Manuel Valamatos com a Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, no Arquivo Municipal Eduardo Campos. Fotografia: mediotejo.net

Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara Municipal de Abrantes, fez as honras da casa e começou por sublinhar a importância do Arquivo Municipal, que completou este ano o seu quadragésimo aniversário. “São todos muito bem vindos ao Arquivo Municipal, a casa mãe de todas as memórias de Abrantes, dos abrantinos e do nosso território”, referiu.

O legado e a memória de Eduardo Campos, que dá nome ao Arquivo, foram recordados numa cerimónia em que a preservação da memória abrantina adquiriu especial importância.

“O Eduardo Campos foi um homem extraordinário (…), que dedicou grande parte da sua vida à investigação, divulgação e salvaguarda da história do nosso concelho. O seu contributo foi concretizado de forma efetiva na primeira metade da vida do nosso arquivo municipal, mas também através de obras que nos permitiram conhecer melhor a nossa história coletiva”, afirmou Valamatos.

Fotografia: mediotejo.net

Para o autarca, o Arquivo Municipal Eduardo Campos deve ser “encarado como meio de contar a nossa história e manter viva a identidade abrantina, especialmente num período em que as cidades passam por constantes mudanças e transformações, garantindo que esta seja preservada para as gerações futuras”.

A “rica e longa história” do Arquivo tem sofrido as ações do desenvolvimento tecnológico, adaptando-se às mais diversas mudanças resultantes da ação do tempo, notou.

ÁUDIO | Manuel Jorge Valamatos, Presidente da Câmara Municipal de Abrantes

“Ao longo das décadas foi necessário mudar a sua localização por várias ocasiões e modernizar os processos para manter a sua importância e relevância na preservação da nossa memória. Mas nenhuma outra mudança teve tanta importância como a decisão que tomámos em 2019, da integração do arquivo na divisão de sistemas de informação do município”, explicou o autarca.

O processo, que considerou ser decisivo, permitiu criar as condições necessárias a um dos maiores desafios da atualidade: “a transição digital”. 

“Hoje, Abrantes volta a deixar a sua marca, apresentando orgulhosamente o seu Repositório Municipal, uma infraestrutura tecnológica que garante livre acesso à informação pública relacionada com a história e a memória de Abrantes, dos abrantinos e do nosso tecido empresarial e associativo”, vincou Valamatos.

Fotografia: mediotejo.net

O projeto hoje apresentado corresponde a uma plataforma que disponibiliza digitalmente uma vasta quantidade de documentos e de informações históricas desde o século XII até à atualidade e cujo acesso apenas era feito de forma presencial nas instalações do arquivo da autarquia.

“Com esta plataforma damos mais um passo importante na democratização do acesso à informação, abrindo as portas do conhecimento a todos, promovendo a educação, a investigação e sobretudo a valorização e salvaguarda da nossa história, valores e tradições”, vincou o presidente da Câmara.

“Um verdadeiro serviço público que integramos no âmbito do Abr@ntes Digital, o projeto que promove o desenvolvimento tecnológico e social de Abrantes, utilizando a tecnologia como meio para melhorar a qualidade de vida dos nossos cidadãos, assim como a eficiência e a eficácia das nossas empresas, coletividades e instituições”, afirmou Manuel Jorge Valamatos.

Para o responsável autárquico, trata-se de um “enorme desafio que assume uma estratégia centrada nas pessoas e na simplificação da relação com a administração pública”, tendo o Abr@ntes Digital como “jóia da sua coroa” a plataforma Abrantes 360, afirmou Valamatos.

“Um canal único de relacionamento online, entre os cidadãos e o município, que permite a todos os abrantinos acederem através do seu telemóvel ou computador a muitos dos serviços do município, desde o envio simples das leituras da água, à entrega de um projeto de arquitetura para a construção de uma habitação, passando por uma candidatura aos programas de habitação ao arrendamento apoiado ou até a reserva dos campos de padel”, exemplificou.

No domínio da transição digital, o presidente da autarquia fez notar que ainda “existe um longo caminho a percorrer”, mas deu conta que os passos dados permitem olhar para o Abr@antes Digital como um “meio potenciador de um ecossistema tecnológico inovador, eficaz e de proximidade, capaz de integrar as grandes tendências tecnológicas do nosso dia a dia e da nossa comunidade, fazendo do nosso concelho um território inteligente, de proximidade, de sustentabilidade e de coesão”.

“A história faz parte de nós, faz parte do nosso território”, começou por referir, por sua vez, Paulo Rêgo, Chefe da Divisão dos Sistemas de Informação da Câmara Municipal de Abrantes. “O sentimento de pertença é fundamental para nós podermos conquistar e almejar o futuro e é por isso que quando olhamos para um território e o queremos inteligente, temos de ter a capacidade de ser exigentes. Nós precisamos de um território que não tenha a tecnologia como um fim, mas apenas como um meio. Um território que tenha capacidade de encontrar soluções distintivas, soluções que efetivamente nos comprometam com atratividade, com competitividade, com a capacitação e equidade”, acrescentou o responsável.

Para o Chefe da Divisão a “equidade” é tida como muito importante não só para o acesso à informação como também na redução das assimetrias, num momento em que o concelho ainda enfrenta “zonas que não têm qualquer tipo de conetividade”. Para fazer face ao problema, Paulo Rêgo deu a saber que a “equipa tem ido para o terreno fazer essa compensação e é essa parte que é muito importante porque temos um desafio muito grande. Esse desafio chama-se transição digital e como diz o nosso presidente e muito bem, ninguém pode ficar para trás”, reforçou.

Fotografia: mediotejo.net

Para ninguém ficar para trás é necessário encontrar “soluções distintivas”, o que levou a autarquia abrantina a desenvolver o projeto Abr@ntes Digital. “Em 2015 disponibilizámos a primeira versão do nosso portal de serviços, o Abrantes 360 e isto foi importante porque nos permitiu ganhar experiência, ganhar conhecimento para podermos alavancar naturalmente tudo o que tínhamos vindo a fazer”.

Acompanhando as necessidades dos cidadãos abrantinos, a autarquia disponibilizou, em 2019, a Carrinha do Cidadão, de forma a aproximar as pessoas e, através da plataforma Abrantes 360, conseguir levar muitos dos serviços municipais a toda a comunidade.

“A transição digital não é opcional, é um fenómeno global e nós temos de o agarrar, não podemos deixar ninguém para trás. Para isso temos de criar um conjunto de soluções que nos permitam dar essa resposta, a resposta à nossa comunidade”, referiu Paulo Rêgo.

ÁUDIO | Paulo Rêgo, Chefe da Divisão dos Sistemas de Informação da Câmara Municipal de Abrantes

A mais recente ferramenta, desenvolvida em 2023, trata-se do Repositório do Concelho de Abrantes, que veio dar resposta a uma necessidade encontrada. “Nós não podemos ficar à espera que venham ter connosco, temos que nos abrir para ir para o mundo, porque só assim é que conseguimos ser mais atrativos, mais competitivos, e é desta forma que o portal se quer posicionar. Quer-se que seja um portal, uma ferramenta colaborativa e participativa”, explicou o chefe da divisão.

“Temos feito aqui um trabalho importante de preservação. Naturalmente que a informação que aqui temos ainda agora está a começar. (…) À medida que o tempo for passando vamos trabalhá-la cada vez mais, vamos carregar mais informação e (…) com um contributo externo será ainda mais fácil”, concluiu.

A intervenção de Isabel Ferreira, Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, veio por último e não deixou de manifestar a satisfação para com o projeto apresentado pela Câmara Municipal de Abrantes.

“Aquilo que escolhem para definir o território de Abrantes não é inocente, certamente que é de acordo com uma estratégia muito pensada para o município, mas não posso deixar de sublinhar o seu alinhamento total com a estratégia que nós temos para Portugal no horizonte temporal 20/30”, afirmou.

“Quando dizem que Abrantes é um território inteligente, de proximidade, sustentabilidade e de coesão, aqui estão os principais objetivos específicos da nossa estratégia 20/30, que é de facto um Portugal mais inteligente, mais sustentável, mais coeso e mais próximo”, começou por referir Isabel Ferreira.

ÁUDIO | Isabel Ferreira, Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional

A integração do Arquivo na divisão de sistemas de informação foi uma escolha “muito inteligente”, apontou a Secretária de Estado, destacando o potencial que a área tem “pela sua interface com a tecnologia, com os sistemas de informações, com a era do digital e sob pano de fundo, a transição digital que todos temos de fazer”.

Para Isabel Ferreira, a estratégia do município encontra-se em concordância com as premissas do desenvolvimento regional, que considera serem “extraordinariamente importantes”.

“Desde logo a identidade de um território e que aqui, com este arquivo, hoje neste formato também de repositório aberto certamente vão contribuir cada vez mais para a preservação da identidade do território, o que hoje em dia também traz cada vez mais novas oportunidades”, afirmou a governante.

A Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira. Fotografia: mediotejo.net

Quando pensamos em novas ideia de negócio e ecossistemas empreendedores é importante não descurar a história e os aspetos tradicionais de um território. Porém, Isabel Ferreira acrescenta que também a tecnologia e a inovação devem ser tidos em conta para que hajam “ideias transformadoras para um território. Por isso, o contributo que este projeto dá para a identidade é extraordinariamente importante e ainda mais na perspetiva de que nós devemos diferenciar todos os territórios”.

O segundo pilar para o desenvolvimento regional prende-se com a qualidade dos territórios, assegurada pelos serviços que disponibilizam. “Também aqui, em particular, o projeto Abrantes 360 é inovador, do ponto de vista da prestação de serviços e cada vez mais, numa lógica de proximidade que é importante em qualquer território (…). Sendo um território com uma área tão grande é importante chegar às pessoas que estejam eventualmente dispersas pelo território”, vincou a governante.

“O terceiro fator do desenvolvimento regional é a prosperidade dos territórios e, portanto, fechava aqui este triângulo de identidade, qualidade e prosperidade”, disse.

“A prosperidade consegue-se com competitividade, com atração de investimento, nomeadamente privado, com a criação de emprego, com a contratação de recursos humanos qualificados e, portanto, também aqui Abrantes tem sido um exemplo”, apontou.

A Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional encerrou a sessão de apresentação pública do Abr@antes Digital destacando o contributo do projeto para a “história do município” e para a preservação do seu “património, da sua cultura e da sua identidade”.

“Muito obrigada pela oportunidade de conhecer um projeto tão estruturante, que faz tanto sentido nesta era da transição digital e que contribuiu enormemente para o desenvolvimento regional”, concluiu.

Encerrada a apresentação, houve ainda tempo para uma breve visita às instalações do Arquivo Municipal Eduardo Campos que, além da preservação da memória histórica, assume uma visão estratégica de serviço à comunidade, com uma gestão integrada baseada na ótica de servir as pessoas e lhes dar respostas de forma célere, ajudando a facilitar as suas vidas.

O Arquivo Municipal Eduardo Campos situa-se fora da cidade, mais propriamente na zona industrial em Alferrarede, próximo dos Serviços Municipalizados e do estaleiro da Câmara Municipal de Abrantes. Ali se localiza desde 2009, altura em que foi inaugurada a nova casa dos fundos documentais sob proteção da autarquia.

No espaço co-existem fundos de diversa ordem, com documentação pública, mas também documentação privilegiada das corporações religiosas abrantinas e ainda fundos documentais de origem privada, onde se podem incluir depósitos privados com informação reservada (não pública).

Composto por quatro depósitos, com estantes dinâmicas e de elevada capacidade conjugadas com gavetões, ali se preserva documentação das mais diversas índoles. Entre os depósitos, onde se encontram os documentos tratados e acondicionados, existem duas salas de expurgo – local onde dá entrada a documentação e material pelas traseiras do Arquivo, com recurso a um porta-paletes, chegando em caixotes e caixas ou avulso. No expurgo, como o nome indica, os técnicos fazem uma limpeza profunda e resgatam num ato de triagem os materiais a serem conservados e classificados.

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Jéssica Filipe

Atualmente a frequentar o Mestrado em Jornalismo na Universidade da Beira Interior. Apaixonada pelas letras e pela escrita, cedo descobri no Jornalismo a minha grande paixão.

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