Foto: Facebook de Luís Silva

Uma fotografia ajuda imenso a transmitir uma mensagem, em muitos casos muito melhor que as palavras, ou melhor, quando não há palavras, seja pela beleza, seja pelo choque.

Como sabemos a fotografia democratizou-se com as novas tecnologias, sobretudo com o telemóvel. Ainda me lembro do sentimento de esperar pela revelação das fotos, da decepção daquelas que não transmitiam o que queríamos. A fotografia não era um acto imediato, havia que esperar pelo resultado final. Agora é imediata e com a mesma velocidade com que se fotografa, assim se apaga ou assim se publica nas redes sociais. Há fotografias para todos os gostos e para todas as ocasiões – as mais formais, as selfies, as institucionais, as tiradas sem ninguém ver, as que servirão para denunciar algo e até aquelas que serviram para assediar…

Bom, mas já chega de divagar pelas várias facetas da fotografia e deixem que vos fale de um tipo que começa a implantar-se, também por força do acesso a um novo instrumento – o drone.

Falo das fotografias aéreas, que nos dão uma perspectiva de uma área e do que lá acontece. Sempre existiram, eram tiradas de aviões e podiam ser compradas para quem queria ter o registo, por exemplo, da sua casa vista de cima, mas agora tudo indica vão ter uma outra função: mostrar em modo panorâmico as obras das autarquias que aguardam a hora de ser inauguradas. E não vá a pandemia furar os planos das inaugurações começamos desde já a ser brindados de forma mais institucional ou mais informal com fotografias aéreas que nos mostram ou a obra quase completa ou o seu estado de execução, sobretudo quando está adiantado.

Tudo caminha para se repetir o ritual de fim de mandato e respectivas inaugurações. E quando não há inaugurações há obras a terminar, que vai quase dar ao mesmo. Muito dificilmente a vista aérea não será agradável… O problema de muitas obras é que precisam de ser vistas bem de perto e nos seus mais variados aspectos.

Defendo e cada vez mais convictamente, que cada obra deveria ter, para além da obrigatória placa que diz quem inaugurou (não me atrevo a propor a sua retirada), outra placa onde fosse discriminado: o preço inicial, os trabalhos a mais e quanto custaram, os prazos estabelecidos e como foram cumpridos, as críticas que o projecto suscitou….

Para que se avaliasse efectivamente a utilidade não só pela fotografia, mas também pelos recursos que consumiu – a chamada análise custo/benefício, que embeleza a teoria mas raramente é praticada.

Vou dar um exemplo. Em Torres Novas, o Largo General Humberto Delgado foi objecto de uma intervenção cujo custo já ultrapassou o meio milhão de euros e paga pelo orçamento municipal sem apoios comunitários. Está muito bonito, diz-se. Será um local onde na maior parte do ano não se poderá permanecer – por calor ou frio. É bonito, mas será útil e seria prioritário? O dinheiro ali gasto não deveria ter sido gasto noutras obras? São perguntas deste tipo que temos que nos habituar a fazer. E na foto não conseguimos ver as respostas.

Helena Pinto

Helena Pinto, vive na Meia Via, concelho de Torres Novas. Nasceu em 1959 e é Animadora Social. Foi deputada à Assembleia da República, pelo Bloco de Esquerda, de 2005 a 2015. Foi vereadora na Câmara de Torres Novas entre 2013 e 2021. Integrou a Comissão Independente para a Descentralização (2018-2019) criada pela Lei 58/2018 e nomeada pelo Presidente da Assembleia da República. Fundadora e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da associação Feministas em Movimento.
Escreve no mediotejo.net às quartas-feiras.

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