Um projeto de biorrefinaria a instalar no concelho de Vila de Rei, num investimento inicial previsto de cerca de 10 milhões de euros e que será gerador de 10 postos de trabalho, foi submetido enquanto proposta ao abrigo do aviso 15/SI/2021 de Diversificação Económica para uma Transição Justa no Médio Tejo, do Fundo para uma Transição Justa. Segundo a proposta, esta biorrefinaria serviria a produção de hidrogénio e óleos essenciais a partir do processamento de resíduos florestais, pelo menos numa primeira fase. O tema esteve em reflexão na passada Assembleia Municipal, com a autarquia a crer que este investimento será uma “inovação” e “mais-valia” no território, integrando a estratégia de ordenamento da floresta e prevenção de fogos florestais, bem como a estratégia de descarbonização.
O aviso de concurso, que terminou em dezembro de 2021, referente à Diversificação Económica para uma Transição Justa no Médio Tejo (AVISO 15/SI/2021), dirigia-se a “investimentos que ajudem a enfrentar os desafios socioeconómicos decorrentes do encerramento da Central Termoelétrica a carvão do Pego”.
O objetivo passa por “apoiar projetos que estejam ligados à mobilidade sustentável, a energias limpas, à economia circular, à biotecnologia, entre outras, com vista à diversificação da atividade económica do Médio Tejo, e que permitam absorver os trabalhadores afetados, criar emprego ou até atrair outras pessoas para este território”.
Neste âmbito, duas empresas submeteram esta proposta em parceria com o Município de Vila de Rei. “Aguarda-se a avaliação da proposta, e caso mereça aprovação será objeto de uma candidatura”, explicou Paulo Brito, presidente da mesa de Assembleia Municipal.
As empresas envolvidas são a Limfoser – Limpezas Florestais da Sertã, Lda, com sede em Várzea dos Cavaleiros (Sertã) e a Synerglobal Forest Services, S.A., com sede em Vila Nova de Famalicão.
Segundo a documentação fornecida pela autarquia, o projeto assenta “numa iniciativa de jointventure (empreendimento conjunto) entre ambas as sociedades, as quais se inserem no mesmo setor de atividade”.
Ambas têm desenvolvido atividade no concelho, e dizem que “sentiram que sempre puderam contar com o incentivo e apoio da Câmara Municipal. Ora, foi também com base nesse apoio que delinearam a proposta submetida ao Fundo para uma Transição Justa”, pode ler-se.
Em resumo desta proposta, as empresas referem que “o projeto consiste na instalação de uma biorrefinaria capaz de produzir hidrogénio e óleos essenciais a partir do processamento de resíduos florestais”, sendo que o “investimento inicial” está projetado para cerca de 10 milhões de euros. Também se prevê gerar 10 empregos.

Esta biorrefinaria servirá de “complemento à exploração florestal, uma das atividades económicas relevantes para o concelho, valorizando-a e valorizando o território catapultando o concelho para o novo modelo económico baseado na dinâmica de descarbonização”, argumentam as empresas promotoras.
O tema mereceu reflexão por parte dos membros da Assembleia, com o deputado Miguel Jerónimo (PS) a colocar questões sobre o que se pretende especificamente, uma vez que se fala em produção de hidrogénio e de óleos essenciais. “Que passivos ambientais esse projeto pode criar, se está previsto e se já está contemplada a área de implementação dessa biorefinaria”, começou por questionar.
Noutro ponto, o deputado questionou sobre o facto de ser mencionado na informação das entidades promotoras que este projeto “catapulta o concelho para um novo modelo económico baseado na dinâmica de descarbonização”.
“Portanto isto, basicamente, aproveita desperdícios e resíduos da exploração florestal. A minha pergunta é, relativamente à fraca pujança do setor florestal no concelho, por determinados fatores como os incêndios florestais, e tendo em conta as dificuldades que já foram aqui faladas relativamente às Áreas Integradas de Gestão da Paisagem e do cadastro, se não estamos a criar uma indústria que depois depende de importações. Tudo o que seja exterior ao concelho. Falo do caso da Sertã, cujo setor florestal tem uma pujança muito maior, tem uma fábrica de paletes que tem que importar madeira para fabricar, porque o próprio concelho não produz o suficiente para alimentar essa indústria. Não estamos a dar o passo maior do que a perna? Este projeto consegue ter sucesso e eficácia no concelho? O que está previsto para que este projeto se torne possível?”, perguntou o socialista.
Ricardo Aires (PSD), presidente da Câmara de Vila de Rei, respondeu que o projeto, de momento, “tem uma finalidade” correspondendo ao trajeto que o concelho quer traçar para prevenção de grandes fogos florestais como os que têm assolado o território, e nomeadamente pela implementação da estratégia nacional com a constituição de AIGPs para modificação da paisagem e ordenamento florestal.

“Sabendo que a Central do Pego também iria acabar, e sabendo que existe um projeto-piloto na Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo no âmbito do hidrogénio, começámos a verificar que podia haver aqui uma perspetiva de inovação para o concelho. Adaptado ao concelho. Penso que vai ser uma mais-valia”, começou por indicar.
E acrescentou que “o grande valor nisto são os privados, que acreditaram no projeto e no Município de Vila de Rei. É um investimento privado sinalizado no Fundo de Transição Justa. Eu acredito neste projeto, espero que a transição justa não seja injusta para o nosso território”.
Por fim disse esperar que “depois haja outros instrumentos para os privados que querem investir”.
Na sessão interveio Paulo Brito, presidente da Assembleia Municipal, que é também investigador, docente e coordenador de organismos dedicados ao setor da energia, combustíveis alternativos, energias renováveis e valorização de recursos de biomassa.
Explicou que este projeto de biorrefinaria será adaptado aos recursos que existem no território do concelho, neste caso, à floresta e ao ordenamento da mesma, enquadrando-se no projeto de modificação da paisagem nacional.
ÁUDIO | Paulo Brito, presidente da Assembleia Municipal de Vila de Rei, também investigador no setor da energia, combustíveis alternativos e energias renováveis
“Vai procurar valorizar um conjunto de materiais, sejam residuais ou não. Essa valorização passa pela produção de óleos, que são altamente valorizados, quer óleo de eucalipto, quer de esteva, etc”, deu conta, frisando uma biorrefinaria que está a ser instalada em Alvaiázere e que segue um modelo idêntico com o do projeto apresentado para o município de Vila de Rei.

Com a biomassa sobrante, a aposta vira-se para a conversão em “gases renováveis, que possam ter interesse numa primeira fase como biocombustível, e que possam ser utilizados ou numa perspetiva de produção de hidrogénio ou de metano/biometano, e possam ser utilizados em mobilidade”, explicou o investigador.
Quanto à componente de energia térmica, espera-se que possa ser utilizado no município.
“Como ponto de partida, é uma biorrefinaria modular, com perspetiva de crescimento, mas que numa primeira fase seria quase para autoconsumo do próprio município, a lógica é essa, satisfazendo todas as necessidade energéticas”, concluiu.
O presidente da Assembleia Municipal crê, a par do autarca Ricardo Aires, que se trata de “uma ideia interessante para valorizar o concelho” – situação que Paulo Brito já havia abordado em entrevista publicada pelo mediotejo.net.