“Construir Sorrisos” une comunidade para apoiar crianças no Natal em Abrantes. Foto ilustrativa: Unsplash

O “Projeto de Apadrinhamento – Construir Sorrisos” nasceu dentro da Associação Vidas Cruzadas, em Abrantes, mas depressa ultrapassou as fronteiras da instituição. Hoje, é uma iniciativa comunitária alargada, sustentada por uma parceria entre várias entidades do concelho de Abrantes que, em conjunto, procuram responder a necessidades concretas de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.

Vânia Grácio, presidente da direção da Associação Vidas Cruzadas, deu a conhecer o projeto durante as Jornadas do Voluntariado, que decorreram em Abrantes, tendo frisado o percurso do projeto e o papel de todos os que o têm construído.

A iniciativa teve o seu ponto de partida no “Projeto André”, que surgiu praticamente ao mesmo tempo que a própria associação. A ideia era simples: criar uma base de dados de padrinhos e madrinhas disponíveis para apoiar necessidades pontuais de crianças acompanhadas.

Foto: DR

“Passava essencialmente por ter uma base de dados de padrinhos e madrinhas que se disponibilizassem a apadrinhar situações concretas que nos surgissem no acompanhamento das situações que a associação tivesse”, explicou Vânia Grácio.

“Falamos de situações como uma criança precisar de frequentar uma atividade e os pais não terem possibilidade de pagar, uns óculos, qualquer artigo necessário e a que a família não conseguisse dar resposta.”

Em 2013, a dinâmica alterou-se com a criação da PIIPCCA – Parceria para a Intervenção Integrada na Proteção da Criança, uma estrutura informal que reúne mensalmente vários serviços da área da infância e juventude.

ÁUDIO | Vânia Grácio, em declarações ao mediotejo.net

Além da discussão de casos e articulação entre serviços, a parceria promove campanhas de sensibilização, sobretudo no mês da prevenção dos maus-tratos na infância. Foi deste trabalho conjunto que, em 2018, nasceu o “Construir Sorrisos”.

Vânia Grácio. Foto: mediotejo.net

Pedidos numerados, padrinhos atentos e uma comunidade mobilizada

O funcionamento assenta numa página no Facebook onde são publicados pedidos numerados feitos por crianças, maioritariamente no Natal e no regresso às aulas. “As crianças na altura do Natal escrevem o seu pedido ao Pai Natal. As que não conseguem escrever fazem um desenho. Depois ocultamos a identificação, publicamos o pedido e as madrinhas e padrinhos escolhem qual querem apadrinhar.”

Os presentes são entregues na sede da Vidas Cruzadas, que os encaminha para os parceiros responsáveis por chegar às crianças. Vânia Grácio sublinha que, apesar de a página não ter muitos seguidores, o impacto fala por si.

Foto: DR

“Nós recebemos constantemente mensagens a perguntar: ‘Então quando é que começa a campanha deste ano?’ E assim que publicamos os pedidos das crianças, muito rapidamente conseguimos apadrinhar todas e mais fossem”, refere.

“A campanha deste ano de Natal foi completamente apadrinhada em menos de uma hora”, destacou. “São coisas simples, claro que nós fazemos alguma triagem, algum trabalho também com as famílias para que os pedidos sejam feitos de uma forma que possam ser rapidamente apadrinhados”.

“Desde 2018 para cá, que começámos com a iniciativa, já apadrinhámos cerca de 800 crianças. É um número bastante significativo, que é a prova de que a nossa comunidade também se sente responsável por contribuir de alguma forma para o bem-estar das crianças.”

Para Vânia Grácio, o valor do projeto está muito para além dos presentes: é um exercício comunitário que educa, responsabiliza e aproxima.

Vânia Grácio, presidente da direção da Associação Vidas Cruzadas. Foto: mediotejo.net

“Acabamos por nos responsabilizar todos um pouco por fazer parte da comunidade e apoiar o nosso vizinho do lado”, afirmou. Entre as mais-valias, destaca “o desenvolvimento do espírito de solidariedade” e a transmissão de valores às crianças das famílias que apadrinham.

“Muitos pais levam os filhos para serem eles a entregar o presente, para perceberem que há alguém que tem um pouco menos. É também passar essa mensagem aos filhos.”

Vânia Grácio sublinhou que, ao longo dos anos, o projeto tem revelado muito mais do que simples pedidos de presentes. “As crianças, quando escrevem a carta ao Pai Natal, não fazem só pedidos de presentes”, revelando que muitas vezes surgem “outros pedidos escondidos de alguma situação familiar mais delicada que tenham e que partilham”.

Segundo a responsável, estas mensagens chegam com a consciência de quem as lê: “fazem-nos pedidos diretamente porque sabem quem é que vai ler as cartas”, admitindo que existem situações que emocionam particularmente a equipa. “Há algumas situações que nos tocam de uma forma mais especial e que tentamos também depois dar resposta”.

Foto ilustrativa: Unsplash

Com um trabalho que começou pequeno, cresceu em parceria e hoje mobiliza centenas de pessoas, o “Construir Sorrisos” cumpre o nome: aproxima a comunidade e ajuda a garantir que nenhuma criança fica esquecida.

Quanto ao futuro do “Construir Sorrisos”, Vânia Grácio admitiu que a iniciativa deverá continuar a crescer, acompanhando a resposta solidária da população. Recordou que “todos os anos temos vindo a acrescentar o número de crianças” e que a intenção é “manter”, ajustando o projeto ao que a comunidade permite.

O número de pedidos aumenta “consoante também temos resposta da comunidade para esses pedidos” e, com a mobilização crescente dos abrantinos, antecipou que o desafio poderá tornar-se maior futuramente: “como temos tido bastante adesão da parte da comunidade, é provável também que os pedidos venham a ser mais”, concluiu.

Mestre em Jornalismo e apaixonada pela escrita e pelas letras. Cedo descobriu no Jornalismo a sua grande paixão.

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