XX Desfile Nacional do Traje Português. Foto: mediotejo.net

“Diz-me como te vestes, dir-te-ei de onde vens”. As palavras foram proferidas por Daniel Café, presidente da Federação do Folclore Português, no início da vigésima segunda edição do Desfile Nacional do Traje Português que juntou mais de 1200 participantes na Praça Barão da Batalha. Um número recorde que superou o inicialmente anunciado, situado nos 500, e encheu o centro histórico de Abrantes com tradição na noite deste sábado, dia 15.

O “dress code” da noite era a cultura popular portuguesa e mais de um milhar de pessoas aceitou o convite da Federação do Folclore Português para “vestir” a tradição com as suas rendas, cores, texturas, utensílios de trabalho e outras formas de expressão. Os 1200 participantes de todas as faixas etárias partiram do resto do país, das regiões autónomas e das comunidades portuguesas trajados a rigor e preparados para desfilar na Praça Barão da Batalha.

Os quadros etnográficos criados em colaboração com os Conselhos Técnicos Regionais abordaram temáticas variadas, desde a infância à morte, passando pelas profissões, o namoro e o casamento. Vidas de outros tempos materializadas no palco e recordadas pelas descrições dos apresentadores, levando o muito público presente, com familiares e amigos dos participantes incluídos, a regressar aos finais do século XIX e início do século XX.

Os pastores da montanha, as brincadeiras infantis, a distribuição do arroz para anunciar um casamento na aldeia, as carpideiras dos funerais e as vendedoras de flores da Madeira foram apenas alguns dos temas encenados. Muitos outros surgiram noite dentro através das reconstituições apresentadas ao som da Tocata composta por elementos dos seis grupos de folclore abrantinos.

As especificidades de cada região estiveram unidas pela matriz identitária do mundo português, enriquecendo-o com a diversidade, e confirmaram as palavras de Daniel Café quando, no início do XXII Desfile Nacional do Traje Português, caraterizou o evento como “uma grande expressão daquilo que é a nossa cultura tradicional”.

O desfile mostrou a cultura popular portuguesa através de mais de 1200 participantes. Foto: mediotejo.net

“Uma das maiores, senão a maior manifestação de cultura tradicional”, complementou Maria do Céu Albuquerque no mesmo momento, destacando a importância de se construir “um futuro baseado nas nossas memórias, naquilo que nós somos”. A presidente da Câmara Municipal de Abrantes agradeceu a escolha do concelho para a realização do desfile que acontece no ano em que a Federação do Folclore Português comemora o seu 40º aniversário.

 

Sónia Leitão

Nasceu em Vila Nova da Barquinha, fez os primeiros trabalhos jornalísticos antes de poder votar e nunca perdeu o gosto de escrever sobre a atualidade. Regressou ao Médio Tejo após uma década de vida em Lisboa. Gosta de ler, de conversas estimulantes (daquelas que duram noite dentro), de saborear paisagens e silêncios e do sorriso da filha quando acorda. Não gosta de palavras ocas, saltos altos e atestados de burrice.

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