Ana Margarida Carvalho falou na noite do dia 23 de fevereiro na Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, a respeito do seu livro mais recente, “Não se pode morar nos olhos de um gato”. A romancista e jornalista disse que o título, além de ter sido constituído a partir de um verso de Alexandre O´Neill retirado do “Poema do Desamor” se baseia também no relacionamento de um gato com o seu dono, pois o animal referido só está com os olhos no dono, enquanto esse lhe atrai a atenção, “com um barulhinho qualquer ou qualquer coisa que lhes interessa ou a abrir a lata de comida”.
Com a afirmação de que o romance se resume num livro sobre “como se colocar na pele do outro”, ressalvou que todos possuem os seus preconceitos e que, quando julgam alguém, no fundo estão-se a julgar a si mesmos, pois apenas veem aquilo que está dentro de si.
“O que vou fazer não é apresentar o livro, mas contar a minha experiência pessoal de leitura do livro que me marcou muito”, essas foram as palavras iniciais da jornalista Margarida Serôdio, que foi à biblioteca para apresentar o livro mencionado. Logo que lhe foi passada a palavra, disse que estava a sentir-se honrada. De acordo com a jornalista o livro prendeu a sua atenção logo no início e a fez chorar e ela sabia que não era a única, pois “uma senhora trabalhadora da Biblioteca de Coimbra, julgo eu, que faz audio livros, referia que ao estar a passar esse livro para audio parava para chorar e depois retomava”, mencionou.
Sentada à volta de uma mesa redonda, de frente para os cidadãos e leitores dos seus livros, a autora reconheceu que escreveu o livro quando “estava numa fase complicada” da sua vida mas que o seu objetivo “não era fazer chorar ninguém”.

“O livro não é de leitura fácil”, disse um dos leitores do romance, e a escritora logo respondeu “também não foi de escrita fácil”… O público reagiu com risos. Uma moradora de Torres Novas, que afirmou ter-se deslocado até Abrantes só para pedir um autógrafo, além de dizer que “o livro de facto é marcante”, afirmou também que não “é um livro qualquer”.
Ana Margarida Carvalho explicou que em umas das apresentações em que participou, uma senhora lhe perguntou porque é que as pessoas fazem tão mal aos animais, induzida pelo título do livro, e que por isso, resolveu colocar logo nas primeiras páginas a frase “nenhum animal foi maltratado durante a escrita desse romance”.
“Acho que meu livro é mais do que árvores processadas”, foi a resposta da romancista quando questionada se não estava a “sair da trivialidade”. “Fico satisfeita quando encontro várias camadas de leitura, sobretudo melhores do que a minha. Acho que a percepção dos leitores são sempre melhores”.
“Eu levo isto um bocadinho a sério” e “este foi um livro muito difícil de editar, pois não é um livro catalogável, não é um romance histórico, não é um romance de aventura, sei lá o que é”, disse, declarando logo no início da apresentação compreender que “os editores gostam de perceber o livro e têm sempre em vista o lucro, que é quase nenhum para o escritor”, mas o escritor “não deve ceder a critérios, de facilidades, nem de moda, nem de tendências. Não me venham cá pedir para escrever sobre sombras, vampiros ou o que está a dar literariamente em cada estação”.
A escritora concluiu explicando que já fez “muitos fretes na sua vida”, pois já foi jornalista durante 25 anos, e que agora este não é o tempo nem o espaço de “fazer fretes”.