Nasceu faz este domingo, 25 de outubro, exatamente 100 anos. O centenário está a ser comemorado em comunhão com toda a vila de Minde. A Sociedade Musical Mindense mostra-se viva e quer que todos sintam a sua força e juventude. As gerações renovam-se, muitos ficam. O companheirismo e a partilha prendem alguns para sempre. É a música, afinal, que parece ter este condão de tocar na alma de um povo.
Resultado da união de vários pequenos grupos de bandas filarmónicas que existiriam em Minde, a Sociedade Musical Mindense possui hoje 60 elementos, com uma média de idades na casa dos 20 anos. Foi criada pela iniciativa de um conjunto de ilustres locais, que ajudaram posteriormente a manter a estrutura quando esta sentia dificuldades, como foi o caso de um presidente de junta, José António de Carvalho, ou o Padre Mário, presidente da instituição durante 50 anos.
Ao longo do último século existiram pequenas crises, que provocaram alguns momentos de inquietação na Banda, relacionadas com falta de equipamentos ou instrumentos. “Mas a Banda nunca parou”, relatam a presidente, Anabela Capaz, e a sua vice, Paula Vedor, sublinhando que a Filarmónica se manteve sempre em funções ao longo dos 100 anos que compõem a sua história.

Muitas figuras locais do último século fazem parte da longa lista de mindericos que por aqui passaram, aprendendo e executando os vários instrumentos da Banda Filarmónica. “Temos gerações de pais e filhos, irmãos. As famílias estão muito envolvidas, é uma das formas de manter viva a banda”, explica Paula Vedor. Até porque “é uma banda acarinhada por toda a população do concelho, que se revê” nela, continua Anabela Capaz, referindo que 99 por cento dos músicos que tocam na associação são naturais de Minde. “Assim como o Maestro”, ressalva.
O Centro de Formação, gratuito, é um dos motivos apontados para quase todos os elementos da Banda rondarem a casa dos 20 anos (o mais velho tem 83 e o elemento mais novo 11 anos) e existir ainda uma grande procura. Muitos desistem ou afastam-se com a entrada para a Universidade, mas as gerações têm-se renovado quase ao mesmo ritmo das saídas. “Este ano temos seis novos alunos a entrar na banda”, adianta Paula Vedor.

Esta pequena escola de música é da responsabilidade do Maestro João Carlos Chavinha Roque Gameiro, e de mais quatro professores, que dão formação musical e ensinam a tocar os vários instrumentos que completam o perfil de uma banda filarmónica (clarinetes, saxofones, metais percussão, etc). As aulas são em horário pós-escolar e a maioria dos jovens alunos fica apto a entrar na Banda ao fim de 2 a 3 anos de aprendizagem.
Músicos não faltam e, além da Banda principal, existe uma “Big Band”, ligada à música ligeira (vocacionada para festas) e uma “Dixie”, dirigida a espetáculos de rua, num estilo mais próximo do jazz. Há ainda uma Orquestra Juvenil, que integra os alunos mais novos da Sociedade Musical Mindense.
As duas dirigentes sublinham o “sacrifício e dedicação” necessários à manutenção de uma associação deste pendor. Para tal tem sido essencial o apoio da Câmara de Alcanena e da Junta de freguesia de Minde, que lhes têm sempre aberto as portas face a quaisquer necessidades. “Neste momento também é a única banda do concelho”, comenta Paula Vedor. Ainda assim, a associação aponta para a necessidade uma nova sede, uma vez que a existente começa a ser demasiado pequena para aulas e ensaios.
Neste domingo de centenário, o programa inclui o descerrar de uma placa comemorativa na sede, missa, desfile, concerto, fogo-de-artifício e um lanche para a toda a população de Minde. Durante o próximo ano, até outubro de 2016, está previsto o lançamento de um livro, missa cantada com o coro de Minde, workshops, e colaborações com Bandas Militares.
Crescer ao ritmo da Banda
Anabela Capaz tem na Sociedade Musical uma parte da sua identidade. Nela entrou com 12 anos, sendo então a primeira menina. Ainda hoje se lembra do serviço que estava a ser tocado em 1983, enquanto todas a olhavam com curiosidade. “Foi o instinto”, recorda. “Entrei por via do meu tio, que fazia parte da direção, e o meu pai também sabia música. Foi o Maestro que se calhar descobriu em mim o bichinho que me fez continuar. Não sei explicar”, confessa.
“O espaço que existe é tão genuíno, tão simples, que todos se sentem em família desde o primeiro momento”, refere hoje esta mulher com 43 anos, que não imagina as suas sextas-feiras sem o ensaio da Banda. “Há muitas pessoas que têm um hobbie, para mim é a Banda”, comenta, lembrando que chegou a pensar seguir música na universidade, tendo optado por outra área.
Outras histórias existem como esta, numa Banda que hoje já possui uma larga percentagem de mulheres. Ana Beatriz Menezes, 23 anos, é uma delas. A tirar o mestrado de ensino da Música, especialização em trompa, já toca como freelancer em várias bandas nacionais, incluindo oportunidades pontuais na Gulbenkian.
“Entrei na banda porque quis”, conta enquanto a Banda ensaia o grande concerto de domingo. Inicialmente tocava violino, mas “não há violino nas Bandas”. “Então o Maestro indicou-me a trompa, cujo gosto acabou por se sobrepor ao violino”. A ligação à trompa e à carreira na Música está muito ligada assim à Sociedade Musical. “Ajudou-me a descobrir a trompa. E foi a camaradagem e o tornar a música especial”, termina.
Para o Maestro, João Roque Gameiro, o centenário é o culminar “de um trabalho iniciado por gerações anteriores e que nunca parou”. “Umorgulho” para este profissional de 47 anos, cujo desafio próprio foi sempre o de elevar a potencialidade da Banda. Um dos seus sonhos passa por ter um artista português a cantar com a equipa. Quem?, perguntamos. Talvez Pedro Abrunhosa, revela.
“Minde é uma terra com muita tradição musical e é fácil ter aqui este núcleo de pessoas”, explica. Além do que atualmente as Filarmónicas são estruturas muito diferentes do que eram há uma ou duas décadas. “Há compositores a escrever de propósito para estas Bandas”, o que melhorou bastante o repertório. A formação de alunos permitiu ainda uma maior profissionalização dos músicos. “Houve um grande incremento, felizmente”.