No âmbito das comemorações do 10º aniversário da entrada em funcionamento da BIA, a Biblioteca Municipal António Botto inaugurou na tarde de sábado, 15 de abril, a exposição “Bibliotecas Itinerantes – Lugares de Futuro”. Promovida pelo Município da Sertã, a exposição tem estado a percorrer o país desde o mês de julho de 2021 e chegou agora a Abrantes.
Por ocasião da IX edição da Maratona de Leitura da Sertã, realizada em 2021 sob o mote “Palavra ao Planeta”, e surgindo como uma alternativa à ausência física das bibliotecas itinerantes que habitualmente integram a programação daquele evento, situação que a conjuntura pandémica não permitiu, foi realizada uma exposição temática com o objetivo de apresentar os serviços itinerantes de leitura em atividade no território nacional.
Os curadores da exposição, Bento Ramires, Carlos Marta e Rui Guedes, procederam a uma intensiva recolha, junto de todos os municípios do território português, a fim de apurar a existência de serviços itinerantes de leitura. Da recolha efetuada, foram encontrados oitenta e um serviços, tendo setenta e três deles aceitado o convite para participar na mostra.
Rui Guedes começou por explicar que o trabalho foi divido entre os três e contactaram todos os municípios portugueses “para ver efetivamente quem é que dispunha deste serviço de biblioteca itinerante”.

“Fomos constatando que, na altura da exposição eram 81 e a partir daí (…) foi-nos permitido formalizar o convite para participarem na exposição. A participação era muito simples, era enviar um pequeno texto e duas ou três fotografias alusivas ao serviço, para que pudessem estar o mais dignamente representados na exposição e assim aconteceu”, referiu Rui Guedes.
Dos 81 serviços identificados, 73 aceitaram o convite e estão patentes na exposição. Além das bibliotecas que integram o serviço público de leitura, a exposição reúne também iniciativas de associações de cariz privado, como o CLDS 4G de Castelo Branco. “Neste momento e após esta exposição, já existem mais quatro bibliotecas itinerantes em atividade. Portanto, neste momento em Portugal são 85 as bibliotecas itinerantes em atividade e creio que há mais dois ou três projetos que estão para aí a rebentar”, acrescentou o curador. Da exposição resultou um catálogo com os contactos e informações sobre todos os serviços apurados, podendo ser consultado AQUI.
Nos diversos painéis espalhados pelas instalações da Biblioteca Municipal de Abrantes, é possível percorrer o país e ficar a conhecer os diferentes veículos que percorrem o território com o objetivo de aproximar pessoas e promover hábitos de leitura.
Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara Municipal de Abrantes, marcou presença na sessão e sublinhou um aspeto comum a todas as “bibliotecas sobre rodas”.
“É esta questão da democratização do território, porque as bibliotecas itinerantes fazem isto. (…) Nós temos 714 quilómetros quadrados, somos do tamanho da ilha da Madeira, um bocadinho maior ainda (…) e num território tão grande é fácil perceber a dispersão que existe e a dificuldade de algumas pessoas terem acesso à leitura”, referiu.
Agradecendo a todos os que trabalham “com este espírito de missão de levar os livros aos nossos cidadãos, sobretudo àqueles que não têm mobilidade ou não têm condições para poder visitar aqui a nossa biblioteca”, o autarca relembrou José Diniz, falecido em 2021 e que dá agora nome à biblioteca itinerante abrantina.
“Vamos continuar a fazer isto todos os dias. A nossa biblioteca itinerante passou a chamar-se, à pouco tempo, Biblioteca José Diniz, porque foi um homem que andava com a Biblioteca Itinerante da Gulbenkian. Ele era o rosto da biblioteca, porque as instituições e estas bibliotecas são pessoas também. Vocês que andam com as bibliotecas desempenham esta função, são estes rostos, estes José Diniz que nos ajudam a fazer esta democratização do território, de levarmos a todo o lado os livros”, vincou Valamatos.

A exposição temática contextualiza os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, contemplados na Agenda 20/30, nos 73 serviços de biblioteca itinerante nela representados.
Na sinopse da mostra lê-se que “as bibliotecas itinerantes entram na vida das pessoas pela via do enaltecimento do papel do leitor na comunidade onde está inserido, convidando-o a contribuir ativamente para o seu desenvolvimento, participando com testemunhos pessoais, familiares e do domínio do conhecimento local, elevando-lhe a auto estima e fazendo-o compreender a sua importância enquanto parte ativa do território abrangido pelo bibliomóvel que utiliza”.
Ana Sofia Marçal, diretora da Biblioteca Municipal da Sertã, começou por explicar como uma dificuldade imposta pelo covid-19 deu origem à exposição e alertou para a importância destes serviços.
“Nós organizamos na Sertã, há 11 anos, a Maratona de Leitura e faz parte a presença de bibliotecas itinerantes. Portanto, até aparecer a covid-19, nós tínhamos uma concentração de bibliotecas itinerantes (…). E pensei: como é que nós podemos convidar as bibliotecas itinerantes a estarem aqui? Como é que vamos metê-las cá dentro da maratona de leitura? Porque elas não podem estar fora quando falamos de futuro”, afirmou a responsável.

“As bibliotecas têm este papel de democratização, de não exclusão, de proximidade e são realmente sítios de futuro e por isso se chama Bibliotecas Itinerantes, lugares de futuro. (…) Não são assim tão poucas, mas (…) todos deviam tê-las no território, porque elas fazem toda a diferença. Não nos podemos esquecer deste trabalho bonito que é levar sobre rodas aquilo que o edifício tem”, concluiu Ana Sofia Marçal.
Para Carlos Marta, tratou-se de um trabalho “apaixonante, até porque nós estávamos todos isolados e superou as nossas expectativas”, revelou o curador.
“Penso que ficarão com a imagem, com o retrato do número de bibliotecas e daquilo que cada projeto faz. Para além desses quatro que entretanto surgiram, eventualmente um ou outro que poderá ter acabado. Infelizmente há sempre estas coisas, as bibliotecas itinerantes ainda são um parente pobre em muitos locais, mas de toda a forma, fica aí uma parte da imagem do que existe atualmente”, apontou Carlos.

“Isto é uma viagem que é passível de ser feita”, referiu Bento Ramires. “Percebemos que as bibliotecas itinerantes serão muito certamente um lugar de futuro, muito por força daquilo que elas representam para a comunidade e para as pessoas que as utilizam”.
“A forma como quem está a trabalhar com as bibliotecas vai percebendo estes desafios e traz esse feedback para dentro destas bibliotecas que sustentam, muitas vezes, os projetos que estão na rua, deve ser uma coisa que deve ser trabalhada e encarada como uma leitura do exterior para o interior. Portanto, deve haver esta cumplicidade, ser a biblioteca fixa a enviar para fora e a biblioteca itinerante a trazer para dentro. É uma viagem”, concluiu o curador da mostra.

A Biblioteca Itinerante de Abrantes “José Diniz” encontra-se também representada nesta exposição. A BIA “José Diniz” assinala no início do mês de maio o 10º aniversário, marcando a sua entrada ao serviço das populações das freguesias rurais do concelho, promovendo não só os hábitos de leitura como garantindo o acesso à informação de qualidade, além de recursos para lazer.
A BIA passou a chamar-se Biblioteca Itinerante de Abrantes “José Diniz”, em homenagem à figura incontornável da sociedade abrantina, homem da cultura, figura carismática que foi dinamizador da biblioteca itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian durante mais de 30 anos, na segunda metade do século XX, falecido a 11 de janeiro de 2021.
A Biblioteca Itinerante de Abrantes entrou em funcionamento no dia 2 de maio de 2013, prestando um serviço às populações das freguesias rurais, como forma de promover o acesso à informação e aos livros e outros recursos informativos, para fins de lazer, académicos/formação e até profissionais.







Além de promover os hábitos de leitura enquanto fator de qualificação humana e de desenvolvimento social, levando meios e recursos a comunidades mais desfavorecidas, funciona também enquanto apoio à Biblioteca Municipal, em Abrantes, contribuindo para atuar na promoção dos livros e da leitura e na dinamização de projetos para diversos públicos, tendo em conta também efemérides e sazonalidade, e sendo também forma de combate ao isolamento e exclusão social.
A exposição, que conta com curadoria de Bento Ramires, Carlos Marta e Rui Guedes, estará patente ao público com entrada livre na Biblioteca Municipal António Botto, até ao próximo dia 15 de maio.
Nessa mesma tarde, foi promovido um encontro com os autores Bento Ramires, Carlos Marta e Rui Guedes, onde foi apresentada a obra “Homens livro”. O livro conta com a coordenação de Patrícia Carreiro e edição das Letras Lavadas.
Conforme pode ler-se na sinopse, “recorrendo aos acervos particulares dos únicos bibliotecários itinerantes em atividade que transitaram do período das Bibliotecas Itinerantes Gulbenkian, Bento Ramires e Carlos Marta, e a um conto da autoria do também bibliotecário itinerante Rui Guedes, Homens Livro é um apelo à memória individual e coletiva de um período marcante no panorama cultural de um país obscuro e ensimesmado, iluminado pelo despontar do povo português para os hábitos de leitura e convívio regular com os livros”.
O livro contém entrevistas a três antigos bibliotecários Gulbenkian, uma nota introdutória da Presidente cessante do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, e excertos de um documento original da autoria de Armando Carmelo (1964), responsável pela Biblioteca Itinerante Gulbenkian nº 33 – Redondo.







