Foto: DR

Nos dias que correm, torna-se difícil para mim, escrever crónicas. Não pela falta de assunto, mas pela monopolização evidente do assunto. Todos temos opinião sobre tudo e somos, obviamente, especialistas no tema do momento. Envergonhado, assumo a minha ignorância. Assumo-a porque não embarco na radicalização da discussão que procura respostas para a culpa e que, de ataque em ataque, se afasta daquilo que realmente devia ser prioritário – salvar vidas.

Também tenho opinião e também acho que se têm cometido demasiados erros, mas não radicalizo o ataque apontando um único culpado, considerando antes que, num problema desta dimensão, para lá daquilo que não conseguimos controlar, a responsabilidade tem que ser solidária e repartida por todos.

Por nós, cidadãos anónimos, que somos responsáveis pela gestão irresponsável da nossa liberdade e pela prática reiterada da arte de fintar a lei.

Mas também por quem tem a responsabilidade de legislar sobre esta matéria, devido às falhas na comunicação, às incoerências não justificadas, à insuficiência na fiscalização e às exceções à lei que nos deixam na dúvida sobre se a lei não será ela a exceção.

Admito a dificuldade na gestão da incerteza, mas parece-me que a gravidade deste tema não se resolve com medidas populares ou populistas que adiam a solução, escancarando as portas da liberdade a quem não tem estado ao nível dessa responsabilidade.

A gravidade do momento exige um ataque enérgico e corajoso que combata, em simultâneo, o vírus e a liberdade individual irresponsável e egoísta, para começarmos a ter esperança numa solução. Exige um pacto de regime onde estejamos unidos na procura duma solução. E dispensa “fait-divers” que nos retirem o foco dessa solução.

Bem sei que os recursos são escassos, que a “bazuca” tarda em chegar e que as decisões analisam os impactos entre morrer da doença ou morrer da cura, mas se continuarmos a fingir que fazemos, deixando por fazer aquilo que deve ser feito, continuaremos, inevitável e angustiantemente, a morrer de ambos – da doença e da cura.

Discussões estéreis sobre responsabilidades ou sobre a culpa, demonstram uma irresponsabilidade que tenta esconder uma incapacidade. Nem todos os fins justificam os meios, mas há meios que permitem adiar muitos fins. E cada fim adiado, representa a vitória numa batalha que nos deixa com mais alento e esperança num triunfo nesta guerra.

Estamos ainda muito longe dessa vitória, mas quanto mais unidos estivermos, maior será a nossa capacidade de resistência. E aquilo que se pede a cada um de nós, é que tenhamos coragem e capacidade para resistir. Porque como em tudo, enquanto houver vida, haverá esperança. E então depois, para aqueles para quem houver depois, teremos todo o tempo do mundo para apurar os responsáveis pela culpa.

É gestor e trabalhar com pessoas, contribuir para o seu crescimento e levá-las a ultrapassar os limites que pensavam que tinham é a sua maior satisfação profissional. Gosta do equilíbrio entre a família como porto de abrigo e das “tempestades” saudáveis provocadas pelos convívios entre amigos. Adora o mar, principalmente no Inverno, que utiliza, sempre que possível, como profilaxia natural. Nos tempos livres gosta de “viajar” à boleia de um bom livro ou de um bom filme. Em síntese, adora desfrutar dos pequenos prazeres da vida.

Entre na conversa

1 Comentário

  1. Como cidadão, sei que tenho de fazer esforços, para que um dia consigamos sair desta bolha, não sabemos ainda quando, se é que isso voltará a ser possível, possamos andar na rua como antes o fazíamos, de forma segura, inclusiva, coesa, ética e com alegria.
    Sim alegria, um direito que pensávamos ser inalienável e que o coronavírus ainda ameaça querer manter em confinamento.
    É uma luta sem tréguas e sem piedade. Acredito que vamos vencer. Só não sei ainda a que preço.
    Mas, juntos, seremos capazes de desatar os nós de marinheiro que este vírus soube dar às nossas vidas e ao mundo que, há quase um ano, todos nós conhecíamos e que, sendo imperfeito, era melhor do que aquele em que de momento, estamos forçados a (sobre)viver.

    Excelente crónica lírica/ jornalística.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *