A zona balnear de Alverangel, junto à aldeia de Casalinho, no concelho de Tomar, é um dos locais aprazíveis para os veraneantes desfrutarem da albufeira de Castelo do Bode enquanto praia ou para prática de desportos náuticos. Porém, a afluência é muita e o problema reside na imensidão de lixo que ali é deixada e que se vai acumulando, tornando-se um problema de saúde pública.
Um grupo de voluntários chegou a arregaçar mangas a 14 de agosto e recolheu uma camioneta cheia de resíduos, mas ao que consta a falta de civismo prossegue. Sucede que esta não é uma praia oficial, arrastando-se há várias décadas litígios e discussões sobre o acesso ao local, pois os terrenos são propriedade privada e o tribunal decidiu que o acesso também o é.
O PSD trouxe o tema a debate em reunião de executivo, entendendo que a Câmara deveria intervir, nomeadamente colocando contentores e procedendo à recolha do lixo. A autarquia, por sua vez, recorda que, sendo terreno privado, nada pode fazer, estando nas mãos dos proprietários tomar medidas: promover a recolha do lixo ou vedar o acesso ao espaço.

O alerta veio de Luís Ramos (PSD) que aludiu a ação de grupo de voluntários que recolheu dezenas de quilos de lixo da zona balnear de Alverangel, na Albufeira de Castelo de Bode, sendo que é possível encontrar resíduos vários na entrada do caminho de acesso, com acumulação de sacos e lixo espalhado na envolvente, tratando-se até de um problema de saúde pública.
“O problema de acumulação de lixo nesta zona, bastante procurada nesta altura do ano, deve-se, por um lado, à falta de civismo por parte das pessoas que deixam lixo no local; e por outro lado, à falta de recolha. Já sabemos que não é uma competência da Câmara, e que o terreno é privado. Mas o facto é que o problema existe e o Município deveria intervir. Todos os anos existe este problema e há que tomar medidas”, começou por referir o vereador social democrata.
Luís Ramos relevou ainda o trabalho dos voluntários. “Honra seja feita ao grupo de voluntários que limpou aquele espaço”.

Já a presidente da Câmara de Tomar notou ser de facto “uma situação recorrente” a acontecer num terreno “privado, onde não há recolha de resíduos”, sendo algo que “se agrava há décadas”.
“Os donos do terreno, das duas uma: ou aceitam que as pessoas lá vão e criam condições para que as pessoas lá possam ir, e assumem os donos do terreno e contactam a entidade responsável pela recolha de resíduos e assumem o pagamento da mesma”, disse a presidente da Câmara, sublinhando que a entidade não pode entrar em terreno privado para recolha sem autorização. Outra solução é os proprietários vedarem o acesso ao espaço, diz a autarca Anabela Freitas. “É claramente algo do foro privado”, concluiu.
O vereador do PSD insistiu, perguntando se não seria possível chegar a acordo com o proprietário para colocação de contentores, para não continuar a proliferar o amontoado de lixo, deixando a recomendação/sugestão para que a Câmara ajude a encontrar solução.
Anabela Freitas disse que se trata de “uma recomendação válida”, mas que “se não houver disponibilidade por parte dos proprietários” não será possível.

A edil disse que os proprietários já foram contactados diversas vezes. “Pode ser que entretanto as coisas mudem”, aludiu.
Recorde-se que a praia de Alverangel tem estado envolta em diversos processos e polémica, que envolve inclusivamente processos em tribunal. A certa altura a Junta de freguesia de São Pedro de Tomar chegou a ser condenada a pagar uma indemnização aos donos do terreno, tendo o tribunal decidido que o acesso é privado. Há inclusive uma parte da comunidade de Casalinho que se tem batido por tornar o acesso público, pois o antigo caminho de Chãs da Conheira, nome pelo qual a zona também é conhecida, sempre serviu para aceder à faixa que é de domínio público na albufeira.
O vice-presidente da CM Tomar, Hugo Cristóvão, já havia explicado em entrevista ao mediotejo.net quando questionado sobre se haveria algum projeto para aquele espaço.
“Não há nenhum projeto a avançar devido a problemas antigos que têm andado em tribunal com a questão do caminho de acesso, que o tribunal determinou como sendo privado e a junta de freguesia chegou a ser condenada. Não vamos avançar com projeto para esta praia fluvial enquanto não estiver resolvida a questão do acesso”, assumiu na ocasião.
Provavelmente não será caso único, pois ao longo das últimas décadas tem-se verificado uma crescente privatização na envolvente da albufeira, algo que dificulta o acesso à margem, quer pela construção de edificados e muros, quer pela colocação de portões.
As populações têm ficado cada vez mais privadas de usufruir das águas do Zêzere, que atraem pessoas de todo o país, e que frequentam os diversos braços de Castelo de Bode durante o verão.