Foto: Paulo Jorge de Sousa

Terra de lendas mouriscas e de grande devoção à fé cristã, o Sardoal tem um património sobretudo arquitetónico e cultural, com apenas um Museu dedicado à etnografia, o Artelinho. A grande “exposição museológica” desta vila escondida no interior do Médio Tejo é verdadeiramente a sua Semana Santa, com tradições profundas e únicas deste concelho. O município planeia, inclusive, criar um Centro de Interpretação da Semana Santa, na Capela de Nossa Senhora do Carmo, para que os turistas possam compreender a importância e beleza das celebrações durante o resto do ano.

Procissão dos Fogaréus. Foto: Paulo Jorge de Sousa
Procissão dos Fogaréus. Foto: Paulo Jorge de Sousa

Com vestígios pré-históricos e indícios de ocupação romana, a região terá sido conquistada por D. Afonso Henriques na mesma altura de Abrantes (1148), restando da presença árabe algumas lendas populares. O Sardoal já existiria como povoação, tendo sido a Rainha Santa Isabel a dar-lhe o seu foral no século XIV, embora tal documento se encontro desaparecido.

O século XVI é o “século de ouro” para o Sardoal, que passa a Vila, obtém independência de Abrantes e vê nascer alguma pujança económica, com muita da nobreza local envolvida com os Descobrimentos. O Sardoal foi também bastante afetado pela Batalha de Alcácer-Quibir, perdendo muitos dos seus cavaleiros. Já no século XVIII, algum do ouro e riquezas do Brasil vêm adornar esta terra, uma vez que era sardoalense o 1º Bispo da Baía e primaz do Brasil.

Hoje, o Sardoal, apesar da história rica e de uma paisagem encantadora, é uma terra marcada sobretudo pelas tradições rurais do interior português. Disso dá mostras o Centro Museológico Artelinho, situado na Cooperativa Artelinho, fundada em 1989. Aqui se preservou a cultura do linho, promovendo-se a fixação de pessoas ligadas a esta atividade e apostando-se na confeção artesanal de artigos de linho, bordados, cestaria e produtos em vime.

A par deste espaço, o Sardoal destaca-se pelas celebrações da Semana Santa, a qual marca com pompa e devoção desde a Quaresma ao Domingo de Páscoa. A procissão dos Passos do Senhor é a celebração de maior imponência e dimensão. Já a procissão do Senhor da Misericórdia, ou dos Fogaréus, na quinta-feira Santa, é um momento quase místico, com a luz elétrica a ser desligada e toda a encenação a realizar-se à luz de archotes e velas. Nas janelas das casas, nas varandas e escadarias do Convento de Santa Maria da Caridade, acendem-se mais de 600 lamparinas.

Foto: mediotejo.net
Tapetes de flores enfeitam as capelas. Foto: mediotejo.net

São ainda expostos os painéis do século XVIII com cenas da paixão pertencentes à Misericórdia. Tudo isto sem esquecer os tapetes de flores que durante o fim-de-semana de Páscoa embelezam as Igrejas do Sardoal.

Entrada livre nas Igrejas do Sardoal durante a Semana Santa, com condicionamentos durante o resto do ano.

Centro Museológico Artelinho Arcaravela, Sardoal

O que visitar mais?

Do seu património arquitetónico religioso, há um conjunto de Igrejas e capelas dignas de visita em todas as localidades do Sardoal. Dadas as suas características históricas e arquitetónicas destacamos as seguintes:

  • Igreja da Santa Casa da Misericórdia Igreja do século XVI construída a partir de uma ermida do século XIV, mandada construir pelo Rei D.Fernando. O espaço é considerado imóvel de interesse público. O acesso é condicionado, mas está aberto a visitas na Semana Santa.
  •  Igreja Matriz do Sardoal Um templo do século XIV que foi sofrendo obras ao longos dos séculos, conservando características de várias épocas arquitetónicas, do gótico ao modernismo. É nesta Igreja que se encontram as famosas tábuas do Mestre de Sardoal.
  • Convento e Igreja de Santa Maria da Caridade – Datado do século XVI, o espaço foi construído por monges franciscanos. Com várias características do Barroco, possui ainda um relógio do sol nos claustros, raro no concelho do Sardoal. O espaço é visitável na Semana Santa, mas está condicionado noutras épocas do ano.
  • Igreja de Nossa Senhora da Graça Templo que possui uma imagem de Nossa Senhora da Graça do século XV, oriunda do antigo santuário com o mesmo nome, atualmente extinto. A igreja foi reedificada no início do século XX, tendo o seu antigo património sido gradualmente destruído. 
  • Igreja de Santiago Existem na prática duas Igrejas, uma mais recente, do século XX, e outra mais antiga, no cemitério, construída na Idade Média. Diz-se que o antigo templo era muito procurado pelos romeiros medievais nas suas deslocações, numa época em que já se fazia o caminho de Santiago de Compostela.
  • Igreja de São Simão É uma das mais antigas Igrejas do Sardoal, havendo registo que já existira no século XVI na localidade outrora conhecida por Alferrarede e hoje São Simão.
  • Capela do Espírito Santo Esta é a única capela do Sardoal que está aberta permanentemente, muito ligada às Festas do Espírito Santo ou do Bodo, com grande tradição no Sardoal, pelo menos desde o século XV. A capela é do século XVI.
  • Capela de Nossa Senhora da Lapa Em Cabeça de Mós, esta é uma capela em propriedade privada, mas com uma linda envolvente junto às margens da ribeira de Arecês. O templo foi construído no século XVII, mas já aí havia um culto mariano. Para visitar é necessário contactar o proprietário.

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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