Manuel João Vieira arranca pré-campanha no Tramagal com vinho canalizado e Ferraris no sapatinho. Foto: mediotejo.net

Manuel João Vieira escolheu a Feira de Natal do Tramagal, no concelho de Abrantes, para dar início à sua pré-campanha à Presidência da República. Longe das grandes cidades e mais perto dos feirantes, populares e curiosos, o candidato surgiu como gosta: descontraído, provocador e fiel ao seu estilo entre o sério e o absurdo.

A escolha do Tramagal não foi ao acaso. Para Vieira, Portugal sofre de “congestionamento” nas grandes cidades e precisa urgentemente de deslocar o seu centro de gravidade. “Acho que devíamos deslocar o centro de Portugal para o seu centro”, afirmou, defendendo o interior como espaço de futuro, ambição e reencontro com o país real.

O músico e artista plástico explicou ainda que já conhecia o Tramagal de atuações anteriores e que ficou marcado pela forma como foi recebido. “Achei especialmente receptiva a população aqui”, disse, deixando uma “mensagem de esperança” e apresentando-se como mais uma alternativa possível numa corrida presidencial marcada pela fragmentação e pelo excesso de candidatos.

Entre as propostas que já se tornaram imagem de marca, o vinho canalizado voltou a estar em destaque — desta vez com sabor local. Questionado sobre a possibilidade de o néctar chegar às casas da região a partir da Coelheira, Vieira foi claro: “O vinho será sempre vinho local”. No Minho, vinho verde; no Ribatejo, vinho da terra. “Nesta região, será o vinho local”, garantiu.

Ferraris para todos os portugueses, patinadoras, felicidade distribuída em larga escala e uma boa dose de imaginação fazem parte do pacote. Promessas que, segundo o candidato, são simultaneamente exequíveis e críticas ao discurso político tradicional. “Vamos tentar fazer. Vamos tentar encomendar”, disse, assumindo que pode parecer uma maluquice, mas defendendo que “os portugueses merecem mais”.

Assumidamente fora dos rótulos habituais da política, Manuel João Vieira define-se como “uma espécie de Pai Natal, mas da política”, vindo de outro mundo e com critérios próprios. “Os meus critérios políticos não têm a ver com os critérios políticos habituais dos partidos portugueses”, explicou, enquanto a feira seguia o seu ritmo natalício.

Sobre a posição no boletim de voto, onde surge em quinto lugar, mostrou-se despreocupado. “As pessoas são suficientemente inteligentes para encontrar aquilo que procuram”, disse, recusando também fazer previsões sobre adversários ou segundas voltas. “Previsões só depois do jogo”, atirou.

Manuel João Vieira arranca pré-campanha no Tramagal com vinho canalizado e Ferraris no sapatinho. Foto: mediotejo.net

Candidato pela quinta vez a Belém, Manuel João Vieira garante que só desiste se for eleito. O objetivo, diz, é simples e ambicioso: mostrar que é possível fazer mais, pensar fora do quadrado e devolver a Portugal a vontade de ser um país grande. “Portugal pode ser um país com ambições outra vez”, concluiu, entre sorrisos, curiosos e o espírito natalício do Tramagal.

Manuel João Vieira, entre o irracional e o sério a expor “o absurdo da política”

O músico e artista plástico Manuel João Vieira anunciou pela quinta vez a candidatura à Presidência da República, com as habituais propostas surrealistas para expor o “absurdo da política”, e justificou a decisão com o “crescimento do fascismo”.

Figura conhecida do entretenimento há várias décadas, nasceu em 1962, em Lisboa, estudou Ilustração na Fundação Calouste Gulbenkian e licenciou-se na Faculdade de Belas Artes de Lisboa em 1988, seguindo o exemplo do pai, o pintor João Rodrigues Vieira.

O músico, pintor e professor foi líder dos Ena Pá 2000, banda caracterizada pelo humor absurdo (‘nonsense’) e por vezes pornográfico das suas letras, bem como dos Corações de Atum e dos Irmãos Catita, tendo criado e representado várias personagens em palco, como Lello Universal, Lello Minsk, Lello Marmelo, Élvis Ramalho, Orgasmo Carlos, Catita, entre outros.

Em 2008, Filipe Melo e João Leitão criaram uma série de seis episódios inspirada no mundo e nas personagens inventadas por Manuel João Vieira, intitulada “Um Mundo Catita”.

Entre o absurdo e o sério, nota-se-lhe a crítica além do ‘nonsense’, tendo defendido na sua última candidatura à Presidência que a política e a arte deviam estar mais unidas e que é preciso desconstruir “as frases absurdas da política”.

Insistindo na promessa de “só desistir se for eleito”, entre as propostas que apresenta – umas novas, outras repetidas de candidaturas anteriores – Vieira promete vinho canalizado em todas as casas e fontes de bagaço nas ruas, patinadoras russas para todos os homens, dançarinos cubanos para todas as mulheres e um Ferrari para cada português.

Relativamente à imigração, um dos alvos do discurso da extrema-direita, Manuel João Vieira propõe tratamentos para clarear a pele das pessoas mais escuras e escurecer a das pessoas mais claras, para uniformizar o tom de pele de todos os que vivem em Portugal.

A sua candidatura, “Candidato Vieira”, reuniu 12.500 assinaturas entregues no Tribunal Constitucional, um número acima do mínimo exigido de 7.500.

Manuel João Vieira tinha já anunciado candidaturas às eleições presidenciais de 2001, 2006, 2011 e 2016.

As eleições presidenciais estão marcadas para 18 de janeiro, com 14 candidatos e um acréscimo de mais 103 mil eleitores inscritos relativamente há cinco anos. Mais de 10,9 milhões de eleitores residentes em território nacional e no estrangeiro serão chamados a votar para escolher o próximo Presidente da República que irá suceder no cargo a Marcelo Rebelo de Sousa, que atingiu o limite de mandatos.

c/LUSA

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

Estudante de Comunicação Social. Desde muito nova percebeu que gosta de comunicar, ouvir e conversar com o outro. É fascinada por conhecer histórias de vida e acompanhar de perto novos projetos.

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