Sabemos bem que “as boas notícias não são notícia” mas calar os progressos que se verificam no nosso país em questões de bem-estar, de aquisição de hábitos favorecedores da saúde, de conhecimento de fatores de risco, de consciencialização de certos grupos populacionais para a prevenção ou a importância dos autocuidados, não será legítimo nem desculpável.

Portugal, em algumas áreas do saber, dos negócios, da ciência e tecnologia, do desporto, da saúde, está melhor. É verdade que queríamos mais, mas também é verdade que nunca esteve tão bem.

Que me desculpem os “fazedores” de notícias… Os que sistematicamente nos destroem o orgulho, a autoestima, a confiança na nossa capacidade de influenciarmos na construção de um futuro melhor. Hoje não vamos ouvi-los. Hoje não haverá notícia!

A informação que tenho para vos transmitir está relacionada com os resultados de um trabalho de investigação que a Direção Geral da Saúde acaba de publicar no seu site.

Trata-se do III Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, realizado com a colaboração das estruturas públicas das 7 Regiões de Saúde do continente e ilhas, de todas as Faculdades de Medicina Dentária e da Ordem dos Médicos Dentistas.

Foram rastreados 6.345 pessoas, pertencentes a 5 grupos etários e nas crianças e jovens, foi efetuado o estudo comparativo com a situação observada em estudos anteriores, realizados em 2000 e 2006

Dos resultados destacamos:

 

  • Aos 6 anos, mais de metade das crianças apresentam todos os dentes temporários sãos, o que significa pais mais informados e competentes no que respeita à gestão dos alimentos açucarados, dos hábitos de higiene da criança e à adoção de medidas de prevenção adequadas;

 

  • Aos 12 anos, a comparação com os valores de 2000 revela uma redução de 60% no número de cáries que afetam os jovens portugueses desse grupo etário e que mais de metade dos observados apresentam gengivas perfeitamente saudáveis. A média de 3,61 selantes de fissuras aplicados nos dentes permanentes de cada indivíduo, comprovam que as atividades previstas na estratégia de promoção da saúde oral adotada em Portugal têm sido efetivamente realizadas e o seu impacto na saúde dos beneficiários é muito significativo

 

  • Aos 18 anos, a constatação de que 84% dos jovens afirmaram que escovam os dentes todos os dias e sempre à noite, antes de se deitarem (eram 45% em 2006), associada à melhoria da sua situação de saúde oral confirmada pelo estudo, revela uma adequação de comportamentos e uma prática de autocuidados que lhes garantirão a manutenção de uma boa saúde oral ao longo da vida

RUI1A aceitação pelos decisores da necessidade de investimento sistemático e continuado na intervenção precoce nesta área da saúde é agora o desafio. A manutenção destes resultados em gerações sucessivas de jovens portugueses será o garante da resolução efetiva de um problema que não perturbará o seu bem-estar ao longo da vida. Infelizmente, quase todos nós, os mais velhos, sabemos bem o que isso significa.

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Rui Calado é médico epidemiologista e especialista em Saúde Pública. Foi coordenador da USP (Unidade de Saúde Pública) do ACES Zêzere e do Médio Tejo.

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