Um local fresco e verdejante antes do incêndio

As águas do rio Tejo até podem ser um pouco frias, mas isso é um detalhe quando cá fora as temperaturas facilmente ultrapassam os 40 graus durante o Verão. Situada na margem esquerda do Tejo, a calma das suas águas, apenas possível graças à localização entre duas barragens — a de Belver a jusante e a de Fratel a montante – convidam ao repouso e a tirar o máximo partido do sol que ainda resta. Reserva fluvial de tranquilidade para muitos que, mesmo depois dos incêndios, elegem o Alamal.

A estrada é estreita e sinuosa a descer de Gavião, situado no extremo do norte alentejano e o único concelho que abraça as duas margens do rio Tejo. A viagem pode ser feita de carro, de bicicleta ou mesmo a pé. Neste último caso leve roupas frescas e calçado confortável, porque a meio do percurso o corpo começa a pedir um mergulho. E uma garrafa de água. Pode não precisar dela na descida, mais rápida devido à inclinação apesar da visita exigir espíritos sem pressa, mas da subida não escapará.

A culpa é dos cerca de cinco quilómetros que tem de percorrer desde a vila até à praia fluvial do Alamal, que agora é uma mancha verde, em resistência, no meio de tons castanhos da terra enegrecida pelas chamas. Apesar dos incêndios de Agosto, um caminho que vale a pena porque à nossa espera (depois de passar o cruzamento que leva para Belver e Cadafaz) está uma vista deslumbrante sobre Belver na margem norte, que tem à beira rio a linha ferroviária da Beira Baixa.

Vista para Belver antes do incêndio

No topo de um escarpado penhasco sobre o Tejo, o velho castelo medieval, mandado construir no início do século XIII pelo rei D. Sancho I, permanece no seu posto de sentinela. O Castelo de Belver faz parte de um conjunto arquitectónico onde se inclui o Castelo de Almourol e o Castelo de Amieira Tejo que também é possível visitar; o primeiro no Ribatejo, e o segundo no concelho de Nisa.

Dos muros, que circundam a Quinta do Alamal, a vista sobre o rio é magnífica e revela um Alentejo encavalitado em abruptas encostas, longe das planuras que habitam lá mais para sul. Se é a sua primeira vez naquele lugar, vai observar a imponência e imaginar como será tudo aquilo pintado a verde.

Na antiga quinta, hoje transformada em centro balnear, existem várias zonas de descanso e tranquilidade para os períodos de maior calor, a fonte do Lagarto, uma fonte com água de nascente, trilhos para pequenas caminhadas, dois tanques de água e uma zona relvada para piqueniques.

Até ao incêndio a área verdejante envolvente possuía árvores frondosas. As madressilvas enleiavam-se pelos medronheiros, os cheiros da murta e dos lírios espalhavam-se pelos ares da manhã.

A praia é um recanto bucólico e tranquilo. Nesta imagem antes do fogo

O cenário e os odores agora são outros, contudo, os amieiros, os freixos e os salgueiros ainda se espelham nas águas do rio, que na Quinta contam com bandos de patos a fazer as delícias da pequenada, sempre à espera de umas migalhas de pão. Quanto ao restante arvoredo há que esperar um inverno generoso em chuva para repor o que o fogo queimou.

Lá em baixo, são poucos os chapéus de sol a colorir o areal porque os 12 colmos em dupla com espreguiçadeiras alugam-se a cinco euros por dia. A praia fluvial do Alamal oferece todas as comodidades de uma praia tradicional, constituída com areia, apoio de praia com casas-de-banho e duches, actividades náuticas – os banhistas têm à disposição gaivotas, caiaques, passeios de barco no rio e podem ainda praticar desportos mais radicais como o ski aquático -, uma zona de campismo, uma unidade de alojamento e nadador salvador no período de época balnear.

A utilização do espaço destinado ao campismo exige a obtenção prévia de credencial de autorização passada pelo município de Gavião, tal como a obrigatoriedade de apresentação deste documento ao nadador salvador que se encontra como responsável municipal pelo espaço. A autorização deverá ser solicitada através de requerimento próprio que poderá ser entregue no edifício da Câmara Municipal ou através de e-mail.

Praia Fluvial do Alamal antes do incêndio em Gavião

E para passeios no rio, canoas e cisnes para alugar a 10 euros à hora. Meia hora por seis. Padel por 15 euros os 60 minutos e um barco a motor custa 45 euros mas transporta 5 pessoas. Para estacionar a sua viatura encontra um parque gratuito logo ao lado do bar onde pode tomar um café, petiscar, almoçar ou jantar.

A 20 metros do areal situa-se o Alamal River Club, a unidade de alojamento constituída por um conjunto de três edifícios que oferecem 17 quartos a partir de 60 euros.

Se é amante de caminhadas tem vários percursos pedestres em que pode descobrir a extensão envolvente à praia fluvial. Infelizmente, até ser reparado, o passadiço de madeira que liga a zona balnear à ponte de Belver, de tabuleiro metálico, com 239 metros de comprimento, inaugurada em 1907, está inactivo. Parte do passadiço foi consumido pelo incêndio.

Canoas e cisnes para passeios no rio Teo

Quem sabe nos próximos meses já poderá percorrer um troço do vale do Tejo, que foi construído sempre junto à água, no meio da natureza. Este percurso é bastante fácil de fazer, não necessita preparação física nem equipamentos especiais. No entanto, deverá ter em atenção que não é acessível a pessoas com mobilidade reduzida com cadeiras de rodas, não obstante a praia ser para todos.

Disponibiliza por isso um acesso pedonal fácil e livre de obstáculos, a partir da via pública envolvente, bem como passadeiras sobre o areal e instalações sanitárias adaptadas.

Se quer envolver-se mais nas caminhadas ainda tem o percurso pedestre PR1. “Arribas do Tejo” é o nome que caracteriza o itinerário de pequena rota. Com dezassete quilómetros envolve duas travessias, nomeadamente a Barragem de Belver e a ponte de ferro da Estrada Nacional 244.

Velhas embarcações de pesca repousam nas águas

Se vier de Lisboa siga pela A23 e sai para a EN244 em direcção a Gavião e depois na rotunda vire à direita (tem indicação de praia fluvial).

Se optar por viajar sem pagar portagem siga em direcção a Coruche, depois em direcção à barragem de Montargil, Ponte de Sôr e Gavião pela EN224 e vire à esquerda na última rotunda à saída de Gavião. As Coordenadas GPS são: 39.488018, -7.967594.

 

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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