Foto: João Barata Veras

A zona balnear de Alverangel, junto à aldeia de Casalinho, no concelho de Tomar, é um dos locais aprazíveis para os veraneantes desfrutarem da albufeira de Castelo do Bode enquanto praia ou para prática de desportos náuticos. Porém, a afluência é muita e o problema reside na imensidão de lixo que ali é deixada e que se vai acumulando, tornando-se um problema de saúde pública.

Um grupo de voluntários chegou a arregaçar mangas a 14 de agosto e recolheu uma camioneta cheia de resíduos, mas ao que consta a falta de civismo prossegue. Sucede que esta não é uma praia oficial, arrastando-se há várias décadas litígios e discussões sobre o acesso ao local, pois os terrenos são propriedade privada e o tribunal decidiu que o acesso também o é.

O PSD trouxe o tema a debate em reunião de executivo, entendendo que a Câmara deveria intervir, nomeadamente colocando contentores e procedendo à recolha do lixo. A autarquia, por sua vez, recorda que, sendo terreno privado, nada pode fazer, estando nas mãos dos proprietários tomar medidas: promover a recolha do lixo ou vedar o acesso ao espaço.

Foto: João Barata Veras

O alerta veio de Luís Ramos (PSD) que aludiu a ação de grupo de voluntários que recolheu dezenas de quilos de lixo da zona balnear de Alverangel, na Albufeira de Castelo de Bode, sendo que é possível encontrar resíduos vários na entrada do caminho de acesso, com acumulação de sacos e lixo espalhado na envolvente, tratando-se até de um problema de saúde pública.

“O problema de acumulação de lixo nesta zona, bastante procurada nesta altura do ano, deve-se, por um lado, à falta de civismo por parte das pessoas que deixam lixo no local; e por outro lado, à falta de recolha. Já sabemos que não é uma competência da Câmara, e que o terreno é privado. Mas o facto é que o problema existe e o Município deveria intervir. Todos os anos existe este problema e há que tomar medidas”, começou por referir o vereador social democrata.

Luís Ramos relevou ainda o trabalho dos voluntários. “Honra seja feita ao grupo de voluntários que limpou aquele espaço”.

Foto: João Barata Veras

Já a presidente da Câmara de Tomar notou ser de facto “uma situação recorrente” a acontecer num terreno “privado, onde não há recolha de resíduos”, sendo algo que “se agrava há décadas”.

“Os donos do terreno, das duas uma: ou aceitam que as pessoas lá vão e criam condições para que as pessoas lá possam ir, e assumem os donos do terreno e contactam a entidade responsável pela recolha de resíduos e assumem o pagamento da mesma”, disse a presidente da Câmara, sublinhando que a entidade não pode entrar em terreno privado para recolha sem autorização. Outra solução é os proprietários vedarem o acesso ao espaço, diz a autarca Anabela Freitas. “É claramente algo do foro privado”, concluiu.

O vereador do PSD insistiu, perguntando se não seria possível chegar a acordo com o proprietário para colocação de contentores, para não continuar a proliferar o amontoado de lixo, deixando a recomendação/sugestão para que a Câmara ajude a encontrar solução.

Anabela Freitas disse que se trata de “uma recomendação válida”, mas que “se não houver disponibilidade por parte dos proprietários” não será possível.

Praia fluvial de Alverangel, em São Pedro de Tomar, é um dos pontos muito requisitados pelos veraneantes. Foto: mediotejo.net

A edil disse que os proprietários já foram contactados diversas vezes. “Pode ser que entretanto as coisas mudem”, aludiu.

Recorde-se que a praia de Alverangel tem estado envolta em diversos processos e polémica, que envolve inclusivamente processos em tribunal. A certa altura a Junta de freguesia de São Pedro de Tomar chegou a ser condenada a pagar uma indemnização aos donos do terreno, tendo o tribunal decidido que o acesso é privado. Há inclusive uma parte da comunidade de Casalinho que se tem batido por tornar o acesso público, pois o antigo caminho de Chãs da Conheira, nome pelo qual a zona também é conhecida, sempre serviu para aceder à faixa que é de domínio público na albufeira.

O vice-presidente da CM Tomar, Hugo Cristóvão, já havia explicado em entrevista ao mediotejo.net quando questionado sobre se haveria algum projeto para aquele espaço.

“Não há nenhum projeto a avançar devido a problemas antigos que têm andado em tribunal com a questão do caminho de acesso, que o tribunal determinou como sendo privado e a junta de freguesia chegou a ser condenada. Não vamos avançar com projeto para esta praia fluvial enquanto não estiver resolvida a questão do acesso”, assumiu na ocasião.

Provavelmente não será caso único, pois ao longo das últimas décadas tem-se verificado uma crescente privatização na envolvente da albufeira, algo que dificulta o acesso à margem, quer pela construção de edificados e muros, quer pela colocação de portões.

As populações têm ficado cada vez mais privadas de usufruir das águas do Zêzere, que atraem pessoas de todo o país, e que frequentam os diversos braços de Castelo de Bode durante o verão.

Joana Rita Santos

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *