“BEING – A Terra como Acontecimento” está em exposição no Cine-Teatro de Mação, numa mostra coletiva de oito artistas internacionais encabeçada pela artista portuguesa Romy Castro, e conta com instalações em vídeo que debatem as questões e preocupações ecológicas atuais, alargando o campo de reflexão sobre o ambiente e a vida no planeta.
SOBRE A AUTORA
Rosalina Maria Castro Fernandes nasceu em Lisboa em 1956. Frequentou a École Supérieur de Beaux-Arts de Paris. Alia os estudos académicos de pintura com investigação e prática em design gráfico. Em 1986 licencia-se em Artes Plásticas Pintura na ESBAL, e em 1988 licencia-se em Pintura pela Facultat Complutense de Bellas Artes de Madrid, Espanha. No mesmo ano é selecionada para os Talleres de Arte Actual do Circulo de Bellas Artes de Madrid, onde trabalha com Jose Luis Alexanco e Jose Guerrero. Em 1994 termina os estudos de doutoramento em Pintura pela Facultat Complutense de Bellas Artes de Madrid, sobre Novas Matérias Pictóricas, tendo como orientadores Jose Guerrero e Lucio Muñoz. Em 2006 obtém o grau de Mestre em Estética e Filosofia da Arte, com a vertente Fenomenológica e Hermenêutica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a tese sobre Mark Rothko, Os Tempos da Cor. Desenvolve trabalhos também nas áreas de arquitetura de interiores, de comunicação, design gráfico e de equipamento, bem como na área da joalharia. Foi Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Desde os anos 80 que expõe individualmente, em Portugal e no estrangeiro.
Fonte: Centro Português de Serigrafia
Quem é Romy Castro e como surge este percurso?
O meu percurso começou há muito tempo, fiz uma longa caminhada para chegar aqui. Começou com a minha entrada na Faculdade de Belas Artes. Comecei pela arquitetura, mas optei pela pintura. Depois a minha estadia em Madrid levou a que trabalhasse com grandes pintores no círculo de Belas Artes como Lucio Muñoz e José Guerrero. Guerrero teve uma influência muito grande no meu pensamento, porque discutíamos muito a minha pintura na altura, já com as novas matérias da Terra que fui introduzindo, desde carvões, piras e pirites, feldspatos, e já achava isso na altura muito interessante e muito potente, que iria revelar a Terra numa outra dimensão, como hoje se concretiza. É um percurso muito pensado e muito sofrido, porque implicou estudar muito, fazer muitas investigações, depois surge um doutoramento em pintura, depois uma nova volte-face em Filosofia, em Estética e Filosofia da Arte, depois surge outro doutoramento em Ciências da Comunicação com especialidade de Comunicação em Artes, onde estudo Mark Rothko que me interessa a nível pictórico e do pensamento. Tudo isto são anos de estudo num percurso que se adensa e se transforma e se concretiza na minha obra com os filmes, instalações, esculturas, pinturas e fotografias. Um processo que observa e realiza a Terra transdisciplinarmente, onde apreende todas as dimensões da arte.
Faz questão de ir explorando em outras áreas para acrescentar valor e dimensão à sua obra?
Exatamente, e agora com os vídeos e filmes, com as plataformas digitais. É uma rede em mosaico que se adensa e transforma a cada dia que passa, com novas aberturas e concretizações na arte. É bastante interessante porque se vai acumulando saberes e vai-se acumulando novas diretrizes do pensamento. Como investigadora que sou no ICNOVA da Universidade Nova de Lisboa, em Cultura, Mediação e Artes é outro ciclo que se está a concretizar. Estou a fazer o meu pós-doutoramento em Geofilosofia, e isso também adensa ainda mais este percurso e sedimenta-o. Quando acabar este pós-doutoramento depois começarei outro…? (risos) Sempre a estudar e a acrescentar densidades à Terra.
A Terra dá-se a ver com estas mediações todas, estas transformações de poder e de potência visual e de chamada de atenção quer política, quer estética, quer filosófica. Que se dá numa tripartição que chama a atenção para várias dimensões do que está a suceder hoje em dia ao nosso planeta, no antropoceno, com a revolução geológica de origem humana que está a provocar uma grande reviravolta da Terra. A arte tem esse poder de chamar a atenção, os artistas têm essa capacidade de, através da criação do pensamento quer da criação estética das suas obras, chamar a atenção para o que se está a passar.
Isso permite que se visualize uma série de resoluções, porque penso que a criatividade hoje em dia será uma das ferramentas que vão ser mediadoras para resolução de muitos problemas na Terra. A criatividade será a grande chave para a resolução de muitos problemas. Como por exemplo alguns projetos e ideias no âmbito da energia verde. A criatividade surge no momento exato, nesta nova era da humanidade, e vai ser fundamental para se fechar muitos aspectos de concretização de novas tecnologias que vão ajudar a melhorar a Terra e criar novas formas de visualizar o planeta na sua transformação permanente. A criatividade é fundamental para gerir e mudar a forma como olhamos para o nosso planeta, a nossa casa, e como vamos cuidar dela. Se cuidarmos da Terra estamos a cuidar de nós.

Em que medida o projeto da Temporada Portugal-França ajuda neste novo pensar?
Existem conceitos novos e transformadores sobre a forma como pensamos e olhamos a Terra, e este novo projeto também permitiu que fosse visualizado noutros sítios, além dos grandes centros. Temos de descentralizar a cultura o mais possível para chegar a todos os meios e a todos os povos.
Apesar de o tema e projeto serem meus, aqui em Mação optei por convocar uma série de artistas internacionais que comungavam desta reflexão em torno dos problemas que afetam o planeta, desde logo as questões com as alterações climáticas e outros, e há aqui representação em vídeo de trabalhos do Canadá, França, Israel, etc.
A ideia é estender a mensagem a outras realidades com a instalação artística, levando a localidades mais pequenas como é o caso de Mação?
Nesta instalação trouxe dois filmes. O filme “A Terra como Acontecimento I (2021) tem uma mensagem já de preocupação com a Terra mas é menos diretiva que o segundo filme. É mais poética, filosófica, que alerta para uma série de transformações no planeta mas de uma maneira que nos leva através do som e da imagem para uma reflexão. É um filme reflexivo, introspetivo, que nos leva a perceber e a dar a conhecer a outra densidade das mensagens da Terra. O que é que a Terra nos dá? O que queremos da Terra? Qual o nosso propósito de estar aqui? Há este permanente diálogo de interrogação e reflexão.
O segundo filme não. É um filme que tem como particularidade dar a ver as matérias negras, os carvões fósseis, minerais e vegetais, caso do petróleo. Fala de ecologia, de filosofia, de arte e que nos remete para a sustentabilidade. Interroga e dá a ver outra maneira de aprendermos a Terra e de olharmos para ela. Aparecem os elementos-chave desde a água, o fogo, a terra, o sol, o petróleo e o carvão. Até sobre o ouro e os impactos da sua extração. Se estes dois últimos são os principais poluentes e responsáveis por imensas emissões de carbono sobre o planeta, por outro lado também nos ajudaram a viver e a mudar radicalmente a nossa vida, nomeadamente com a mobilidade.
Chamada de atenção em permanência, uma ressonância do que acontece. Este acontecimento é muito verdadeiro e preocupante. Este segundo filme é mais político, é ativo, a dar prioridade para que as matérias falem por si próprias. São matérias ativas que se auto-proclamam, auto-valorizam. É importante fazer as matérias falar e perceber o que têm para nos dizer.
E daí constarem pensamentos desde Gilles Deleuze, Carl Sagan, Bragança de Miranda e até meus.



Como costuma ser a reação das pessoas ao impacto que a sua obra provoca?
Os filmes já passaram em muitos sítios, desde a Fundação Gulbenkian, ao CCB, à reitoria da Universidade Nova de Lisboa, já estiveram em Paris, Madrid, Barcelona, em Guimarães… é um público muito vasto e variado, que tem frequentado estes sítios por onde a obra vai passando. As reações são muito idênticas. Gostam muito dos filmes, cada um à sua maneira, mas é unânime transmitirem-me que é uma forma original de transmitir uma mensagem sobre a Terra.
As pessoas costumam transmitir que ficam maravilhadas e, quando assim é, significa que a obra nos tocou. Isso é que é bonito.
Falou num percurso demorado, moroso até, cuja complexidade imperou até ao resultado final. Quem visualiza apercebe-se do tempo e do quão trabalhoso é chegar ao que é projetado e exposto?
São diversas variações de estilos ao longo dos anos. A primeira dimensão é perceber quais as matérias que me interessam para estudar e investigar. Interessam-se matérias de dois tipos de dimensões: brancas e negras. Tem logo uma redução e uma sedimentação de conhecimento. E então, nas matérias brancas, inclino-me para os cristais no Polo Norte. Nas matérias negras o que mais me interessa são os carvões fósseis, vegetais e minerais e vêm de todo o mundo, sendo que os maiores exportadores são o Brasil, EUA, Rússia, e outros. As terras negras também me interessavam, principalmente as de Espanha que são muito especiais.
Trata-se de um gosto, uma escolha e uma procura de muitos anos; significa que o nosso pensamento abdicou de todas as outras para nos transportar para aquelas dimensões, que são a nossa origem. Há uma direção do ser que se volta sobre essa matéria e isso influi no que vou fazer.
Como vou preparar o papel que faço à mão, que tipo de matérias vão entrar, como é resistente à matéria ou não e é uma outra maneira de ver as matérias e a informação que vão trazer para depois eu as transformar em pintura. Outro processo muito longo e demorado. E outro processo passa por estudar como pode ser incorporado numa escultura, ou numa tela. São etapas que vão de processo em processo.
As próprias obras têm que ter uma técnica nova para poderem ser pintadas com as matérias que selecionei. Cheguei até a ter de repensar como proteger as minhas peças, devido ao facto de os visitantes quererem tocar-lhes.

“A Terra como Acontecimento questiona o lugar do nosso planeta na História, não como um objeto, mas como um acontecimento em si, que existe, se desdobra, evolui e dialoga ativamente e simultaneamente com a História. Ao deixar o eixo antropocêntrico e destacar o próprio planeta Terra, o projeto propõe-se derrubar os paradigmas e imaginários dominantes”
Assista a uma das instalações
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Também já lançou a exposição neste âmbito, mas em Paris. Dentro destes moldes?
Em Paris estão os filmes, fotografias que fiz completamente novas para esta exposição, e o meu pensamento que está escrito numa parede enorme.
“Não quero ser estranha à época em que sou chamada a dizer”
Romy Castro
Uma particularidade é ter participação no projeto de José Bragança de Miranda, investigador, ensaísta e professor catedrático, na sua obra e até incluir reflexões sobre a mesma.
Tem feito muitos textos e conferências sobre a minha obra, em Portugal e no estrangeiro. E fez uma conferência aqui em Mação, num seminário, e outra em Paris. Sairá o texto num catálogo e depois sairá um livro sobre mim. Surpreendeu-me porque gostei da maneira como ele abordou quer esteticamente, quer filosoficamente as obras que ele conhece bem e onde participa. É uma pessoa que se tem debruçado muito sobre a minha obra e tem feito grandes pensares. Só posso sentir-me muito feliz por uma pessoa como ele escrever sobre mim e fazer tantas reflexões sobre a minha obra.
E Bragança de Miranda esteve inclusive num seminário em Mação, onde abordou também a sua obra e o projeto ‘BEING – A Terra como Acontecimento’. O que se reteve em termos de pensamentos-chave desta sessão que possa nortear o público para quando se depara com um texto ou alguma obra da autoria de Romy Castro?
O pensamento-chave é sempre um novo olhar sobre a Terra. Como é que nós vemos a Terra, o que fazemos dela. Depois outro pensamento que retenho é a maneira singular e única como trabalho a “minha” Terra.
O que me interessa que os meus filmes façam? Que toquem as pessoas. O que me interessa que as minhas pinturas façam? É que toquem as pessoas. Fazê-las pensar sobre o que é que estão a ver, fazê-las refletir sobre o que eu quero dizer e transmitir, seja em que meio artístico for. Pintura, escultura, instalação, fotografia, vídeo, redes sociais, plataformas digitais… Quero que as pessoas fiquem tocadas por aquilo que estão a ver e que as sensibilize.
“A matéria absoluta da História é o pensamento e no caso destas obras de Romy Castro ele paira sobre a Terra, como Deus pairava sobre o Oceano primitivo”
Bragança de Miranda
Qualquer pessoa de qualquer idade?
Exatamente. Não quero fazer uma arte para uma elite. Quero fazer uma arte para os humanos. Todos. Se é para todos os humanos que habitam a Terra, é uma arte ‘banal’, para todos verem, para toda a gente usufruir, sentir o que está a ver ou escutar. Pequeninos ou grandes. Já tive crianças a verem os meus filmes, e o primeiro tem a duração de quase uma hora. E não se mexeram! É porque estavam a gostar.
Esta não é uma obra que se vê a correr. Tem que se ver devagar, olhar com atenção e refletir sobre o que está a ver.
Podemos dizer que há uma união entre a arte, o pensamento e a criatividade, a conjugar-se em torno da ideia e objetivo de pensar ‘A Terra como Acontecimento’…
É o grande acontecimento do século, diria mesmo do milénio, serviu como uma pedra filosofal. Toda a minha obra seguiu em torno deste tema, porque me interessa imenso as questões da Terra. É a nossa casa. Exige um solo para o pensamento. A Terra é o meu solo para o pensamento – tendo-o, posso pensar nele e habitar nele. São três dimensões filosóficas brutais.
Quando faço uma retrospetiva da minha obra, e posso dizer que já fiz mais de 100 exposições coletivas e mais de 60 individuais, e já perdi a conta aos artigos que escrevi e às conferências que proferi, em várias áreas de estudo. Já se pode dizer, perante isto, que se tem uma obra, não é? Antes, com três ou quatro exposições, penso que não se pode dizer isso… Penso que é este caminho que quero continuar a seguir.
E terá uma próxima exposição em Paris, em setembro?
Sim, e quero dar uma nova dimensão ao projeto dentro deste tema. Quero acrescentar as telas grandes que estou a fazer agora e quero mostrar os filmes e haverá um contraponto dialético entre as matérias que vou apresentar nas novas pinturas. Acho que vai ser um diálogo muito bonito, porque vai absorver novas dimensões que as pessoas ainda não viram. Temos de estar sempre em evolução e mutação constante.
Agora estou a estudar os mármores de Estremoz e as rochas da Madeiras e dos Açores, interessa-me muito optar por matérias locais.
A sua obra transmite uma mensagem que não é estanque?
Sim. A mensagem é contínua. Se uma obra for estanque quer dizer que se viu uma vez e já não tem mais nada a dizer. Eu quero que a minha obra seja vista e continue a ser refletida. Isso é que eu acho importante hoje em dia. A criatividade que se informa em qualquer dimensão, neste caso a minha é transdisciplinar, e que possa trazer algo novo para quem a vê, seja em que ponto do país, do mundo… do globo.
Também espera que possa ser inspiração para as tais ferramentas que auxiliem na resolução de problemas relativos ao planeta?
Tenho a certeza que isso vai acontecer, porque hoje em dia qualquer ferramenta digital que nós utilizemos não é mais nem menos do que dependente da criatividade de quem a criou. Tenho a certeza que a criatividade é uma ferramenta-chave.
A arte é um dizer novo. Quando se diz através do pensamento e da arte, diz-se.
E porquê a transdisciplinaridade? Porque não só a pintura?
Se fosse só pintora tenho a certeza que não o conseguiria. Foi importante ter feito todos os estudos que fiz até agora, as licenciaturas, mestrados e doutoramentos… porque foi um contributo.
Disse há pouco que iria prosseguir com esta busca. Sente que há mais valências que necessita explorar?
Estou já a estudar outros meios tecnológicos, também com potência visual, para apresentar. Além de estar a estudar outras matérias, caso do mármore de Estremoz, que são formações da natureza também. Também as rochas da Madeira e dos Açores são bastante importantes, vulcânicas ou não. Até a volframite poderá ser uma hipótese a estudar, mas também tem algo a dizer sobre a Terra. O que me interessa é que as matérias que eu exploro não sejam só matérias. Digam aquilo que as pessoas estão a fazer à Terra. A esventrá-la e a tratá-la muito mal.
Por isso me interessa este tipo de matérias, que têm uma voz ativa e dizem alguma coisa. As matérias que estudo e que pinto são matérias que dizem. E daí eu ter feito falar as matérias no segundo filme, através de instalações, pinturas esculturas minhas. As matérias dizem dentro do seu ambiente e do zoneamento onde estão integradas. Na Geofilosofia é isso que me interessa, fazer falar as matérias da terra. E não é coisa fácil… implica muito estudo e muitas noites sem dormir (risos). E muitos livros que se lêem e relêem. Para escrever um artigo demoro meses. E depois de escrito estou sempre a relê-lo e a ver se está bem. Estou sempre com interrogações permanentes. Esta vida de investigador é bastante violenta.
Sempre soube que este era o conceito e a área para a qual iria acabar por inclinar o seu pensamento?
Eu tinha já essa noção que iria seguir por aqui. Mas certo dia estava em Madrid, e perante o crítico de Barcelona que me disse, ao olhar uma obra minha, que foi aquela que mais o fez pensar, eu entendi que aquela obra lhe tinha dito alguma coisa. E se diz, eu tenho de seguir por este caminho, obras que dizem. Que fazem as pessoas pensar e refletir.
Depois a falar com o José Guerrero ele disse-me que a minha obra e o meu pensamento iriam muito longe. Foi bastante importante para mim. Também tinha muitas trocas de pensares com o Eduardo Lourenço, e almoçávamos muitas vezes na Gulbenkian. E debatíamos o que eu quero da arte, o que pensava da arte, da escrita, dos pensadores,… Muitas vezes eu admitia-lhe que estava insegura com o que estava a fazer, e ele sempre me disse ‘vais por aí, esse é o teu caminho de pensamento, esse é o teu trabalho’. O Professor Bragança de Miranda também me incentiva muito até aos dias de hoje.
Tenho pessoas que sempre me têm incentivado e que considero importantes no pensamento mundial. Isso também ajuda e incentiva a continuar a trabalhar e a seguir no rumo que tomou, que na altura não sabe se é o melhor ou o pior, mas é o possível. Para mim o possível é todos os dias. Como diria Deleuze, dá-me um possível e eu sou feliz.
Podemos então dizer que a sua vida e obra é feita de possibilidades?
É um vaivém permanente, entre a matéria e o pensamento, o pensamento e a matéria. A téchne. O saber-fazer é a chave em termos artísticos, mas tem de estar em sintonia com o pensamento.
Têm que entrar na dimensão do possível. Eu nunca espero muito, vou fazendo e digo que vou conseguir fazer isto, e vou tentando e vou acrescentando novos conhecimentos ao que faço. Acrescento todos os dias novos possíveis às possibilidades que já existem.
Não sou uma pessoa pessimista, pelo contrário, e quando não consigo tento de novo, e de novo e de novo até conseguir. Nunca desisto. Eu não posso dizer que tenha fracassado alguma vez. Porque nunca desisto. Não considero uma desistência ou fracasso, considero uma nova abertura de possibilidade, um novo fazer.
O erro é uma possibilidade, sempre. O possível é uma condição importante na minha obra e condição de vida. Sou muito influenciada por Deleuze. Também estou sempre a interrogar-me graças a ele.
Estou sempre a interrogar o que posso fazer mais. Não quero chegar ao dia em que a resposta seja já não posso fazer nada. Isso seria terrífico para mim.
Enquanto puder interrogar-me sobre o que posso fazer mais, eu sou feliz. Tenho sempre esta possibilidade de entrar no possível como nova dimensão. Entrar no possível como nova dimensão é viver, é existir.