe o firme propósito de fazermos algo positivo pela Associação e pela região”.
Sendo que neste período de pandemia, as dificuldades avolumaram-se para o tecido comercial e empresarial da região, especialmente numa primeira fase, diz. “Houve um primeiro impacto muito negativo, ninguém estava preparado. Mas após este primeiro impacto a maior parte dos empresários adaptou-se. Uma parte das empresas sofreu bastante com a pandemia mas procuraram outras soluções e os empresários souberam aproveitar as oportunidades entre as dificuldades. Foi difícil mas deram a volta!”, afirma.
E lembra que o sector do Turismo, um dos mais afetados pela pandemia, “na região não se verificou em 2020. As pessoas procuraram a região para passar férias ou para passear. Sendo que no ano passado a rota da EN2 desenvolveu-se e tem trazido muita gente à região. Com estes fatores acabamos por não ser demasiado atingidos. É evidente que se complicou com o inverno, mas esperamos agora que as coisas comecem a normalizar, dentro da normalidade possível. No final, parece-me que a maior parte das empresas vão sobreviver”, diz, esperançado.
Daí a importância da economia digital e a sensibilização dos empresário para esse futuro. “Além das vendas online, o pequeno comércio se tivessem todos um terminal de pagamento automático já era um pequeno passo”, nota. Por isso, a nova direção tem intenção de estabelecer protocolos, nomeadamente com entidades bancárias ou quem sabe com a SIBS, para que os custos não sejam uma dificuldade acrescida.
Rui Serras não defende que todos os comerciantes tenham uma loja online. “Até porque continua a haver espaço para todos e com a pandemia houve uma grande procura do comércio de proximidade, isso notou-se na região. Mas começa a ser importante terem uma presença online”, incluindo nas redes sociais, até porque as novas gerações são compradores digitais.
O presidente assume-se como “um otimista” mas reconhece, no entanto, que em pandemia “é difícil planear” aplicando ao empreendedorismo uma máxima militar: “o planeamento só vale até chegarmos ao terreno”, embora também reconheça os méritos de traçar objetivos mesmo em cenário de incerteza. “Temos de nos adaptar!”, defende.
Falando no Portugal 2030 e no Plano de Recuperação e Resiliência assegura que a ACE estará atenta a futuros apoios para a modernização no âmbito da economia verde, divulgar e fazer chegar a informação.

Por isso, a comunicação é outro objetivo a valorizar. “Por vezes temos serviços ou formações e não conseguimos que a informação chegue lá. Já estamos a fazer um levantamento para perceber se todos os associados têm e-mail. Gostaríamos de corrigir” embora reconheça “ser uma dificuldade transversal à maior parte das instituições e entidades”.
Explica que o papel da ACE passará essencialmente pela sensibilização também através da formação profissional. “Vai depender sempre das empresas e dos empresários quererem seguir o caminho”. Sendo que a atual direção pretende, ainda, passar uma mensagem de otimismo para os associados. “Temos de nos reinventar!”